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Estado de Minas

Abrigos para moradores de rua de BH est�o lotados

Unidades de atendimento especializado a moradores de rua na capital est�o com as 680 vagas ocupadas. Prefeitura promete inaugurar tr�s espa�os at� o fim do ano


postado em 08/10/2013 06:00 / atualizado em 08/10/2013 07:05

Moradores de rua no albergue Tia Branca, no Floresta: quem tem carteirinha entra; que não tem, corre risco de ficar de fora(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.A Press)
Moradores de rua no albergue Tia Branca, no Floresta: quem tem carteirinha entra; que n�o tem, corre risco de ficar de fora (foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.A Press)


 

A multiplica��o de moradores de rua em Belo Horizonte deixou unidades de atendimento especializado do munic�pio com lota��o esgotada. Os dois abrigos, duas rep�blicas e um albergue para a popula��o com trajet�ria de rua est�o com as 680 vagas ocupadas. A falta de espa�o pode ser obst�culo para os planos da prefeitura de agir com maior rigor diante da ocupa��o de �reas p�blicas – na semana passada, o prefeito Marcio Lacerda anunciou que pretende orientar a fiscaliza��o a retirar objetos como colch�es e eletrodom�sticos de moradores de rua. Para abrigar toda a popula��o de rua da cidade, seria necess�rio praticamente dobrar a capacidade dos abrigos, considerando as 1.164 pessoas identificadas no �ltimo Censo da Popula��o de Rua, de 2005. O levantamento, por�m, j� est� defasado: pelos c�lculos da Pastoral de Rua, o contingente j� passa de 2 mil.

Tanto o Abrigo S�o Paulo como o Albergue Tia Branca, as maiores unidades especializadas no atendimento dessa popula��o, com 400 e 150 vagas, respectivamente, est�o lotados. Somente em setembro, 140 pessoas foram barradas na entrada do Servi�o de Acolhimento Institucional para a Popula��o de Rua e Migrante, mais conhecido pelo antigo nome de Albergue Noturno Tia Branca, localizado na Rua Conselheiro Rocha, no Bairro Floresta. “H� uma demanda cada vez mais crescente por atendimento institucional na cidade”, reconhece a pedagoga Soraya Romina, coordenadora do Comit� de Acompanhamento de Pol�ticas para a Popula��o de Rua. “Estamos atentos a isso”, acrescenta.

Para tentar reduzir o d�ficit de vagas, a prefeitura vai abrir at� o fim do ano pelo menos tr�s espa�os voltados para acolher em car�ter provis�rio os moradores de rua. A primeira nova unidade come�a a funcionar hoje e prestar� atendimento a pessoas que acabam de receber alta hospitalar. Cerca de 20 pacientes em situa��o de rua que estiverem doentes ser�o levados para a Rua Al�m Para�ba, no Bairro da Lagoinha. Outras 80 vagas ser�o abertas no Tia Branca at� 26 de outubro, com a transfer�ncia de migrantes para a chamada Pousadinha, na Rua Esp�rito Santo. Uma nova rep�blica criar� 44 vagas para a popula��o em situa��o de rua na Avenida Nossa Senhora de F�tima, no Bairro Carlos Prates.

Enquanto as tr�s novas unidades n�o come�am a funcionar, os abrigos atuais enfrentam dificuldades para convencer moradores de rua a aceitar regras de conviv�ncia. “Minha caixa, minha vida” � a inscri��o da atual moradia de Jos�*, de 63 anos, improvisada com restos de caixa de papel�o exatamente em frente ao Albergue Tia Branca. Ao lado, h� um fogareiro pr�prio para esquentar comida e um banco velho, de pernas bambas como as do dono, que passou o dia bebendo. � noite, a partir das 18h, o aposentado Jos� entra na fila para dormir dentro do albergue, que oferece cama limpa, comida, banho e roupa lavada, sem custos. Com capacidade para 320 moradores de rua e 80 migrantes, o Tia Branca foi obrigado a instituir um sistema de credenciamento, como forma de regular o fluxo de pessoas, que cresce a cada dia. Quem tem carteirinha entra f�cil. Quem n�o tem corre o risco de ficar de fora.

“Sou filho deste albergue e tenho prioridade, porque estou aqui h� oito anos. Mas voc� j� viu a quantidade de pessoas do interior que andam aparecendo na capital?”, compara Jos�. De fato, o �ltimo censo da popula��o de rua de BH mostrou que 40% dos entrevistados eram de fora de Belo Horizonte. Entre 10 e 15 homens moram diante do albergue. Negam-se a passar pela triagem do Tia Branca, que exige o cumprimento de regras m�nimas de conviv�ncia, como hor�rios, higiene pessoal e sil�ncio. Preferem ficar do lado de fora, falando mal dos servi�os oferecidos. Questionam haver suspens�es pelo uso de �lcool ou drogas, brigas, promiscuidade e furtos. Casos de viol�ncia contra o colega, reincid�ncia no porte de drogas ou usar arma podem levar � suspens�o definitiva.

