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Estado de Minas

Queda, frustra��o e recome�o de J�sus


postado em 18/04/2014 06:00 / atualizado em 18/04/2014 07:48

Jésus diz que a família está sempre ao lado, apoiando-o em tudo (foto: (Leandro Couri/EM/D.A Press)
J�sus diz que a fam�lia est� sempre ao lado, apoiando-o em tudo (foto: (Leandro Couri/EM/D.A Press)

Um dia, o patr�o decidiu, enfim, assinar a carteira de trabalho de J�sus Nogueira Trant. Mais: falou que abriria outra loja e aquela deixaria aos cuidados do empregado, que seria promovido a s�cio. Feliz da vida, prevendo futuro promissor, o esperense foi visitar a cidade natal. Quando voltou a BH, decep��o. O outro tinha mudado de ideia e, para convencer o subordinado a se resignar, deixou alguns recados perto de sua m�quina de costura. “Na parede em frente, colou peda�os de papel com as frases ‘mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro’ e ‘o Sol nasce para todos, mas a sombra � para quem merece’”, conta.

O quase hom�nimo do personagem b�blico resolveu pedir demiss�o. “Eu ganhava um sal�rio m�nimo. Sa� com uma m�o na frente e a outra atr�s”. J�sus pensou em voltar para Rio Espera. “Fiquei 12 dias � toa. Cheguei a ficar doente. Sabe quando voc� fica meio depressivo? Pensava: ‘Ser� que vou ter de voltar para a ro�a?’ Comecei a me desesperar.” Buscou for�as para se reerguer. Dizia para si mesmo: “Vou lutar, vou trabalhar, preciso ajudar meus pais”. Sabe de cor a data em que come�ou o pr�prio neg�cio: 12 de novembro de 1965. Usou as escassas economias e fez um empr�stimo para comprar o ponto onde permanece at� hoje, na Pra�a Sete, no Centro.

Na �poca, J�sus morava na casa de uma tia paterna. N�o pagava aluguel, mas ajudava nas despesas. Foi l� que conheceu e come�ou a namorar a prima e futura esposa, Mar�lia da Consola��o Freitas Trant, hoje com 71 anos. Depois os dois se mudaram para um apartamento. “Comprei a presta��o, sem saber como pagaria.” N�o era apenas a dificuldade para quitar as parcelas que o atormentava. O casal desejava muito um filho, mas, depois de v�rias tentativas, descobriu-se que a mulher � inf�rtil. “Eu sempre quis ter um filho. Tentamos muito, mas n�o teve jeito. Aceitei de boa, n�o fiquei chateado.”

FAM�LIA Com o tempo, a frustra��o do alfaiate J�sus Nogueira Trant, pela impossibilidade de ser pai biol�gico, se dissipou. Ele acabou se tornando pai de modo imprevisto. Uma irm� de Mar�lia se separou do homem com quem vivia e foi morar com outro. As duas filhas do primeiro relacionamento passaram a ser criadas por J�sus e a esposa em seu apartamento. �rica e a ca�ula Priscila estavam no in�cio da vida. Mais tarde, os quatro se mudaram para uma casa no Bairro Esplanada, na Regi�o Leste da capital. � l� onde moram, com exce��o de �rica, que hoje tem 29 anos e � nutricionista em Formiga, no Centro-Oeste. Priscila tem 26 e � rec�m-formada em design de moda.

As sobrinhas n�o chegaram a ser adotadas. Continuam registradas em nome dos genitores, mas n�o h� d�vida de quem de fato s�o seus pais. “Na adolesc�ncia eu n�o sabia direito a quem pedir para sair � noite. Depois vi que era � minha tia. Era ela que ficava acordada me esperando chegar, preocupada”, diz Priscila. “Com as minhas filhas sempre foi boa a conviv�ncia, n�o deram trabalho”, ressalta J�sus. A mo�a vem tendo algumas li��es com o alfaiate em sua loja. “Ele tem paci�ncia para explicar”, diz a aprendiz. E prossegue os elogios: “Meu tio � muito justo, honesto. N�o intromete na nossa vida. A gente nunca brigou. Ele n�o � de gritar, xingar. Fala com tranquilidade. Geralmente, quando est� nervoso, fica mais calado, s�rio”. J�sus sentencia: “Quem esquenta a cabe�a � f�sforo, e morre queimado”.

OF�CIO QUASE EXTINTO Na lojinha onde J�sus trabalha, h� pe�as de roupas em um arm�rio, sobre um banco e em cima de um balc�o. Algumas j� reparadas, outras aguardando a vez. “Meu trabalho est� quase extinto. Aqui em BH n�o tem mais quem fa�a esse servi�o.” Os instrumentos de trabalho ficam espalhados pela saleta, como alfinetes, peda�os de giz e, em pregos fixos em t�buas penduradas na arma��o da janela, tubos com linhas de costura. Em uma mesa h� duas m�quinas de costura, uma delas usada por J�sus e outra por seu irm�o e colega, Ant�nio dos Reis Trant, de 65. Em uma parede, a foto da turma do amador Esperense Futebol Clube, que ajudou a fundar.

Vaidoso, o filho de Rio Espera sempre faz a barba e se perfuma antes de sair de casa. Os cabelos rareiam na parte da frente da cabe�a, mas os fios sobreviventes s�o cuidadosamente penteados para tr�s. Como ele costuma trabalhar olhando para baixo, os �culos deslizam com frequ�ncia no nariz. “Nunca questionei minha f�. Quase n�o vou � missa, mas fa�o minhas ora��es todo dia.” Trabalha das 8h �s 19h. “Nunca tirei f�rias.” Apesar da dedica��o � labuta, ele n�o manifesta grandes ambi��es. O que ganha lhe garante suficiente conforto. “Ningu�m � dono de nada. S� estamos cuidando dessas coisas temporariamente.”


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