
No ambiente de trabalho dos haitianos o que n�o faltam s�o os elogios dos patr�es, mas h� tamb�m cr�ticas. O mestre de obras Jo�o Alves, de 45 anos, emprega 50 caribenhos em uma obra do programa Minha casa, minha vida, no Bairro Floresta Encantada, em Esmeraldas, e s� fala bem dos estrangeiros. “S�o excelentes trabalhadores”, considera. Ele conta que j� teve ajudantes de pedreiro haitianos com curso superior em engenharia civil e qu�mica, que, apesar do diploma, n�o sabiam o servi�o de pedreiro e aceitavam o de serventes.
O mestre de obras conta que tem amigos brasileiros que s�o pedreiros e ajudantes, mas que d� oportunidade de trabalho aos haitianos para ajud�-los. “Se n�o ajudar, eles passam fome e fazem coisas erradas. Eles n�o sabem falar portugu�s e s�o muito explorados no mercado a� fora”, diz Jo�o, que admite n�o assinar a carteira de trabalho dos imigrantes, que s�o contratados por empreitada. “Pago por etapa. Levantam tantas paredes e pago R$ 1,3 mil”, explica ele, que conta ter perdido recentemente dois professores em sua obra. � comum que construtoras de S�o Paulo os busquem para trabalhar no estado vizinho.
O haitiano Wisten Dieurilus, de 22, trabalha com Jo�o Alves. O estrangeiro, que levanta paredes ao lado de conterr�neos como Pierre Angust e Evenons Oreclus, est� no Brasil h� sete meses. Sua mulher chegou h� poucos dias. Formada em contabilidade, ela est� disposta a aceitar qualquer emprego, conta Winsten. Mulheres t�m mais dificuldade em encontrar trabalho, pois s�o oferecidos servi�os dom�sticos e muitas n�o falam portugu�s. Segundo o pesquisador Duval Fernandes, o n�mero de haitianas no Brasil ainda � pequeno. “As ocupa��es que elas buscam exigem contato com o p�blico e o aprendizado do idioma � uma barreira”, explica o professor.
PRODUTIVIDADE MENOR Os homens encontram mercado mais facilmente, mas nem tudo s�o flores no relacionamento com os brasileiros. O gerente de log�stica Marc�lio de Moura tem mais cr�ticas do que elogios aos seus funcion�rios haitianos. “J� empreguei 49 e estou s� com 35. S�o menos produtivos. Um brasileiro lento faz tr�s vezes mais do que um haitiano. Temos muita dor de cabe�a com eles”, reclama. Segundo ele, os estrangeiros deixam de trabalhar para renovar visto e n�o resolvem nada sozinhos. A empresa, segundo ele, contratou um int�rprete para ensin�-los portugu�s, acompanh�-los ao banco e ao hospital. “Tamb�m passam muito mal com a comida brasileira. N�o se esfor�am para falar portugu�s e fazem o servi�o do jeito que querem”, queixa-se.
Segundo Marc�lio, apesar disso, em sua empresa os caribenhos recebem o mesmo sal�rio que os brasileiros, de R$ 1,1 mil, e todos os benef�cios previstos em lei. Mesmo reclamando, o gerente n�o abre m�o dos estrangeiros, mais decidiu contratar grupos de no m�ximo cinco para adapt�-los melhor ao sistema de trabalho brasileiro. Entre os 35 trabalhadores, h� cinco mulheres. “Temos que encaminhar as gestantes ao m�dico e temos dificuldade de conseguir escolas p�blicas para as crian�as, principalmente em creches para beb�s de at� oito meses”, disse o int�rprete Daniel. Segundo Marc�lio, crian�as haitianas sofrem discrimina��o nas escolas pela cor da pele e por n�o falar portugu�s.
Segundo o professor Duval Fernandes, a pesquisa “Migra��o haitiana para o Brasil”, da Organiza��o Internacional para as Migra��es (OIM), revelou que a igualdade de direitos trabalhistas n�o � a t�nica para os haitianos. “H� empres�rios inescrupulosos que tentam se aproveitar da situa��o: n�o assinam carteira de trabalho e pagam sal�rios menores do que aos brasileiros”, afirma. Ele conta que, durante a pesquisa, conversou com um empres�rio da limpeza p�blica de Porto Velho (RO), que tinha 30% dos empregados caribenhos, mas tinha a inten��o de chegar a 100%. “Disse que os haitianos n�o causavam problemas e que as reclama��es da popula��o em rela��o � atitude dos lixeiros havia ca�do enormemente. Havia apenas um problema: enquanto um brasileiro pegava 10 sacolas de lixo e deixava tr�s pelo meio do caminho, o haitiano pegava uma por uma, mas n�o ficava nada para tr�s. Realmente, eles n�o t�m o mesmo ritmo de trabalho do brasileiro”, admite o pesquisador.
Constru��o absorve os que chegam
Com o aquecimento do setor da constru��o civil em Esmeraldas, os haitianos ter�o emprego garantido por muito tempo ainda. De acordo com o secret�rio municipal de Obras do munic�pio, S�lvio L�cio Santos, mil lotes receberam moradias populares nos �ltimos tr�s anos no Bairro S�o Pedro e ainda faltam 1,8 mil terrenos na regi�o para construir. Ainda h� 1,8 mil lotes no Bairro S�o Pedro 2 e bairros vizinhos est�o em expans�o, segundo ele. “S�o mais mil lotes no Bairro Floresta Encantada. O Recanto do Eldorado tem loteamento aprovado desde 1982 e est� pronto para receber mais moradias”, disse o secret�rio.
Em quatro anos, Esmeraldas ganhou mais 5.966 moradores, segundo o IBGE. A popula��o, que � estimada em 66,2 mil, distribu�dos em 910 quil�metros quadrados, j� pode ter ultrapassado os 80 mil, segundo o prefeito Glacialdo de Souza (PT). “� o munic�pio que mais cresce na regi�o metropolitana. Muita gente est� vindo de Contagem e Ribeir�o das Neves morar aqui, sem falar dos haitianos, que s�o muitos”, disse Glacialdo. Nos tr�s postos de sa�de dos bairros S�o Pedro, Santa Cec�lia e S�o Francisco s�o 100 fam�lias haitianas atendidas, segundo a coordenadora de Aten��o Prim�ria � Sa�de da cidade, Ricarda Maria Barbosa Santos.
Para o prefeito, a presen�a dos haitianos n�o afeta o mercado de trabalho. Segundo ele, os estrangeiros s�o esfor�ados, d�ceis, educados e buscam aux�lio espiritual nas igrejas evang�licas e cat�licas, mas ele se diz preocupado com a explora��o deles no trabalho e at� defende uma fiscaliza��o por parte do Minist�rio P�blico. As escolas do programa Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) est�o abertas para os imigrantes, disse o prefeito.