Tiago de Holanda

Enquanto um laudo oficial n�o define as causas da queda do Viaduto Batalha dos Guararapes, a Cowan, respons�vel pelas obras, continua trocando acusa��es com a Consol Engenheiros Consultores, autora do projeto executivo. A construtora sustenta que seguiu � risca as orienta��es do projeto e que ele continha erros de c�lculo. A outra parte nega que tenha cometido equ�vocos e defende que o desabamento teve outros motivos. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas afirmam que a Cowan n�o tinha obriga��o de perceber as supostas falhas, mas que podia t�-las notado, se tiverem sido t�o grosseiras quanto a empresa afirma.
Ele nega que o projeto apresentasse erros e evita apontar o que causou o desabamento. “As causas s�o uma quest�o que a per�cia (coordenada pela Pol�cia Civil) vai observar. N�o se pode de forma simplista atribuir uma �nica causa, a n�o ser que seja extremamente evidente, o que n�o ocorreu nesse caso. Diversos fatores contribu�ram”, afirma. Lanna questiona a recomenda��o feita na ter�a-feira pela Cowan para que seja demolida tamb�m a al�a norte do viaduto, que continua de p� com sua estrutura de sustenta��o refor�ada por escoras. “Se o problema, como diz a construtora, est� no bloco de funda��o, e nenhum outro problema foi apontado, o resto est� �timo. Ent�o, por que demolir? Por que n�o consertar apenas o que est� errado?”, questiona, referindo-se ao fato de o parecer t�cnico contratado pela construtora, sem validade legal ou oficial, ter apontado que as supostas falhas do projeto executivo atingiram as bases de pilares das duas al�as da edifica��o.
Demoli��o
A hip�tese de manter de p� a al�a norte, no entanto, � descartada pelo diretor da unidade construtora da Cowan, Jos� Paulo Toller Motta. Segundo ele, n�o d� para saber o n�vel de comprometimento da estrutura. O relat�rio parcialmente divulgado ontem apontou que as 10 estacas fincadas no bloco de concreto sob um pilar da al�a sul n�o tinham capacidade para sustentar o peso a que estavam submetidas. Al�m disso, o bloco n�o tinha arma��es de a�o suficientes para evitar se romper. Ao se quebrar, a estrutura concentrou a carga inteira nas duas estacas centrais, o que fez o pilar afundar. Os erros de c�lculo estariam no projeto executivo.
A mesma falha teria ocorrido na funda��o de um pilar da al�a norte. Segundo Motta, essa estrutura de funda��o tamb�m deve ter sofrido avarias, embora n�o se saiba em que grau. O escoramento feito ap�s o desabamento poderia garantir que a al�a continuasse de p�, caso ela fosse reta, diz o diretor. “O escoramento hoje aguenta boa parte de todos os esfor�os (for�as) verticais (feitas de cima para baixo), mas esse viaduto � inclinado, em curva e rampa. Ele tem esfor�o lateral e longitudinal”, explica. “Esse pilar pode cair para o lado, para frente ou para tr�s. Esse movimento bateria no escoramento e geraria um efeito domin�”, acrescenta.
Motta afirma que a construtora n�o tinha condi��es de perceber as supostas falhas no projeto executivo. “Para verific�-las, eu teria que refazer o projeto. Tenho que recalcular toda a geometria do viaduto, verificar as cargas. S� assim eu conseguiria em um programa computacional verificar se a quantidade de a�o seria suficiente ou n�o”, disse. “N�o somos contratados para fazer isso. N�o � rotina”, prosseguiu.
Responsabilidades
Ainda que o contrato firmado com a construtora n�o a obrigue a tomar essa medidas, os equ�vocos apontados pelo parecer t�cnico poderiam ter sido notados, j� que s�o muito graves. � o que defende o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avalia��es e Per�cias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG), Clemenceau Chiabi. “Diante de erro t�o grotesco, o engenheiro de obra poderia ter consultado o calculista. Ele poderia ter feito um questionamento, mas na praxe da engenharia o projeto n�o � conferido”, explicou.
A avalia��o � refor�ada pelo engenheiro Alberico Alves Teixeira, especializado em engenharia de estrutura de concreto e a�o. “Normalmente, a construtora s� executa, mas as falhas poderiam ter sido percebidas se o engenheiro respons�vel pela obra tivesse conhecimento de engenharia de estrutura”, analisa. “Erros dessa dimens�o n�o s�o comuns. Foi muito descuido, se eles tiverem de fato ocorrido, o que ainda n�o foi oficialmente comprovado”, afirma.
Erros no projeto executivo s�o “de inteira responsabilidade” da empresa autora, afirma a Prefeitura de Belo Horizonte, em nota. “A contratada assumir�, ao assinar o contrato, a responsabilidade civil exclusiva por danos ao munic�pio ou a terceiros, por acidentes e mortes, devido a falha na elabora��o dos projetos”, acrescentou o texto. Apesar disso, o �rg�o informa que a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) tem a incumb�ncia de “avaliar, reprovar ou aprovar os projetos”.