“Agora, sou o garoto propaganda.” Assim, Jos� Maria Rocha, de 65 anos, brinca sobre o afastamento da linha de frente de um dos bares mais tradicionais de Belo Horizonte, o Bol�o. Devido a problemas de sa�de, ele est� nos bastidores, a sociedade foi desfeita e � tocada agora parte pelo irm�o S�lvio Rocha, que o representa, e parte pelos sobrinhos. O Bar Bol�o, um dos mais tradicionais da capital, encravado no cora��o do Bairro Santa Tereza, Regi�o Leste, foi batizado com a alcunha que Jos� Maria recebeu quando garoto, aos 6 anos. “Uma empregada da dona da casa na qual minha fam�lia morava, no quintal ao fundo, me aconselhou a n�o deixar ningu�m me colocar apelido, porque iria pegar.” A alcunha n�o s� lhe caiu com uma luva, como se tornou parte da identidade do empreendedor e um dos s�mbolos da capital nacional dos bares. “Nunca achei ruim ser chamado de Bol�o. Fico bravo � se me chamarem pelo nome.”
A marca se tornou sin�nimo de boa comida, o que possibilitou a expans�o com a abertura de outras quatro filiais. A primeira delas, na rua M�rmore, no final da d�cada de 1980. A segunda, no Bairro Cora��o Eucar�stico e, este ano, mais duas: no Funcion�rios e S�o Pedro, ambos na Regi�o Centro-Sul. A expans�o ocorre no momento em que � desfeita parte da sociedade familiar. O irm�o S�lvio Rocha assumiu administra��o do Bol�o 2 e das filiais, enquanto o casar�o hist�rico, na Pra�a Duque de Caxias, passou a ser gerenciado pelos sobrinhos. Nos tempos �ureos, Bol�o servia cerca de 500 refei��es por dia, quase 15 mil pratos em um m�s. Atualmente, o Bol�o 2 e as tr�s filiais comercializam cerca de 700 refei��es por dia. Os bares n�o se rendem � moda gourmet. “N�o gosto dessa hist�ria de ervas n�o sei o qu�. N�o gosto de alecrim, manjeric�o. Gosto de sal, alho e cebola e tamb�m de folha de louro”, afirma.
Devido a problemas de sa�de, entre os quais complica��es resultantes de diabetes, Bol�o n�o fica mais � frente do bar como gostaria. Mas como o principal rela��es p�blicas, como ele se autodefine. Costuma passar as tardes proseando com a vizinhan�a e com clientes que frequentam o estabelecimento do Santa Tereza h� d�cadas. Sentado na cal�ada, de tempos em tempos algu�m se aproxima para bater papo.
O espaguete e o roched�o (arroz, feij�o, batata, bife e ovo) s�o o carro-chefe do Bol�o. As receitas foram criadas sob a batuta de Jos� Maria. Tanto para quem mora na cidade, como para quem vem a passeio, n�o se pode conhecer a capital sem passar pelo bar. A ideia de servir espaguete surgiu em 1966, quando outro estabelecimento na regi�o, que vendia a iguaria italiana, fechou as portas. Os clientes pediam e Bol�o resolveu oferecer. “Aprendi a preparar. Por muitos anos, eu fazia tudo sozinho, gostava de fazer tira-gosto, como peixe frito, p� de porco e frango ao molho pardo. Aprendi a preparar com minha m�e, Maria dos Passos Rocha.”
Boa prosa
Sem atrativos, como m�sica ao vivo, o bar conquistou a clientela pelo card�pio e pela boa prosa com Bol�o. “Tinha uma turma de 40 m�dicos que vinha conversar, tomar cerveja e comer. Outro grupo de 25 policiais frequentava todas as sextas-feiras para cantar. Muita gente saia de festas e ia para l�”, lembra. No in�cio, ele fechava �s 20h, depois passou para as 22h, 1h, 2h. “Um dia, um fregu�s chegou �s 4h e eu disse a cozinha estava fechada. E mostrei o rel�gio. A partir de ent�o, enchi o lugar de rel�gios.” Eram cerca de 150 pendurados na parede, muitos deles presenteados por clientes. Mesmo com o fim na sociedade, os rel�gios tamb�m ficaram no casar�o administrado pelos sobrinhos. “Fiquei l� 48 anos, mas foi melhor desfazer a sociedade.”
Nascido e criado em Santa Tereza, Bol�o n�o se imagina em outro bairro. “Esse lugar � a minha vida. Toda hora passa algu�m, me cumprimenta e vem conversar.” No local onde nasceu, atualmente h� uma padaria. A voca��o para lidar com o p�blico j� se mostrava na inf�ncia. Ainda menino trabalhou como entregador de um armaz�m no bairro. Por causa do diabetes, ele precisa comer de maneia comedida o espaguete a bolonhesa. Tamb�m precisa reduzir a quantidade de doces, a sua paix�o. Pai de dois filhos e av� de tr�s netos, de vez em quando ele descumpre a ordem m�dica. Mas, se quiser desagrad�-lo, basta convid�-lo para comer frango com quiabo. Quiabo e jil� est�o entre as coisas que menos gosta.
LINHA DO TEMPO
1961 - Abertura do Bol�o em Santa Tereza
1970 - O bar se torna ponto de encontro dos m�sicos do Clube da Esquina
1989 - Abertura do Bol�o 2, na Rua M�rmore na esquina com a rua Tenente Durval
1994 - O bar ganha o primeiro das dezenas de rel�gios pendurados nas paredes. Foi criado o roched�o, prato que se tornou um cl�ssico
2011 - Abertura da unidade no Cora��o Eucar�stico
2014 - Abertura das unidades do Funcion�rios e do S�o Pedro