
Moda no exterior e longe de ser um consenso entre especialistas em sa�de, o cigarro eletr�nico est� conquistando fumantes em Minas Gerais. S�o pessoas, na maioria das vezes, que pretendem abandonar o v�cio e driblam a fiscaliza��o ao considerar esse tipo de cigarro, que cont�m nicotina, um mal menor. O produto � proibido pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) e n�o tem registro no pa�s porque os fabricantes chineses e americanos nunca apresentaram estudos que comprovam as alega��es do chamado e-cigarro, e-cig e-cigarette. O Brasil segue orienta��o da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), contr�ria ao produto. No entanto, os cigarros eletr�nicos s�o facilmente comprados pela internet e h� gente que traz na bagagem vindo, ao voltar da Europa ou EUA, onde a venda � liberada porque o produto ainda n�o foi submetido a aprova��o.
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Existem mais de 250 marcas no exterior em formato tamb�m de charuto, cigarrilha, cachimbo e outros tipos. O banco de investimentos Goldman Sachs estima que a ind�stria dos e-cigarettes movimente quase US$ 2 bilh�es at� o fim do ano. A Foods & Drugs Administration (FDA), ag�ncia americana que regula medicamentos, alimentos e controla o fumo, identificou subst�ncias cancer�genas e componentes qu�micos t�xicos, como nitrosamina e dietilenoglicol. Outra pesquisa, realizada em 2009 pela Universidade de Atenas (Gr�cia), indica que os e-cigarettes podem causar danos aos pulm�es. No Brasil, no mesmo ano, uma doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul estudou a dispers�o de fuma�a no Laborat�rio de Estudos T�rmico e Aerodin�mico da institui��o e constatou que a fuma�a n�o era vapor d’�gua, como informava o fabricante.
Por outro lado, trabalho recente da Universidade de Auckland (Nova Zel�ndia), publicado na revista The Lancet, uma das mais importantes publica��es na �rea de sa�de, garante que o cigarro eletr�nico � t�o eficaz quanto o adesivo de nicotina, usado como tratamento por quem quer parar de fumar, conclus�o semelhante � da Escola de Sa�de P�blica da Universidade de Boston (EUA), que tamb�m estudou o assunto.
O delegado Rodrigo Bossi acompanha essas pesquisas e defende os e-cigarettes. Ele fumava um ma�o por dia desde os 14 anos e s� conseguiu largar o cigarro tradicional depois que conheceu o eletr�nico, em janeiro do ano passado. Com d�ficit de aten��o, ele diz que usa o eletr�nico como tratamento porque acredita que a nicotina o ajuda a controlar a ansiedade. "J� falei com v�rios m�dicos e s� um foi contra. O cigarro eletr�nico � 1,4 mil vezes menos prejudicial do que o comum. Dos males, o menor".
Bossi conseguiu parar de fumar por cinco anos, quando a mulher engravidou, mas teve reca�da. Ele trouxe o primeiro eletr�nico por US$ 60 em viagem ao exterior. Passou a importar os kits e baterias recarreg�veis, mesmo ilegalmente, e agora usa um artesanal produzido no Texas (EUA). "Hoje meu n�vel de expertise � grande. Procuro estudar e conhecer e j� fa�o o l�quido. H� receitas na internet e at� aplicativo no iPhone", conta o delegado, que tem duas baterias e s� recorre ao tradicional quando as duas descarregam. "Fico com ele na m�o o dia inteiro. N�o tem cheiro, n�o deixa gosto", conta.
Assim como o delegado, o roteirista e dramaturgo Guilherme Lessa, de 35 anos, diz que a proibi��o da Anvisa atrapalha quem pretende parar de fumar. Ele conheceu o produto h� um ano e meio em viagem de f�rias aos EUA e aproveitou estar fora da rotina para assumir o compromisso de deixar o cigarro. Por duas semanas, fumou o eletr�nico com sabor de tabaco e menta, mas n�o o trouxe para o Brasil porque sabia da ilegalidade. "A vontade dura dois minutos, tempo para ferver �gua para o ch�. Foi o que me ajudou a m�dio prazo, mas o cigarro eletr�nico foi fundamental nesse processo", diz o rapaz, que j� tinha tentado com chicletes e adesivos com nicotina. "Ele � enjoativo, mas resolve bem a quest�o do h�bito. Consigo entender a preocupa��o de induzir os mais jovens, s� que o tabagismo est� mais disseminado entre as pessoas mais velhas".
NICOTINA DISFAR�ADA "N�o vemos o cigarro eletr�nico como algo similar aos chicletes e adesivos, mas um dispositivo moderno, um disfarce, para liberar nicotina e outras subst�ncias qu�micas das quais ainda n�o se tem conhecimento. A grande ind�stria internacional de cigarros j� vende esse produto e certo � que n�o comercializaria um medicamento contra o tabaco", avalia o pneumologista e especialista em tabagismo Alberto Ara�jo, integrante da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Ara�jo diz que o fumante n�o deve usar outro tipo de cigarro para deixar o v�cio e que o e-cigarette levanta outras discuss�es, como o uso em locais p�blicos e fechados. Ele afirma ainda que n�o h� como garantir que seja um dispositivo seguro: "Qualquer novidade que promete experi�ncias positivas vira modismo e j� se fala em pessoas viciadas no cigarro eletr�nico. � poss�vel que tenhamos gera��es futuras de mais jovens dependentes do cigarro eletr�nico porque j� come�am por ele. O problema � que n�o sabemos os riscos e n�o temos como medi-los".
Para a pneumologista Maria das Gra�as Rodrigues, presidente da Comiss�o de Controle do Tabagismo da Associa��o M�dica de Minas Gerais, n�o h� estudos conclusivos sobre as subst�ncias presentes no cigarro eletr�nico. Ela lembra, no entanto, que a nicotina � um dos componentes, o que pode manter a depend�ncia e provocar efeitos cardiovasculares, como aumento de press�o e risco de arritmia. "N�o indico porque n�o conhecemos os componentes. N�o sabemos se faz bem ou mal".
MINAS Na internet, por�m, um homem que se apresenta como o primeiro vendedor em Minas, h� tr�s anos no mercado, oferece kits com refis e duas baterias, com pre�os entre R$ 220 e R$ 395. Ele trabalha com 15 modelos e conta que um refil de 30 ml equivale a 10 ma�os. O vendedor sabe que o neg�cio � ilegal, mas garante satisfa��o. "Depois dele, voc� n�o bota nenhum outro na boca”, afirma. “Tenho uma empresa, compro em d�lar e registro a encomenda como se fosse outra coisa", explica.
Segundo ele, alguns clientes que trouxeram do exterior foram parados no aeroporto e receberam intima��o da Pol�cia Federal. No Shopping Oiapoque tamb�m � poss�vel encontrar modelo cujo formato � igual a um cigarro comum. Segundo o delegado Bruno Lopes, adjunto na Fazend�ria, quem for flagrado trazendo produto n�o registrado no pa�s pode responder por contrabando.