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Estado de Minas

Arquivamento de investiga��o sobre mortes de engenheiros no Peru revolta parentes

Autoridades peruanas arquivam sem conclus�es inqu�rito que apurava circunst�ncias em que morreram engenheiro mineiro e ge�logo paulista. Situa��o revolta as duas fam�lias


postado em 25/06/2015 06:00 / atualizado em 25/06/2015 08:28

"Ainda preservo o lado da cama onde ele dormia. Agora, j� consigo olhar para o lado, mas evito. Quando acordo, prefiro levantar r�pido para n�o come�ar a pensar em como ele morreu, se ficou agoniado, se teve tempo de pensar na gente antes de ir embora" - F�tima Bittencourt, vi�va do engenheiro M�rio Bittencourt (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)


Passados quase quatro anos das mortes misteriosas do engenheiro mineiro M�rio Augusto Soares Bittencourt, aos 61 anos, e do ge�logo paulista M�rio Gramani Guedes, aos 57, na Amaz�nia peruana, as perguntas sobre as circunst�ncias do epis�dio, ocorrido em 26 de julho de 2011, permanecem sem respostas. As vi�vas F�tima Bittencourt e Liliana Guedes sofrem e se revoltam com a falta do desfecho do caso, arquivado pela pol�cia local sem apontar respons�veis e sequer explicar como morreram os brasileiros.

“Meu cora��o s� vai se acalmar no dia em que eu souber como tudo aconteceu,  e se houve justi�a. � revoltante pensar que meu marido morreu de forma est�pida, e sem explica��o, e que os assassinos v�o sair impunes”, lamenta F�tima, que perdeu o companheiro seis meses antes de comemorar bodas de prata. Depois da morte, ela mandou confeccionar a alian�a dupla do casal, ligada por um fio de prata, que nunca tirou da m�o esquerda. Ela ainda n�o se desfez das roupas do marido, nem mexeu na escrivaninha ao lado da cama. Deixou no mesmo lugar o extrato banc�rio, o convite de uma exposi��o de artes, a B�blia e os folhetos da viagem para o Peru.

 Apesar da dor latente, F�tima tenta se convencer que j� “melhorou” em rela��o � enorme tristeza que sentia logo ap�s a separa��o for�ada do engenheiro. “Ainda preservo o lado da cama onde ele dormia. Antes, virava para a parede para n�o sentir o vazio. Agora, j� consigo olhar para o lado, mas evito. Quando acordo, prefiro levantar r�pido, para n�o come�ar a pensar em como ele morreu, se ficou agoniado, se teve tempo de pensar na gente antes de ir embora. Acho que sim, porque o Mario sempre pensava na fam�lia”, revela a vi�va, que vem distraindo a cabe�a com a organiza��o do casamento da filha, que ocorrer� em poucos dias.

APELOS “Recebi a c�pia do inqu�rito policial e joguei l� em cima do guarda-roupas, no maleiro. Fiquei apavorada ao ver as fotos da per�cia, com meu marido morto”, conta Liliana Guedes, vi�va de M�rio Guedes. Por tr�s vezes, ela e F�tima interferiram pela prorroga��o do caso, pedindo mais tempo para apurar as circunst�ncias do crime. Chegaram a contratar advogados no Peru, a viajar ao pa�s vizinho e a implorar a intermedia��o dos contatos pela Embaixada do Brasil naquele pa�s. “O inqu�rito est� arquivado, at� que haja novos elementos que permitam reabri-lo”, informou ontem, por telefone, Cesar Terrones, da Fiscal�a de Lima, misto de promotoria e delegacia de pol�cia da capital, encarregada de investigar o caso no Peru.

At� hoje n�o saiu sequer o laudo do Instituto M�dico-Legal no Peru, que chegou a resultados inconclusivos. Entre as hip�teses para a morte dos brasileiros, simultaneamente, durante prospec��o para erguer uma usina hidrel�trica na Amaz�nia peruana, contrariando interesses das comunidades locais, est�o envenenamento, sufocamento, hipotermia e at� a morte por causas naturais. Na p�gina da Embaixada Brasileira no Peru, h� destaque para os 10 anos de parceria entre Brasil e Peru, que resultou na constru��o da hidrel�trica em Ja�n, a 600 quil�metros de Lima. A obra foi assumida por outra construtora depois das mortes. A Leme Engenharia concordou em pagar indeniza��es �s fam�lias, estipuladas pela Justi�a com cl�usula de confidencialidade em rela��o ao valor.

