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Estado de Minas

Estudo de restaurador atribui a Aleijadinho autoria de tr�s pe�as expostas em Ouro Preto

Resultado ser� submetido a grupo que avalia obras do mestre mineiro


postado em 13/01/2015 06:00 / atualizado em 13/01/2015 07:24

Gustavo Werneck

 

Imagens de Nossa Senhora da Guia, São Raimundo Nonato e São Pedro Nolasco(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Imagens de Nossa Senhora da Guia, S�o Raimundo Nonato e S�o Pedro Nolasco (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Ouro Preto – O ano para lembrar o bicenten�rio de morte de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), chegou ao fim, mas o legado do mestre do barroco est� cada vez mais vivo e surpreendente. Depois de estudos iniciados em 2011, o restaurador e professor Ant�nio Fernando Santos atribuiu tr�s pe�as, em Ouro Preto, na Regi�o Central, ao artista, que foi escultor, entalhador, arquiteto e perito. S�o elas a imagem de Nossa Senhora da Guia, do acervo da Par�quia de Santa Efig�nia, e duas tamb�m em madeira da Capela de Nossa Senhora das Merc�s e Miseric�rdia, mais conhecida como Merc�s de Cima: S�o Pedro Nolasco e S�o Raimundo Nonato.

Segundo Ant�nio Fernando, as esculturas da primeira fase de Aleijadinho, que vai de 1760 a 1774, representam a �poca em que a obra dele ainda exibia forte influ�ncia europeia. Ao contr�rio das demais imagens conhecidas na atualidade, os tr�s objetos s�o na categoria “de vestir” e de “roca”, o que significa cabe�a e corpo sobre estrutura de madeira que recebe roupas de tecido. Os sapatos ficam aparentes. “As pe�as de roca eram muito comuns e, claro, mais leves do que as maci�as, facilitando o transporte sobre o andor durante as prociss�es. No caso espec�fico de Nossa Senhora da Guia, o corpo � articulado, como se fosse de uma boneca, mostrando ousadia por parte de Aleijadinho”, afirma.

At� agora, o conjunto n�o est� citado em nenhum dos livros sobre o patrono das artes no Brasil, nem mesmo na obra refer�ncia O Aleijadinho e sua oficina – Cat�logo das esculturas devocionais, editado em 2002, de autoria dos especialistas Myriam Andrade Ribeiro Oliveira, Olinto Rodrigues dos Santos Filho, do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), e do pr�prio Ant�nio Fernando, que trabalhou como restaurador no Iphan e hoje � docente da Universidade Fumec, em Belo Horizonte. No volume, est�o listadas 128 esculturas devocionais em madeira, trazendo obras esculpidas inteiramente por Aleijadinho e outras que fez com os subordinados.

O restaurador cita a imagem de Nossa Senhora da Guia, com 80 cent�metros de altura, como das mais bonitas e requintadas que conhece. “Tem olhar misterioso. Os olhos arredondados, amendoados, se assemelham aos de Nossa Senhora das Merc�s, que est� na Bas�lica de Nossa Senhora do Pilar, e aos do Anjo Tocheiro, exposto no Museu da Inconfid�ncia (na Pra�a Tiradentes, no Centro Hist�rico de Ouro Preto). Al�m disso, a pe�a tem requinte escult�rico, cabelos penteados � moda europeia da segunda metade do s�culo 18”, explica. A obra se encontra em �timo estado de conserva��o.

As imagens dos santos t�m 1,45 metro de altura e podem ser vistas nos altares laterais da Capela de Nossa Senhora das Merc�s e Miseric�rdia, vinculada � Par�quia de Nossa Senhora do Pilar, e distante 50 metros da Pra�a Tiradentes. Do lado esquerdo de quem olha para o altar, est� S�o Pedro Nolasco, com a veste branca, e do direito, com roupa vermelha denotando seu posto de cardeal, S�o Raimundo Nonato. As duas esculturas ficaram guardadas durante muito tempo, devido � restaura��o do templo barroco e, como a de Nossa Senhora da Guia, n�o t�m documento que comprovem autoria.

