Junia Oliveira

M�dicos do Hospital das Cl�nicas (HC), em Belo Horizonte, querem a interven��o do Minist�rio P�blico Federal (MPF) para resolver a crise na unidade de sa�de. Eles denunciam que, desde o fim de novembro, o atendimento est� comprometido em todos os setores. De acordo com a den�ncia, por falta de repasse de verbas do governo federal, faltam de medicamentos b�sicos a profissionais em �reas- chave, como o Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Nem mesmo os transplantes escaparam e, alguns deles, simplesmente, deixaram de ser feitos. Substituir medicamentos ou adiar terapias essenciais � vida de pacientes em estado grave se tornarou rotina dos profissionais da institui��o, uma das refer�ncias em procedimentos de alta complexidade no estado.
“O hospital enfrenta uma crise financeira grave, como nunca vista antes. Sempre houve problemas, mas pontuais. Desta vez, � generalizado. Cortaram tudo”, afirma o presidente da Associa��o dos M�dicos Residentes do HC (Amerehc), Weverton C�sar Siqueira. Ele conta que pacientes est�o ficando at� sem medicamentos b�sicos, como dipirona. Tamb�m est�o em falta antibi�ticos e medicamentos mais potentes, como imunossupressores – indicados para quem tem doen�as autoimunes, entre elas l�pus e nefrite. Segundo o m�dico, embora a diretoria esteja se desdobrando para contornar o problema, seja pegando medicamentos emprestados com a Prefeitura ou com outros hospitais, � comum o atraso de at� quatro dias nos tratamentos.
Profissionais informam que cogitou-se at� mesmo fechar o pronto-atendimento, mas a ideia foi deixada de lado por causa do conv�nio firmado com a PBH para receber pacientes com acidente vascular encef�lico e doen�as cardiol�gicas diversas. “Hoje, a prefeitura � o maior parceiro para empr�stimo de medicamentos e insumos”, diz Siqueira. Luvas e tubos tamb�m andaram � m�ngua. “S� t�nhamos tubos de dois tamanhos: 9, para pacientes imensos, e 7, para pequenos. N�o pod�amos trabalhar.”
O CTI est� funcionando, em muitos dias, com metade dos leitos, por falta de plantonista. Muitos foram demitidos depois que Empresa Brasileira de Servi�os Hospitalares (Ebserh), criada pelo governo federal para contratar funcion�rios para os hospitais universit�rios, passou a gerir as unidades de sa�de universit�rias. Fisioterapeutas do plant�o noturno tamb�m come�aram a ser dispensados anteontem, de acordo com os m�dicos.
Fechado tamb�m por falta de m�dicos est� o servi�o de transplante de f�gado. Ainda estariam comprometidos o de medula �ssea e de rins. “Estamos preocupados, porque a responsabilidade de n�o darmos um tratamento adequado cai em nossas costas. Queremos fazer den�ncia no MPF, porque o n�vel de austeridade est� irracional”, desabafa o presidente da Amerehc.
Uma m�dica que pediu anonimato tamb�m relata o drama dos �ltimos meses. Segundo ela, at� mesmo cirurgias foram adiadas por falta de material. “Tem pacientes na enfermaria com fratura precisando de procedimento e n�o � poss�vel fazer, gente que fica com tipoia porque n�o h� outra solu��o”, conta. Novos pacientes da oncologia e da dermatologia n�o est�o sendo recebidos. “Doentes em tratamento est�o com ele atrasado ou alterado por falta de medicamento. N�o temos itens b�sicos, como dipirona, soro e glicose. � dif�cil atender o paciente, porque n�o temos o que oferecer. Eles est�o indo embora sem atendimento e n�o � pontual.”
CONTROLADO Por meio da assessoria de impresa, o HC nega que haja uma crise. Informou que, h� tr�s semanas, materiais e medicamentos faltaram pontualmente e tiveram de ser substitu�dos. Isso se deveu ao atraso no pagamento de fornecedores e �s f�rias coletivas do ambulat�rio, que impediram a compra de insumos que � feita no fim do ano, normalmente, para os meses de janeiro e fevereiro. O problema foi causado pelo repasse tardio do Fundo Nacional de Sa�de. O hospital garante que n�o h� rem�dios nem material em falta.
Negou ainda que os transplantes tenham sido cancelados e admitiu problema apenas no hep�tico, por falta de pessoal. De acordo com a assessoria, quatro m�dicos do p�s-transplante passaram em concurso no Hospital Militar e se demitiram do HC. Informou que os pacientes foram encaminhados ao Hospital Fel�cio Rocho, para atendimento tamb�m pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS). Acrescentou que n�o houve redu��o do atendimento no CTI – dois leitos foram bloqueados por dois dias, porque um plantonista faltou. E negou que o fechamento do pronto-atendimento tenha sido cogitado. O hospital garante que, aos poucos, volta � normalidade e que a d�vida com fornecedores foi quitada.
Os m�dicos se re�nem hoje para discutir a situa��o. Eles querem que representantes de cada �rea apresentem os problemas enfrentados.