
A quantidade de haitianos nas ruas do Bairro S�o Pedro, em Esmeraldas, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, impressiona. Pela manh� e in�cio da noite, quando est�o indo ou voltando do trabalho, para cada 10 pessoas nos pontos de �nibus a m�dia � de cinco ou seis imigrantes do pequeno pa�s caribenho, arrasado por um terremoto em 2010 e assolado pela pobreza. Em um desses pontos est� Neslair Fran�ois, de 32 anos, que chegou ao Brasil h� oito meses para encontrar parentes e amigos. Ele trabalha em uma lavanderia em Belo Horizonte e aproveitou a quarta-feira de folga para procurar emprego para o irm�o e um amigo que haviam chegado tr�s dias antes, sem falar nada de portugu�s. Neslair vive com outros seis conterr�neos em uma casa e ainda sonha em trazer os pais e irm�os. Assim como ele e seus companheiros em busca de trabalho, no bairro os haitianos andam sempre em grupos, conversando na l�ngua pr�pria: crioulo haitiano ou franc�s.
Com suas peculiaridades culturais, os imigrantes se integram lentamente com os brasileiros, por quem s�o considerados s�rios demais. “Chegam sem falar portugu�s e n�o sabem nem contar dinheiro”, conta a balconista de supermercado Luciana Cardoso, de 31, que os ajuda a separar as notas na hora de pagar. “S�o honestos: se falta um centavo, saem correndo e v�o em casa buscar”, conta.
Os haitianos n�o s�o vistos em bares bebendo, nem fazendo arrua�a pelas ruas. A Pol�cia Militar s� tem elogios para eles. “S�o bons funcion�rios. Trabalham o dia todo sem reclamar. N�o me lembro de nenhuma ocorr�ncia policial envolvendo haitianos nos �ltimos dois anos e meio”, atesta o subcomandante da PM de Esmeraldas, capit�o Davidson Gon�alves.
A religi�o predominante no Haiti � cat�lica, mas na Grande BH eles buscam conforto espiritual nas igrejas evang�licas que desenvolvem trabalhos sociais para ajud�-los. Em dezembro do ano passado, o pastor Alessandro J�nior Soares, do Bairro S�o Genaro, disse ter ficado impressionado com a situa��o calamitosa de 12 deles vivendo em um barrac�o de tr�s c�modos, sem falar uma palavra de portugu�s. O religioso come�ou a dar aulas para os imigrantes no sal�o da igreja. Mandava busc�-los de van, tamb�m para participar dos cultos.
O pastor fez uma campanha para empreg�-los e uma construtora de Santa Luzia contratou 37 imigrantes. Outra, de Contagem, 16. Hoje, v�rias empresas procuram o religioso querendo empregar grupos de at� 10 haitianos de uma vez.
A maioria dos homens trabalha na constru��o civil, como demonstrou a pesquisa “Migra��o haitiana para o Brasil”, da Organiza��o Internacional para as Migra��es (OIM), que revela que 40% dos haitianos no Brasil t�m curso m�dio e 30% trabalham como pedreiros ou serventes. “Empresas aliment�cias e lavanderias tamb�m empregam muito. H� empresas de recursos humanos que oferecem sal�rio de R$ 800 para empregada dom�stica haitiana, mas que fale ingl�s”, disse o pastor.
De imigrantes
a professores
Muitos imigrantes passam de alunos a professores, dando aulas de franc�s e ingl�s em espa�os cedidos pelas igrejas. Cobram mensalidade de R$ 20 da comunidade pobre do Bairro S�o Pedro. Outras duas turmas com brasileiros come�am em 13 de outubro, na Igreja Presbiteriana do Bairro C�u Azul, Regi�o da Pampulha, na capital, com mensalidade de R$ 35.
De acordo com a pesquisa da OIM, os haitianos que chegam ao Brasil t�m n�vel de instru��o elevado, at� maior do que o de brasileiros com quem trabalham. “Primeiro, chegaram professores, estudantes de medicina, pessoas que se declararam juizes de direito e at� diplomatas. Em um segundo momento, passaram a vir pessoas com ensino fundamental completo e alguns com ensino m�dio incompleto”, informa coordenador da pesquisa, o professor Duval Fernandes, do Programa de P�s-gradua��o em Geografia da PUC Minas . Muitos imigrantes com curso superior acabam indo trabalhar na constru��o civil e o especialista lamenta o fato de o Brasil n�o aproveitar esse capital humano.
Franc Remy, de 22, abandonou o segundo ano da faculdade de qu�mica em Porto Pr�ncipe para morar em Esmeraldas. Chegou h� seis meses e trabalha em uma distribuidora de Contagem. Sal�rio de R$ 1,1 mil. “Fiquei sabendo de Esmeraldas por amigos que vieram antes do Haiti”, conta o jovem, cujo pai � diretor de escola em Porto Pr�ncipe. “Nunca tinha trabalhado antes. Ganhava at� roupa do meu pai”, disse.
Al�m do franc�s e do crioulo haitiano, Franc fala ingl�s e j� chegou sabendo um pouco de portugu�s. Seu objetivo maior � dominar a l�ngua dos brasileiros e fazer faculdade de administra��o ou agronomia, pois pretende voltar ao seu pa�s somente com curso superior.
A m�dia salarial dos haitianos na Grande BH � de um sal�rio m�nimo (R$ 724). Jonas Lou�s, de 29, chegou h� tr�s meses e trabalha numa f�brica de sapatos em Contagem, mesmo sem falar nada de portugu�s. “Muito trabalho e pouco dinheiro”, disse ele, em franc�s, juntando o polegar e indicador para mostrar o tamanho do sal�rio para a jornada de segunda a sexta-feira, das 7h30 �s 17h30.