Na beira do acostamento, a menos de 20 metros do ponto de �nibus do outro lado da BR-040, um grupo de trabalhadores de camisas azuis ensaia v�rias vezes a travessia, mas recua na �ltima hora com a passagem de carretas em alta velocidade. O ru�do alto dos pneus e as cruzes de madeira fincadas no mato intimidam quem perde a paci�ncia e pensa em cruzar a via no meio dos ve�culos. “Precisamos com urg�ncia de uma passarela. Faz pouco mais de um ano (19 de junho de 2012) que minha vizinha, Maria de Firmino da Silva, de 25 anos, morreu atropelada. Um carro ultrapassou outro, que reduziu por causa do radar, e a pegou”, conta o apontador Jorge C�ndido Batista, de 22, um dos oper�rios de camisa azul que se arrisca todos os dias ao sair do distrito de Pires, em Congonhas do Campo, a 89 quil�metros de BH, para pegar um �nibus. A indigna��o dos moradores da comunidade culminou com o bloqueio da rodovia em 3 de julho, por mais de nove horas, durante as manifesta��es ocorridas em meio � Copa das Confedera��es. Um carro tentou furar o bloqueio e foi incendiado. Mas, como ocorreu com a maioria das manifesta��es em Minas Gerais, a solu��o para esse problema ainda figura no campo das promessas.
A reportagem do Estado de Minas relacionou as reivindica��es de moradores de �reas sem infraestrutura e de usu�rios insatisfeitos com transporte, sa�de e educa��o em 15 cidades onde foi necess�ria negocia��o com o poder p�blico (Belo Horizonte, Betim, Congonhas do Campo, Contagem, Divin�polis, Esmeraldas, Juiz de Fora, Manhua�u, Mateus Leme, Ribeir�o das Neves, Sabar�, Santa Luzia, S�o Joaquim de Bicas, Vespasiano e Vi�osa), montando uma lista com as 34 exig�ncias que os manifestantes apresentaram aos gestores p�blicos e prestadoras de servi�os, como as empresas de �nibus. Dessas, a maior parte ainda � promessa, somando 11 (32%) solicita��es. Compromissos futuros, alguns com previs�o de cumprimento, outros dependendo de aprova��es de leis no Congresso, na Assembleia Legislativa (ALMG) ou em programas de governo com linhas de financiamento p�blico.
O restante das demandas se divide entre sete pedidos que foram atendidos, seis ainda em an�lise, cinco em cumprimento e o mesmo n�mero de propostas recha�adas por justificativas diversas, como falta de necessidade ou de viabilidade. No caso de Congonhas, negociadores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) se comprometeram a erguer uma passarela provis�ria at� que uma obra definitiva fosse projetada, mas at� agora os moradores afirmam que nem sequer as medi��es foram feitas.
Asfaltar vias, criar redes de drenagem, coletar esgoto, instalar pontos de �nibus e iluminar as ruas est�o entre as promessas feitas ante a press�o dos manifestantes que queimaram pneus e interromperam o tr�fego de rodovias da Grande BH, provocando quil�metros de engarrafamentos. E foi por isso que os moradores do Bairro Santana 2, em Ribeir�o das Neves, engrossaram os protestos na BR-040. As ruas de terra batida n�o t�m esgoto canalizado, a coleta � irregular e para sair de casa os moradores tiveram de construir pinguelas toscas de madeira que acabam levadas pelas enxurradas. “N�o veio ningu�m da prefeitura aqui fazer nada. A coleta de lixo continua falha, com animais mortos fedendo e trazendo mais bichos para dentro das nossas casas. O esgoto na porta da gente corre dentro do c�rrego e traz mau cheiro e doen�as”, reclama a dona de casa Nice das Dores Silva, de 30 anos.
Condi��o decente
M�e de seis filhos, um deles com sete meses de vida, Nice diz ter sido duro ver as crian�as adoecendo com o tempo, sem poder fazer nada por elas. “� uma tristeza essa condi��o nossa aqui. Todos os meus filhos pegaram doen�as de pele, micoses e feridas. � imposs�vel tirar eles de perto dessa �gua podre. Quando chove a �gua entra em casa, acaba com os mantimentos e m�veis da gente”, lamenta Nice. “J� pensei at� em me mudar, mas com o que valem esses nossos barracos aqui n�o d� para comprar nada. A gente fica revoltada, esperando que se tomem provid�ncias para ter uma condi��o decente de vida”, disse a tamb�m moradora do Santana 2, Mariana Soares, de 24, m�e de dois filhos, de 4 anos e de 1 ano e meio.
A situa��o prec�ria no Bairro Tup�, em Contagem, ficou evidente em 1º de julho, quando cerca de 400 pessoas foram � LMG-808, altura do km 5, no Bairro Darcy Ribeiro, para exigir melhorias. O esgoto da comunidade corre a c�u aberto, cruzando praticamente todas as ruas da regi�o e at� cerca a �nica escola municipal existente. Asfalto, drenagem e ilumina��o eficientes ainda s�o promessas no Jardim Daliana, em Vespasiano, onde manifestantes fecharam a MG-010 e a MG-424, e no Novo Retiro, em Esmeraldas, que teve bloqueios por protestos na LMG-808. Por causa da falta de pavimenta��o, as ruas de terra se transformam em nuvens de poeira no tempo seco e em lama�ais pelos quais os ve�culos n�o conseguem atravessar durante o tempo chuvoso. Embarcar para pegar �nibus � ficar exposto ao p� e ao tempo, j� que os abrigos s�o velhos e ineficientes.
Outra morte na BR-040
No in�cio da noite de ontem, uma pessoa morreu atropelada no km 602 da BR-040, no Bairro Pires, em Congonhas. Indignados, moradores bloquearam a estrada nos dois sentidos e fizeram uma barricada com pneus, protestando contra a falta de seguran�a para os pedestres no trecho. O local foi palco de v�rios protestos em junho e julho, com os manifestantes exigindo a constru��o de uma passarela.
