
O barulho n�o para e vem incomodando moradores da orla da Lagoa da Pampulha. Desde o fim do ano passado, quando a Prefeitura de Belo Horizonte iniciou os trabalhos para o desassoreamento de um dos principais cart�es-postais da cidade, o ru�do ininterrupto gerado pelas dragas tem dificultado a concentra��o e o sono de muita gente. A m�quina que serve para retirar entulhos do fundo da �gua trabalha 24 horas por dia, inclusive em fins de semana, segundo os vizinhos, que pedem para as atividades serem interrompidas durante a noite.
Sabino Ferreira, de 55 anos, mora no Bairro Bandeirantes, a um quarteir�o da Avenida Otac�lio Negr�o de Lima, que percorre toda a orla da lagoa. Ele n�o quer que o andamento das obras para a requalifica��o do cart�o-postal seja prejudicado, mas se queixa do inc�modo provocado pelo ru�do das dragas, que quebraram o habitual sil�ncio noturno da regi�o, predominantemente residencial. “O barulho come�ou em outubro. No in�cio, as m�quinas eram desligadas por volta da meia-noite e voltavam a funcionar pelas seis da manh�. Depois, passaram a ficar ligadas direto”, relata ele, professor do Departamento de Estat�stica da UFMG.
Com dificuldade para dormir, Sabino chegou a comprar um protetor de ouvido do tipo usado por nadadores, mas o objeto n�o bloqueou o barulho. “Isso me atrapalha muito, inclusive por eu trabalhar em casa � noite. Para fazer um trabalho intelectual voc� tem que se concentrar, mas fica aquele barulho o tempo todo. Venho tendo dor de cabe�a por causa disso”, reclama. Para n�o atrasar ainda mais as obras, que j� tiveram prazos adiados, o professor tem uma sugest�o: “A prefeitura pode aumentar o n�mero de dragas e limitar os trabalhos ao hor�rio comercial. Sou completamente favor�vel � recupera��o da lagoa”, ressalta.
Vizinho de Sabino e professor do Departamento de F�sica da UFMG, Emmanuel Ara�jo Pereira tamb�m se queixa do barulho. “Ele me incomoda mais � noite, quando cessam outros ru�dos e o das dragas fica bem evidente”, conta. �s vezes, ele demora mais que o normal para pegar no sono, mas a mulher � ainda mais prejudicada. De vez em quando, ela prefere dormir na sala, j� que o quarto do casal tem a janela direcionada para a lagoa. “Acabamos tendo a noite maldormida. Meu trabalho � intelectual. Se eu n�o estiver descansado, n�o consigo pensar direito”, aponta. “As dragas poderiam n�o trabalhar de madrugada. Isso est� sendo tocado com essa rapidez toda por causa da Copa, uma vez que a lagoa est� num estado lastim�vel”, acredita.
No outro lado da orla, no Bairro Copacabana, a administradora de empresas Adriane Freitas Vidal, de 50 anos, mora com a fam�lia em um sobrado na Avenida Otac�lio Negr�o de Lima e tamb�m sofre com o problema. “Durante o dia, o ru�do das dragas � amenizado pelo barulho do tr�nsito, dos carros passando. Incomoda mesmo quando a gente vai dormir. Esse barulho vai l� no c�rebro, fico com a sensa��o de que essas m�quinas est�o bem ao meu lado”, diz. “As obras s�o necess�rias, mas poderiam ser interrompidas �s 22h ou �s 23h e voltar de manh� cedo.”
Vizinho de Adriane, o professor de hist�ria Marco Marinho, de 40, refor�a o coro dos descontentes. “S� percebi interrup��es do ru�do no Natal e no r�veillon. De dia, �s vezes o barulho fica impercept�vel, com o barulho dos carros. Mas imagine isso de madrugada. � muito chato. Voc� est� vendo TV, assistindo a um filme, e fica esse ru�do horroroso”, diz, tentando imitar o som emitido pelas dragas. “At� entendo a import�ncia dessas obras, mas quem mora aqui sofre”, ressalta.
RECURSOS Ao ser comunicada das queixas, a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou, por meio da assessoria de imprensa, que “todas as obras s�o realizadas de acordo com os licenciamentos obtidos”. Primeira etapa dos trabalhos de despolui��o da Lagoa da Pampulha, o desassoreamento est� or�ado em R$ 109 milh�es e abrange a execu��o de servi�os de dragagem e de desidrata��o, transporte e destina��o dos sedimentos removidos, segundo a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura. Ela foi iniciada em outubro de 2013, com t�rmino previsto em oito meses. As outras duas etapas da revitaliza��o da lagoa s�o a recupera��o da qualidade das �guas, or�ada em R$ 30 milh�es, e a complementa��o do sistema de esgotamento sanit�rio da Bacia da Pampulha, em R$ 102 milh�es.