
Uma lona azul, com peda�os de bambu por cima, protege um dos mais importantes marcos religiosos e culturais de Mariana, a primeira vila, cidade, capital e diocese de Minas. Previsto para ficar em car�ter provis�rio, o material est� h� mais de um ano sobre a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, integrante do conjunto do Semin�rio S�o Jos�, tombado pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) desde 1949. Embora contemplado com recursos do Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC) das Cidades Hist�ricas, o monumento espera pelas obras que possam impedir a ru�na e sumi�o de parte da hist�ria. Na semana em que se lembra a Paix�o de Cristo, o templo do s�culo 18 mostra o seu calv�rio feito de infiltra��es, deslocamento de paredes e outros problemas graves.
O reitor do semin�rio, padre Lauro S�rgio Versiani Barbosa, se preocupa com a situa��o e providenciou, em fevereiro, a interdi��o da capela, na qual se celebravam missas semanalmente. “Resolvemos suspend�-las. Solicitamos um laudo ao Iphan sobre as condi��es da constru��o e estamos tomando as provid�ncias”, disse padre Lauro, certo da necessidade de obras emergenciais para evitar o arruinamento do pr�dio datado de 1750, mesma �poca da edifica��o do semin�rio, que � o mais antigo de Minas, e garantir a seguran�a de religiosos e fi�is. Um projeto de recupera��o j� foi conclu�do, mas falta o principal para execut�-lo: dinheiro.
O escrit�rio t�cnico do Iphan em Mariana fez v�rias vistorias no local e elaborou sucessivos pareceres desde 2011 sobre a situa��o da capela. Um dos documentos informa que, antes de um escoramento, torna-se fundamental uma investiga��o sobre os reais problemas do pr�dio, incluindo a sondagem do solo. O templo apresenta deslocamento de alvenaria (parede), evolu��o de trincas, cobertura prec�ria, enfim, demanda cuidados imediatos. Ontem, houve uma reuni�o entre representantes da arquidiocese, da prefeitura local e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que tem instalada na �rea de 221 mil metros quadrados, onde est�o a capela e o semin�rio, o seu Instituto de Ci�ncias Humanas e Sociais (ICHS/Ufop).
Quest�o judicial
A restaura��o da Capela da Boa Morte esbarra num impasse judicial, que diz respeito � propriedade do im�vel. Em 1980, foi firmado um regime de comodato, pelo per�odo de 30 anos, entre a Arquidiocese de Mariana e a Ufop para instala��o do ICHS. Dois anos depois, outro acordo, n�o registrado em cart�rio, estendeu o prazo por mais 21 anos. A parceria, no entanto, acabou mal e chegou aos tribunais. A C�ria ajuizou a��o para recuperar o patrim�nio e ganhou em primeira e segunda inst�ncias, mas a universidade recorreu e o processo est� em Bras�lia (DF). “A posse � da Ufop, mas a propriedade est� sendo discutida em ju�zo”, disse o prefeito do c�mpus de Ouro Preto, arquiteto Edmundo Dantas Gon�alves. “Temos um projeto submetido ao Iphan e tentamos fazer a obra, mas h� essa pend�ncia jur�dica. Esperamos que, com os recursos do PAC, o conjunto seja restaurado.”
O Semin�rio S�o Jos�, batizado inicialmente de Nossa Senhora da Boa Morte, foi fundado pelo primeiro bispo da diocese de Mariana, dom Frei Manuel da Cruz (1690-1764). Estiveram � frente da institui��o os jesu�tas at� assumirem o posto, em 1853, os lazaristas, a convite do bispo dom Ant�nio Ferreira Vi�oso (1787-1875). Em meados do s�culo 20, a dire��o dos semin�rios Maior e Menor passou aos padres arquidiocesanos.