“N�o vou com a cara de nenhum dos quatro seguran�as daqui. Quando d� nove horas da noite, eles apagam a luz e mandam todo mundo calar a boca”, reclama um deles, revoltado por ter sido suspenso. O sistema parece funcionar, pois a m�dia � de um seguran�a a cada 100 homens, sendo que, m�s passado, n�o houve registro de uma �nica ocorr�ncia policial.

“Quer saber a verdade mesmo? Os caras preferem ficar do lado de fora porque, quando cai a noite, come�am a passar pessoas de bem distribuindo sop�o, marmita, p�o e leite. Dentro do albergue, � uma refei��o s�”, compara o marceneiro V�tor*, de 34 anos, que tamb�m aguarda na fila at� dar a hora de entrar. Ele pede para n�o ser identificado, sob risco de ser impedido de frequentar o estabelecimento. Percebe como problemas do lugar a dificuldade extra para arranjar emprego ao fornecer o endere�o do albergue na ficha do cadastro. “Fora os percevejos, n�o tenho nada do que reclamar”, completa.

 

Problemas

� geral a reclama��o contra a infesta��o de percevejos ou muquiranas. A dire��o do albergue reconhece o problema. Trocou at� os estrados das camas, na tentativa de identificar a origem do surto. Em v�o. A cada imigrante infectado, voltam os percevejos. Na sexta-feira, os dormit�rios passaram por um processo de fumac�, sob orienta��o da Zoonoses, na tentativa de combater a praga. Cerca de 70% dos homens recusam-se a tomar banho, que n�o � obrigat�rio. “J� tentamos colocar funcion�rio na porta vigiando. A pessoa fingia estar debaixo do chuveiro, mas sa�a com a toalha seca. Quando era feita a observa��o a respeito, o sujeito molhava a toalha na pia e entregava. S� serviu para aumentar os custos com lavanderia”, revela Gladston da Silva Lage, gerente de apoio comunit�rio e coordenador do albergue, ligado � Associa��o Grupo Esp�rita O Consolador.

Apesar dos problemas, Gladston Lage compara o albergue a um “hotel cinco estrelas”, com a mudan�a das instala��es para o Bairro da Floresta. At� 2010, funcionava nas proximidades da Pedreira Prado Lopes, em galp�es improvisados. O gasto � de R$ 40 di�rios per capita, que inclui o pagamento de 70 funcion�rios, servi�o terceirizado de lavanderia, �gua, luz e encaminhamento para 14 conv�nios para vagas de emprego. Ele ressalta que o albergue tem a fun��o de oferecer prote��o social de car�ter transit�rio. “As pessoas t�m de entender que n�o podem morar aqui. � preciso respeitar o prazo de cada um, mas encaminh�-los de volta para sua cidade, reinserir na fam�lia ou nas bolsas-moradia”, diz ele, lembrando que o lugar conta com regras r�gidas para lembrar que a vida em sociedade � trabalhosa.


* nomes fict�cios

Censo come�a este m�s

Mendigo em frente a albergue: muitos preferem ficar do lado fora para não se submeter a regras rígidas de convivência(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Mendigo em frente a albergue: muitos preferem ficar do lado fora para n�o se submeter a regras r�gidas de conviv�ncia (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
Por distribuir 13 mil refei��es ao ano nos restaurantes populares, de forma gratuita aos moradores de rua credenciados, BH tornou-se p�lo de atra��o da popula��o fronteiri�a. O termo � usado para definir n�o apenas moradores de outras cidades, como tamb�m pessoas que sobrevivem no limiar das regras da sociedade. No �ltimo censo, 40% dos entrevistados era de migrantes. “Nossa maior ansiedade � pela realiza��o do novo censo da popula��o de rua, que ser� feito este m�s e vai apontar quantas s�o as pessoas na rua e de onde v�m”, diz Soraya Romina, do Comit� de Acompanhamento de Pol�ticas para a Popula��o de Rua. “� preciso entender melhor o fen�meno, at� para abrir o debate com o governo do estado. BH � a �nica cidade que garante a seguran�a alimentar e nutricional da popula��o prevista na Constitui��o”, acrescenta. Ela disse que est�o em estudo modelos de pr�dios de apartamentos com habita��es de uso social. “Na verdade, n�o s� o abrigo � a solu��o para a popula��o de rua. Cada pessoa traz sua hist�ria espec�fica e vai construir seu caminho de sa�da”, completa.


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