Sandra Kiefer

A dor da perda, a burocracia e os gastos n�o s�o os �nicos problemas enfrentados por parte das fam�lias de mineiros que morreram no exterior. A dificuldade de cobrar investiga��o e puni��o tamb�m pode ser um tormento. A morte de dois especialistas em constru��o de hidrel�tricas, enviados a trabalho ao Peru por uma empresa de engenharia de Minas Gerais, permanece em aberto desde 2011. At� hoje, os familiares do engenheiro M�rio Augusto Soares Bittencourt, ent�o com 61 anos, e do ge�logo M�rio Gramani Guedes, de 57 anos, de origem paulistana mas radicado em Uberl�ndia, n�o sabem ao certo nem a causa da morte dos dois, encontrados mortos na selva peruana em 25 de julho de 2011.
“Sinto que n�o enterrei meu marido. At� hoje, n�o sei dizer sequer como foi que o M�rio morreu. S� sei que ele estava vivo, viajou a trabalho para o Peru e sumiu. Como vou tocar minha vida com esta inc�gnita? � revoltante”, diz, em prantos, a vi�va F�tima Bittencourt, de 45 anos. Ela divide o sofrimento com a sogra, Z�lia Bittencourt, e tenta ficar de p� para apoiar os filhos. A mais velha se casar� ano que vem e o garoto, que leva o mesmo nome do pai, viajou em interc�mbio de um ano para a Austr�lia.
Nem mesmo agindo juntas, as duas fam�lias n�o conseguiram for�ar as autoridades a se empenhar na investiga��o do duplo assassinato. A apura��o ainda est� em aberto, com tend�ncia da pol�cia peruana de apontar causa natural. “Parece que existe interesse em abafar o caso, pois as comunidades ind�genas peruanas eram contr�rias ao alagamento da floresta para a constru��o de uma s�rie de barragens no Peru para o fornecimento de energia el�trica, j� acertadas entre os governos brasileiro e peruano”, afirma F�tima.
Batalha F�tima e Liliana Guedes, vi�va de M�rio Guedes, listaram todas as provid�ncias tomadas na tentativa de desvendar o suposto assassinato, o que incluiu pagamento de advogados no Brasil e em territ�rio peruano, idas ao local do crime, frequentes interurbanos, negocia��es junto �s embaixadas no Brasil e no Peru, pedidos de interven��o junto a organismos internacionais e a pol�ticos influentes. No Dia das M�es do ano passado, Z�lia Bittencourt fez um apelo por escrito � presidente Dilma Rousseff, que acabara de ganhar uma neta da filha, Paula. Em troca, recebeu apenas respostas protocolares e nenhuma a��o efetiva.
“Estou na fase de fazer as pazes com Deus. Conto com a ajuda da minha sogra, que � muito cat�lica, mas n�o entendo por que Ele fez isso com o M�rio, que rezava todos os dias antes de sair de casa e antes de dormir”, desabafa F�tima. Ela revela que, desde o desaparecimento do marido, n�o conseguiu retornar � fazenda onde recebeu a not�cia, olhar os porta-retratos nem ouvir a cole��o dos discos dos Beatles, especialmente a can��o de que ele mais gostava de cantarolar: Let it be.
