
O esgoto a c�u aberto, os montes de entulhos e os in�meros barracos de ocupa��es irregulares mudaram a paisagem e comprometeram a qualidade da �gua do C�rrego do On�a, que corta a Regi�o Nordeste de Belo Horizonte. Este triste cen�rio se repete em grande parte dos rios de Minas, que sofrem ainda com a escassez de chuva e a falta de saneamento b�sico e de preserva��o. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) divulgados pela Secretaria de Meio Ambiente mostram que 57% da popula��o urbana de Minas n�o contava com o servi�o de tratamento de esgoto em 2013, �ltimo estudo dispon�vel. Na regi�o metropolitana, o �ndice � menor (17,5%), enquanto em Belo Horizonte o �ndice fica em 13%, segundo a Copasa.
Longe dos gabinetes dos gestores dos recursos h�dricos, os rios de Minas sofrem cada vez mais com as falta de a��es preventivas. Coordenador do Centro de Pesquisas Hidr�ulicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Barreira Martinez afirma que, se h� duas d�cadas tivesse sido implantado um programa de tratamento de esgoto generalizado, a atual situa��o dos rios seria muito mais confort�vel. “Escassez de �gua n�o � s� quest�o de chuva. Resulta da polui��o e da contamina��o dos rios, do assoreamento, da falta de pr�ticas de reuso, entre outros problemas. Somos um estado suficientemente rico para possibilitar qualidade ambiental � popula��o, mas n�o fazemos isso por entraves nas pol�ticas p�blicas”, avalia.
CRESCIMENTO Enquanto faltam investimentos para preserva��o, outro agravante para a degrada��o dos mananciais ocorreu ao longo dos anos. “A popula��o cresceu em todas as �reas do estado, a economia se multiplicou, as pessoas se mudaram do campo para a cidade e a demanda por �gua aumentou. As pessoas tamb�m passaram a poluir cada vez mais os cursos d’�gua, provocando a morte de muitos rios em Minas”, afirma o coordenador do Projeto Manuelz�o e presidente do Comit� da Bacia do Rio das Velhas, Marcus Polignano.
O especialista alerta que a escassez de chuva poderia ser amenizada se os rios estivessem mais bem preservados. E recomenda: “� preciso pensar al�m de uma pol�tica de conting�ncia ou de constru��o de barragens, investir no tratamento de esgoto, na conserva��o das nascentes, das matas ciliares, na preserva��o das margens e na reavalia��o das outorgas para capta��o de �gua”.
Segundo ele, � essa l�gica de fortalecimento dos recursos h�dricos que deve ser trabalhada daqui para a frente. “A tend�ncia � uma estiagem ainda pior. Vamos entrar numa situa��o de sacrif�cio. Todo o sistema de abastecimento do estado j� est� comprometido desde o ano passado”, afirma. Polignano cita o exemplo da Bacia do Rio S�o Francisco: “A represa de Tr�s Marias j� deveria estar enchendo. Mas est� acontecendo o contr�rio. Chegou a parar de gerar energia por causa da seca. Se continuar a n�o chover, n�o vai haver �gua para abastecer cidades como Pirapora .
Na Bacia do Rio das Velhas, o C�rrego do On�a est� abaixo do n�vel normal e a qualidade da �gua, apesar dos avan�os, � ruim. Uma das explica��es vem do depoimento da dona de casa Maria Vanderci dos Santos, de 50 anos, que vive em um barraco �s margens do curso d’�gua: “Tem gente que joga lixo e entulho. Vim morar aqui porque n�o podia pagar aluguel, mas sei que isso prejudica o rio”.