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Estado de Minas DILEMA ENTRE A RUA E O ABRIGO

Moradores de rua querem ajuda, mas reclamam do tratamento em abrigos

Moradores de vias p�blicas rejeitam abrigos da PBH e pedem apoio para mudar de vida. Em 2005, recenseamento apontava cerca de 1 mil pessoas vivendo nas ruas da capital. De l� para c�, dobrou para 2 mil, segundo a Pastoral de Rua.


postado em 25/09/2013 06:00 / atualizado em 25/09/2013 07:48

Sebastião reclama:
Sebasti�o reclama: "abrigo � pior que cadeia, tem hor�rio para entrar, comer, dormir, acordar. A gente n�o sabe quem est� deitando ao lado, e tem muito roubo" (foto: Paulo filgueiras/EM/D.A Press)


Um dia depois de a C�mara de Dirigentes Lojistas da Savassi (CDL/Savassi) cobrar provid�ncias da prefeitura para os moradores de rua, equipes de reportagem do Estado de Minas conversaram com mendigos, usu�rios de crack e portadores de sofrimento mental sobre os motivos de insistirem em permanecer debaixo de viadutos, marquises, cal�adas e terrenos vagos de Belo Horizonte. Ontem, diversas barracas de lona j� estavam de volta aos locais de onde foram retiradas por agentes da prefeitura na segunda-feira. Em 2005, o censo da popula��o de rua indicou cerca de mil pessoas. O n�mero dobrou em oito anos, segundo a percep��o da Pastoral de Rua de BH, passando de 2 mil.

Qual seria a melhor forma de ajud�-los a resgatar a dignidade e a sa�de, j� que os programas sociais n�o d�o resultados satisfat�rios? Muitos dizem que gostariam de ter uma casa e oportunidade de emprego e estudo. Entre os dependentes qu�micos, boa parte garante que quer fazer tratamento. Em geral, h� reclama��es contra abrigos e cl�nicas. Mas a prefeitura afirma que os moradores de rua s�o resistentes ao cumprimento de regras e hor�rios nos abrigos.

“O que eu mais quero � sair da rua”, afirma Sebasti�o Soares do Amorim, de 53 anos. Depois ele se cala, o rosto enrubesce e, apesar do esfor�o em se mostrar forte, ele come�a a chorar. “Com o dinheiro que ganho, n�o sobra nada”, diz. Sentado em um banco na Pra�a da Savassi, Centro-Sul de BH, ele conta que trabalha h� 12 anos como catador de material recicl�vel e costuma pernoitar perto dali, numa esquina da Rua dos Inconfidentes.

Sebasti�o morava com a m�e e os irm�os em Divinol�ndia de Minas, no Vale do Rio Doce. “A gente passava muita fome”, relata. Quando tinha 12 anos, a av� o trouxe para morar com ela no Alto Vera Cruz, Regi�o Leste. Um dia, na hora do almo�o, foi buscar comida na cozinha e a av� o repreendeu. “Disse que eu s� ia comer o que sobrasse, depois de todo mundo. A�, decidi viver na rua”, recorda ele, que estudou at� a 4ª s�rie do ensino fundamental.

Ele est� nas ruas h� mais de 35 anos. J� pernoitou no albergue da Rua Conselheiro Rocha, no Bairro Floresta, administrado pela prefeitura e uma associa��o esp�rita. “� pior que cadeia. Tem hor�rio para entrar, comer, dormir, acordar. A gente n�o sabe nunca quem est� deitando ao lado. Tem muito roubo”, critica ele, que exala h�lito de cacha�a. “Gosto de beber e fumar cigarro. Nunca experimentei outras drogas”.

Apesar de preferir a rua, Sebasti�o se queixa de funcion�rios da prefeitura. Contou que alguns deles, acompanhados de “uns quatro policiais”, levaram quase todos os seus pertences: “O carrinho com o material que eu catei, minha roupa de dormir, cobertor. Disseram que n�o querem morador de rua na Savassi”.

BRIGAS Wellington Rom�o Ramos, de 29, mora na rua h� cerca de cinco anos. Vivia com a m�e, o padrasto e os irm�os numa casa em Venda Nova. “Estava usando muita droga, discutia muito dentro de casa. Foi por isso que fui embora”, lembra. “Hoje fumo baseado e tomo um gorozinho”, diz. Ele ganha a vida lavando carros nos arredores da Pra�a Carlos Chagas (pra�a da Assembleia), no Santo Agostinho, Centro-Sul. “�s vezes, fa�o bico. Servente de pedreiro... O que surgir encaro”.

Ele costuma pernoitar ali perto, na Avenida �lvares Cabral. Mostra ferimentos recentes na nuca, orelha esquerda e face. “Isso foi ontem (segunda-feira). Um cara me pediu um cigarro e eu n�o quis dar. Um homem que estava com ele me deu uma garrafada por tr�s”, relata. Apesar dos riscos, prefere a rua a dormir em albergues: “L� � muita treta, uma brigaiada. Tem neguinho que rouba mesmo, n�o pode ver nada dos outros”.

Na tarde de ontem, Wellington estava deitado em um colchonete no coreto da pra�a, acompanhado de outros moradores de rua. A seu lado, sua namorada, a ex-manicure Gabriela Vieira, de 32, na rua h� um ano. “Nossa vontade � arrumar uma casa, mas n�o temos dinheiro. A prefeitura podia oferecer um c�modo com banheiro para todo mundo. E dar oportunidade de trabalho para a gente pagar (o im�vel) e se sustentar”, disse o rapaz.

 Decep��o na cidade grande

�nderson Luiz Martins, de 40 anos, era um dos moradores de rua que, na tarde de ontem, faziam fila em frente ao albergue da Rua Conselheiro Rocha. Ele vivia com a m�e e irm�os em Jo�o Monlevade, na Regi�o Central. Chegou a BH h� seis meses, querendo melhorar de vida. “Me enganei, quebrei a cara. S� arrumo biquinho, servente de pedreiro, ajudo a descarregar qualquer coisa. � a conta de comer mesmo”, lamenta. Era a terceria vez que pernoitaria no albergue. “Prefiro dormir na rua, mas venho por causa da comida”, disse. “Dorme ladr�o, maconheiro, bebum, tudo junto. Tem muito roubo. Na primeira vez, levaram minha mochila. Reclamei com os funcion�rios, mas n�o adiantou nada”.

Vigia do albergue, Paulo Roberto Flor de Maio, de 54, diz que cerca de 400 pessoas dormem no albergue a cada noite. H� quatro beliches em cada quarto. As luzes s�o apagadas �s 21h e �s 7h todos os “h�spedes” j� devem ter ido embora. Paulo confirma as reclama��es: “Tem gente com problema de bebida, de droga. Todo mundo tem algum problema. Quando come�a briga, a gente tem de intervir. Mas aqui roubam de tudo: t�nis, cueca. � muito dif�cil descobrir quem roubou”.

 

Fila de moradores de rua para pernoite no albergue na Rua Conselheiro Rocha, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de BH(foto: Paulo filgueiras/EM/D.A Press)
Fila de moradores de rua para pernoite no albergue na Rua Conselheiro Rocha, no Bairro Santa Tereza, Regi�o Leste de BH (foto: Paulo filgueiras/EM/D.A Press)
 

 


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