“A verdade � que n�o conseguimos colocar uma pedra sobre o caso. Precisamos ficar de p�, mas arrastando atr�s a enorme pedra, que representa o peso da impunidade. Vejo outras vi�vas que perderam o marido por doen�a ou fatalidade, mas n�o dessa maneira, em uma hist�ria atrapalhada e que n�o teve ponto final”, compara Liliana, que decidiu continuar morando em Uberl�ndia, no Tri�ngulo Mineiro, apesar de ser natural de S�o Paulo. A filha mora em Natal (RN) e o filho recebeu convite para trabalhar na capital paulistana. “Eu e a F�tima ficamos s�s, com nossos cachorros”, completa a vi�va, que adotou o vira-latas Marrom, acolhido em casa por ela.

UM ENREDO SEM DESFECHO

Confira como foram as circunst�ncias das mortes dos brasileiros e o andamento das investiga��es, que n�o chegaram a qualquer conclus�o


  • O engenheiro mineiro M�rio Augusto Soares Bittencourt, de 61 anos, e o ge�logo paulista M�rio Gramani Guedes, de 57, viajaram para o Peru para fazer estudos de viabilidade para a constru��o de uma usina hidrel�trica na floresta amaz�nica peruana, na cidade de Pi�n, ao Norte do pa�s. Eles trabalhavam para a Leme Engenharia, que firmou parceria com a empresa peruana SZ Engenharia para desenvolver o trabalho.
  • Segundo dois peruanos que acompanhavam os brasileiros, em 25 de julho de 2011, o engenheiro M�rio Bittencourt sentiu dores no joelho depois de 2 horas e 30 minutos de caminhada e se afastou do grupo. De acordo com o relato, Guedes e os dois engenheiros peruanos, ao retornar, j� n�o o encontraram mais.
  • Os peruanos afirmaram que o ge�logo paulista decidiu ficar � beira da estrada, esperando que eles descessem at� o rio para fotografar. Ainda em depoimento, os funcion�rios da empresa peruana asseguraram que n�o encontraram Guedes ao voltar para a estrada principal.
  • Os corpos dos brasileiros foram encontrados dois dias depois, distantes cerca de 200 metros um do outro. Nada foi
    (foto: Arte EM)
    (foto: Arte EM)
    roubado e n�o havia marcas de viol�ncia, segundo a pol�cia. A Embaixada Brasileira chegou a cogitar que os dois pudessem ter passado mal devido a rem�dios para press�o, ao clima e � altitude do local, mas as fam�lias suspeitam de envenenamento.
  • A pol�cia identificou dois suspeitos, camponeses da regi�o: Juan Zorrilla Bravo e J�sus S�nchez. O primeiro, l�der comunit�rio � frente de manifesta��es contra usinas hidrel�tricas, teria atrapalhado as equipes de busca, dando orienta��es erradas sobre o poss�vel paradeiro dos brasileiros. S�nchez, segundo as investiga��es, teria oferecido �gua ao grupo no in�cio da estrada. As autoridades peruanas chegaram a fazer uma reconstitui��o, mas os suspeitos negaram envolvimento.
  • O exame cadav�rico realizado no Peru n�o identificou a causa da morte, por causa da degrada��o dos corpos. Amostras de v�sceras e tecidos das v�timas foram examinadas no Brasil, nos instituto de medicina legal de Bras�lia e de Belo Horizonte, mas os resultados tamb�m foram inconclusivos, devido ao avan�ado est�gio de decomposi��o do material. Segundo o IML de BH, duas hip�teses n�o puderam ser descartadas: a de envenenamento por subst�ncias org�nicas e de sufocamento.
  • Uma das fam�lias sustenta que um perito independente informou, com base em fotos, que a posi��o das m�os de uma das v�timas sugeria sufocamento
  • A Fiscal�a local – equivalente ao Minist�rio P�blico brasileiro – solicitou informa��es � Leme Engenharia e as fam�lias afirmam que a empresa n�o encaminhou os documentos pedidos, como plano de trabalho no Peru, contratos com a empresa peruana e quebra do sigilo digital com e-mails dos brasileiros trocados e recebidos antes da viagem.
  • O inqu�rito conduzido no Peru sobre as mortes deveria ser conclu�do em 4 de dezembro de 2011, mas foi prorrogado algumas vezes. Ontem, a Fiscal�a de Lima, na capital peruana, informou que o inqu�rito foi arquivado sem conclus�es sobre as mortes.

    Mário A. Soares Bittencourt e Mário Gramani Guedes(foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press/Reprodução - 2/5/12 - Arquivo Pessoal)
    M�rio A. Soares Bittencourt e M�rio Gramani Guedes (foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press/Reprodu��o - 2/5/12 - Arquivo Pessoal)


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