Pesquisas
O pr�ximo passo nas pesquisas, diz Ant�nio Fernando, ser� levar o resultado para avalia��o do grupo empossado dia 18 de novembro, pela dire��o do Iphan, para estudar as imagens atribu�das ao artista mineiro. “Por enquanto, tenho um estudo formal que vai demandar comprova��o cient�fica”, diz o restaurador. Do grupo, fazem parte, al�m os tr�s autores do livro refer�ncia – Myriam Andrade Ribeiro Oliveira atua como consultora –, a restauradora Lucienne Elias, do Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais M�veis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor/UFMG) e o promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador das Promotorias de Justi�a de Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais (CPPC/Minist�rio P�blico de Minas Gerais). Outros especialistas far�o parte da turma que vai conhecer melhor o acervo e trabalhar para evitar perdas e combater as falsifica��es.

Entusiasmado, Ant�nio Fernando destaca o ano do bicenten�rio do g�nio da arte colonial como produtivo em v�rios aspectos. “Houve muita visibilidade para a obra de Aleijadinho e um interesse cont�nuo por parte da sociedade. Eventos assim s�o fundamentais, pois valorizam a arte colonial e inibem os furtos em igrejas, capelas e museus. Felizmente, em 2014, n�o tivemos esse tipo de ocorr�ncia”, conclui o restaurador.

 

Inspira��o para artistas

 

Congonhas e Mariana – A arte do mestre Aleijadinho continua a inspirar muitos artistas mineiros. E alguns mostram os m�todos de trabalho do patrono das artes no Brasil. Na sua oficina em Congonhas, na Regi�o Central de Minas, o escultor Luciomar Sebasti�o de Jesus, de 50 anos, amarra faixas de tecido na m�o. Depois pega o form�o e simula a forma de trabalhar de Antonio Francisco Lisboa, quando o mestre do barroco j� estava com as limita��es causadas por uma misteriosa doen�a. A pr�xima demonstra��o ser� com um arco de madeira que, impulsionado, gira sobre a base de pedra-sab�o e fura a superf�cie como se fosse a broca de uma pua. “Aleijadinho tamb�m trabalhava com goivas, macetes ou malhos. Fazia suas ferramentas para trabalhar a pedra-sab�o e a madeira”, diz Luciomar.

Os olhos do escultor brilham ao falar de Antonio Francisco Lisboa, de quem se considera um seguidor. “Ele morou em Congonhas por oito anos e sua obra sempre me inspirou”, afirma Luciomar, que costuma receber visitantes em seu ateli�, localizado perto do Santu�rio Bas�lica do Bom Jesus de Matosinhos, e encanta a todos com sua t�cnica e produ��o art�stica. “Sou autodidata e vivo impregnado pela arte barroca. Sou o que sou por causa de Aleijadinho. Arte � vida e sempre bebi dessa fonte”, afirma com orgulho.

J� em Mariana, a 115 quil�metros de Belo Horizonte, o artista pl�stico Elias Layon, com cinco d�cadas de experi�ncia e dono de ateli� na Pra�a de S�o Pedro dos Cl�rigos, no Centro Hist�rico, tamb�m se diz seguidor do mestre mineiro falecido h� 200 anos. “Aleijadinho � nossa maior refer�ncia”, diz Layon. No seu ateli�, o escultor e pintor destaca os pontos principais do “mestre”: grande expressividade dos rostos, anatomia e panejamento (roupas). Layon cita a pintura de Manuel da Costa Ata�de (1762-1830), natural de Mariana, como outro destaque da arte colonial. “Aleijadinho e o mestre Ata�de fizeram uma simbiose perfeita. Ata�de � o lado crom�tico de Aleijadinho. Os dois se complementaram em bela harmonia, e o melhor exemplo est� na Igreja de S�o Francisco de Assis, em Ouro Preto.”
 


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