
Tr�s crian�as – um menino de 5 anos e duas meninas, de 3 anos e 1 ano e seis meses – n�o veem a m�e desde 25 de novembro do ano passado. Antes da separa��o, n�o se abra�aram, nem se beijaram ou se despediram. Fernanda Tatiana da Silva, de 29, tomava conta de carros na Regi�o de Venda Nova. No dia em que foi presa, precisava ir ao Centro e pegou carona com um colega. O carro era roubado e o rapaz, o principal suspeito de ter cometido um assalto. Ela jura que n�o tem nada a ver com o crime, mas acabou na cadeia. Gr�vida de quatro meses, aguarda julgamento da Justi�a. Pela fam�lia, j� foi condenada.
Fernanda nunca mais viu seus filhos, a m�e, o pai ou irm�os. Morre de saudades. Aos domingos, costumava reunir a fam�lia e cozinhar. Agora, na fila da penitenci�ria para a visitas nesse mesmo dia da semana, nenhum parente aparece. Os pais, conta, s�o muito rigorosos e nunca esperavam ver um dos quatro filhos na cadeia. Viraram as costas. Ela liga, manda cartas, chora, implora. Nada. “N�o esperava que minha m�e fosse me abandonar neste momento. Preciso dela, sinto saudades dela. Perguntei a ela se me amava. O telefone ficou mudo.”
N�o � f�cil para Fernanda contar sua hist�ria, seu isolamento. As l�grimas n�o deixam. Para o tempo passar, ela estuda e trabalha de cuidadora (fun��o de uma detenta que fica com o filho de outra para que a m�e da crian�a estude ou trabalhe). Com o dinheiro que recebe, compra seus cremes, biscoitos, xampus. Coisas que ela n�o tem algu�m que possa levar.
“Esperava que eles sentissem minha falta”, disse, referindo-se de novo � fam�lia e contando que seu processo est� nas m�os de um defensor p�blico. “Meu pai tem condi��o de me ajudar, tenho uma prima que � advogada. Mas fui abandonada.” Hoje, s� pensa em sair, abra�ar os filhos e pedir perd�o � m�e. “Nunca consegui explicar o que aconteceu, nunca consegui dizer que sou inocente. Nunca deveria ter pegado aquela carona. Mas foi um aprendizado. Vi que s� Deus n�o me abandona.”
O V�CIO COMO SEGUNDA PRIS�O
“Nunca tive casa, nunca tive ningu�m.” � a sexta vez que Juliana Gomes de Barros, de 28 anos, est� presa. A cadeia � o lar que ela nunca teve. L� tem cama, comida, roupa, um travesseiro, um teto. N�o se queixa. Queria mudar de vida, mas n�o consegue. Est� presa h� um ano e tr�s meses por tr�fico. Foi pega com um monte de gente em uma opera��o no Centro de BH, atr�s do terminal rodovi�rio, onde costumava ficar. A rua era o seu lugar.
Usu�ria de crack, Juliana diz que pensa na droga todos os dias. Trabalha e estuda na pris�o, mas ainda se sente presa ao v�cio. “Aqui me sinto em uma casa de recupera��o.” Mas tem que se recuperar sozinha. N�o tem m�e, que morreu h� 10 anos, nem conhece o pai. As duas irm�s est�o presas na Penitenci�ria Feminina Estev�o Pinto – uma por roubo, outra por tr�fico. O ex-marido est� no Pres�dio Inspetor Jos� Martinho Drumond. Duas filhas, de 8 e 10 anos, entregues � av� paterna, moram no Bairro Alto Vera Cruz. Outra, de 2, est� com uma tia por parte de pai, no Bairro S�o Gabriel. “O juiz disse que sou m� influ�ncia para elas e transferiu a guarda”, resume.
Juliana tem semblante pesado. N�o sorri, parece n�o conseguir ficar � vontade para uma conversa. Pouco expressa os sentimentos, mas s� at� falar das filhas. Queria ter a oportunidade de reconquist�-las, dar �s tr�s uma vida normal. “N�o tenho ningu�m, nunca tive uma fam�lia. Na rua experimentei maconha, coca�na, cola, t�ner, crack. Olhava uns carros e gastava em droga tudo o que ganhava. Comia o que os donos de restaurante no Centro davam para a gente. Mas sinto falta de ter algu�m que goste de mim.”
No pres�dio, os dias de visita s�o longos, sofridos. Juliana v� as colegas receberem parentes e presentes. Ela fica sozinha na cela. Sua companhia � a B�blia. Todos os dias abre o evangelho e l� os salmos 91 e 23. “Eles me d�o for�a.” Os salmos 40 e 41 lhe d�o esperan�a. “Sei que Deus vai me tirar desta vida. Esperarei com paci�ncia, meu dia vai chegar, tenho f�.” As meninas sabem que t�m m�e, mas assim chamam tamb�m a av�. “Sei que elas est�o bem, mas d�i muito. S� queria poder v�-las.”