
Malas abertas nos cantos do quarto, roupas sobre a cama, pacotes fechados e uma boneca de pano ainda pendurada na porta. Onze dias depois do desabamento do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, em Belo Horizonte, familiares da motorista Hanna Cristina Santos, de 24 anos, voltaram nessa segunda-feira ao apartamento da jovem morta na trag�dia para desmontar a casa, retirar m�veis e doar o que for poss�vel, antes de entreg�-lo ao propriet�rio. “Nossas vidas foram destru�das e temos que seguir em frente. Somos unidos, mas � uma dor que vai durar para sempre”, disse a tia e madrinha de Hanna, Teresa Cristina Santos, moradora do Barreiro.
No im�vel alugado no Bairro Heli�polis, na Regi�o Norte, moravam tamb�m a irm�, Priscila, de 30, a filha de Hanna, Ana Clara, de 5, e os av�s maternos da menina, Jos� Ant�nio e Analina. “Clarinha est� bem”, afirmoue Teresa, certa de que, nesse momento, o melhor � preservar a crian�a e evitar mais traumas. Com os olhos tristes, marcados pelas l�grimas e pela saudade, ela foi apartamento com Priscila e com os irm�os g�meos Cl�udia Andr�a, cabeleireira residente h� 11 anos em Lisboa (Portugal), e Cl�udio Andr�, vestindo uma camisa branca com o retrato da sobrinha.
Em sil�ncio, cada um cumpria sua tarefa: empilhar sapatos, dobrar vestidos, embalar eletrodom�sticos e juntar brinquedos. “Com a perda do �nibus e a morte da minha irm�, fiquei desempregada. O coletivo era nosso sustento e agora terei que morar no Barreiro, com minha tia”, disse Priscila, mostrando uma foto tirada em Caldas Novas (GO) em que aparece sorridente ao lado de Hanna e da m�e. “S� agora estamos tomando p� da situa��o. � a primeira vez que venho aqui depois que tudo ocorreu. Sinto um vazio no peito, como se tivessem arrancado um peda�o”, disse Priscila em voz baixa.
Hanna era motorista do �nibus suplementar S70, que fazia o trajeto Conjunto Felicidade/Shopping Del Rey. O ve�culo pertencia � fam�lia e, h� mais de um ano, a jovem foi habilitada para dirigir e sonhava em comprar um carro este ano. No dia 3, por volta das 15h, a queda do viaduto provocou a morte dela e do assistente de servi�os gerais Charlys Frederico Moreira do Nascimento, de 25 anos, morador de Lagoa Santa, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, deixando 23 feridos.

REVOLTA
“Confiamos na Justi�a de Deus e Ele saber� o que fazer. Nossa revolta � contra os engenheiros que fizeram o servi�o no viaduto. S�o uns irrespons�veis, por terem autorizado a retirada das escoras. Nenhum dinheiro vai trazer de volta minha sobrinha”, desabafa Teresa. Ela explicou que somente ontem a fam�lia reuniu for�as para tomar provid�ncias, como tirar os pertences de Hanna e da menina do apartamento. “Meus pais t�m casa em Florestal, ent�o ficavam um tempo l� e outro c�. A parte burocr�tica, como o seguro do �nibus, ser� resolvida pelos advogados”, conta Teresa. Tomada pelas lembran�as, ela citou dois momentos extremos da trajet�ria da sobrinha: “Fui busc�-la no ber��rio, quando nasceu, e depois fazer o reconhecimento do corpo no Instituto M�dico Legal (IML)”.
Olhando as pe�as de roupas, os parentes se recordaram da jovem alegre e vaidosa, animada com a Copa do Mundo e chegou a ir � Fan Fest, no Expominas. “Programamos at� ver o show de Tiaguinho”, lembrou Priscila.
“Um dos orgulhos de Hanna era dizer que era motorista. Na verdade, ela foi tamb�m um anjo da guarda da filha, que estava sentada ao lado, e dos passageiros”, disse Priscila. Depois do acidente, a fam�lia ouviu relatos de quem estava BRT/Move, que passou segundos antes na frente do suplementar. “As pessoas disseram que Hanna salvou a vida deles, pois deu passagem ao Move”, disse Teresa.
CHARLYS
Os familiares de Charlys Frederico Moreira do Nascimento, a outra v�tima do desabamento, tamb�m n�o escondem o sofrimento. “Temos recebido ajuda dos amigos e apoio de toda a fam�lia. A gente vai levando a vida…”, afirmou, na tarde de ontem, por telefone, a mulher dele, Cristilene Pereira Sena.
Emocionada, ela passou o telefone para a amiga e vizinha do Bairro Aeronautas, Cristiane Rodrigues, que a ajudado a resolver problemas. “Eles faziam planos, pretendiam ter um filho e casar. S� depois da per�cia e fim das investiga��es � que ser�o tomadas provid�ncias”, adiantou Cristiane.