
Moradores de casas antigas do Bairro Santa Tereza, na Regi�o Leste de Belo Horizonte, n�o t�m opini�o un�nime quando o assunto � tombar seus im�veis como patrim�nio hist�rico. Em reuni�o quarta-feira com a Diretoria de Patrim�nio da Funda��o Municipal de Cultura, eles foram esclarecidos sobre os benef�cios da opera��o. Mesmo assim, propriet�rios como a professora Silvana Magalh�es, de 54, que vive em uma casa do in�cio do s�culo passado na Rua Eurita, n�o se convenceram. Ela � contra o tombamento da constru��o – que foi restaurada e chama a aten��o pela beleza –, por considerar que o dono perde liberdade de dispor sobre a propriedade. “A casa foi dos pais do meu marido e a gente j� cuida muito bem dela. Mas, com o tombamento, perdemos autonomia sobre uma coisa que � nossa. Nada que � obrigat�rio � bom”, disse.
Tamb�m ficou esclarecido na reuni�o que o tombamento n�o diz respeito ao uso do im�vel, mas apenas � edifica��o e a manuten��o de suas caracter�sticas. Para a moradora do bairro e jornalista respons�vel pelo site Santa Tereza Tem, Eliza Peixoto, o debate foi importante para desfazer d�vidas e mitos que envolvem o tombamento de um im�vel.
O engenheiro Jos� Liberato conta que passou um ano e meio restaurando a casa que seria demolida para depois entrar com pedido de tombamento. “Valeu a pena. N�o pago IPTU e tenho direito � comercializa��o do potencial construtivo. Meu lote tem 500 metros quadrados e s�o apenas 150 metros quadrados de �rea constru�da. Posso comercializar 350 metros quadrados para edifica��o em outro local”, disse o propriet�rio.
CONSERVACIONISTAS O artista pl�stico M�ximo Soalheiro, de 58, � dono de uma casa de 1928 na mesma rua do engenheiro, a Capit�o Proc�pio, e tamb�m � favor�vel ao tombamento. Mas isso, segundo ele, quando a edifica��o tiver valor representativo de um determinado per�odo ou linha de arquitetura. Embora favor�vel � ADE, que permite altura m�xima de at� 15 metros para as edifica��es na regi�o, ele acredita que a lei possibilita a descaracteriza��o do bairro ao possibilitar a constru��o de pequenos pr�dios.
O artista conta que a sua casa sofreu uma pequena altera��o na fachada na d�cada de 1940, quando um alpendre foi fechado. Ele a adquiriu em 2000 e afirma que fez uma pesquisa hist�rica para reform�-la. “Eu a coloquei como constava antes nos registros”, disse. O piso da varanda, em ladrilhos hidr�ulicos, as janelas e v�rios outros componentes da fachada s�o aut�nticos da �poca. “Eu j� tombei minha casa de cora��o. A arquitetura dela � valiosa e representa muito o bairro”, disse o artista.
O aposentado Walen Pequeno, de 64, mora na Rua Tenente Freitas e tamb�m gostaria que a sua casa fosse tombada. A planta original do im�vel � de 1929 e ele mostra no documento antigo a engomadaria que havia nos fundos. “O tombamento ajuda a preservar o im�vel e tamb�m a hist�ria. Sou contra a verticaliza��o do bairro. Prefiro minha casa assim”, disse.
CARAMBOLAS O fiscal aposentado e engenheiro Euler Ribeiro, de 62, outro morador da Tenente Freitas, disse que sua casa de 1929 est� em processo de tombamento e vem passando por uma reforma geral. A obra tem acompanhamento do Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural. Ao longo de 85 anos a casa passou por v�rias altera��es. Em 1939, ganhou uma varanda. Em 1949, foi erguida uma torre lateral. “Quando eu a adquiri, estava um pouco descaracterizada. As janelas laterais eram em ferro e vidro e eu fiz r�plicas conforme a planta de 1929”, contou. “Eu j� sabia do processo de tombamento quando comprei a casa, mas isso � bom para preservar a hist�ria da cidade”, comentou Euler, colhendo carambolas no quintal.
Apesar do movimento pela preserva��o que mobiliza v�rios moradores, na regi�o conhecida como Alto dos Piolhos, encontro das ruas Bocai�va, Tenente Freitas, Quimberlita e Bom Despacho, um dos maiores redutos da boemia no bairro, pr�dios comerciais antigos v�m sendo descaracterizados. Os telhados est�o sendo retirados para constru��o de outros pavimentos em estrutura de metal, esquadrias de alum�nio e vidro.