
“A Copasa aparentemente n�o d� conta de segurar toda essa polui��o difusa, inclusive esgoto clandestino. Ficar� mais barato ao longo do tempo investir nesse tratamento de c�rrego do que ficar desassoreando a lagoa ou fazendo tratamento de limpeza da �gua da lagoa”, disse ontem o prefeito da capital, Marcio Lacerda. O chefe do Executivo municipal afirma que a estrat�gia foi pesquisada por t�cnicos da Funda��o Zoobot�nica, que visitaram outros pa�ses com a inten��o de conhecer o sistema. Segundo a Sudecap, a tecnologia de “jardins filtrantes” consistir� em desviar o curso do c�rrego para uma esta��o natural de tratamento. “Essa unidade seria respons�vel por reduzir a carga poluidora durante a estiagem. No per�odo das cheias, a vaz�o excedente continuar� a escoar pelo leito natural do c�rrego”, informou a superintend�ncia, em nota.
Ainda n�o foi definido qual ser� o tipo de planta usada nesse processo, segundo fontes da Sudecap. O projeto depende de detalhamentos, mas j� � certo que a esta��o ter� um canal de desvio do curso d’�gua, gradeamento para barrar res�duos de grande porte e tanques com as plantas, nos quais vai ocorrer a deposi��o do material org�nico vindo do esgoto. “Adicionalmente, a prefeitura est� desenvolvendo estudos para instala��o de gradeamento para reten��o de s�lidos grosseiros (garrafas e sacolas pl�sticas) nos demais afluentes da Pampulha”, acrescenta a Sudecap. A lagoa � abastecida pelos c�rregos Mergulh�o, Tijuco, Ressaca, Sarandi, �gua Funda, Bra�nas, Olhos D’�gua e AABB.
O professor Ricardo Motta Pinto Coelho, coordenador do Laborat�rio de Gest�o Ambiental de Reservat�rios da UFMG, diz que essa tecnologia surgiu na d�cada de 1970 e � bastante conhecida. � comum em pa�ses mais populosos da �sia, como a �ndia, mas o especialista lembra que j� houve casos no Brasil em que as plantas foram jogadas na �gua de qualquer forma e ficaram fora de controle. “A pr�pria chegada dos aguap�s � Pampulha veio a reboque dessa tecnologia. O problema � que, se n�o houver controle, pode haver problemas, como o aumento de mosquitos, e gera��o de mais polui��o do que antes”, afirma o especialista. Ele lembra que � mais indicado usar as plantas nos afluentes do que na lagoa, para evitar esse descontrole. “� importante manter todo um manejo, pois as plantas retiram poluentes da �gua e os acumulam em sua biomassa. � preciso acondicion�-las da forma correta em aterros sanit�rios. J� vi exemplos modernos em que essas plantas ficam em barragens cobertas e podem at� virar compostagem para aduba��o de pra�as e jardins”, explica o professor.

CAPTA��O DE ESGOTO Um dos problemas para a entrada de esgoto na Lagoa da Pampulha � a situa��o das obras para a constru��o de quatro quil�metros de redes interceptoras, de responsabilidade da Copasa, em �reas de Contagem. Segundo o gestor da despolui��o pela empresa de saneamento, Valter Vilela, oito processos ainda sem decis�o judicial travam a desapropria��o de 17 im�veis da cidade vizinha, por onde os canos precisam passar. “Somente com a conclus�o dessas obras teremos condi��o de interceptar todo o esgoto que � lan�ado nos c�rregos da bacia”, afirma Vilela. Outro problema � a presen�a de 6 mil im�veis em Contagem e 800 em BH que j� t�m rede de esgoto dispon�vel na rua, mas ainda n�o fizeram a liga��o. “A Copasa est� trabalhando com as prefeituras de BH e de Contagem para sensibilizar essas pessoas. Esperamos que at� setembro esse n�mero seja reduzido”, completa. Atualmente, 22 milh�es de litros de esgoto chegam todos os dias � esta��o de tratamento do On�a, considerado apenas o material proveniente de Contagem que ia para a lagoa.
Enquanto a situa��o n�o se resolve, moradores da Pampulha contabilizam as v�rias tentativas de limpeza e criticam a falta de continuidade dos projetos e os altos custos dos processos. A diretora da Associa��o Pr�-Civitas, Cacilda Bonfante, que representa os bairros S�o Luiz e S�o Jos�, vive h� 40 anos na regi�o e se preocupa com os gastos excessivos, ao longo dos anos, para uma despolui��o que nunca foi efetiva. “Quando � que as autoridades v�o cumprir suas promessas?”, questiona. Tamb�m h� quatro d�cadas acompanhando a situa��o da lagoa, o presidente da Associa��o Comunit�ria do Bairro Bandeirantes, Afr�nio Alves de Andrade, diz que muitas atividades significam “jogar sal no oceano”, sem resultados ou efeitos. “� preciso haver entendimento pol�tico entre as prefeituras de Belo Horizonte e Contagem para resolver os problemas de polui��o dos c�rregos e dos esgotos”, afirma. (Com Gustavo Werneck).
D�cadas de falhas
Confira as tentativas fracassadas de limpar a lagoa
Aguap�s 1
Em meados da d�cada de 1970 a lagoa foi invadida pelos aguap�s. Segundo moradores mais antigos, a planta foi introduzida para tentar “limpar” o reservat�rio, que recebia grande quantidade de esgoto
Aguap�s 2
Tentativa de solu��o, os aguap�s viraram novo problema. Na d�cada de 1990 come�am as a��es para retirar as plantas, que se tornaram problema cr�nico e cobriam grande parte do espelho d’�gua
Barco
No in�cio de 2000, com a queda da oxigena��o na �gua, foram usados barcos de forma emergencial, com algum efeito positivo. Ao girar, a h�lice da embarca��o misturava ar e �gua, permitindo introdu��o do oxig�nio
Redes coletoras
Tamb�m no ano de 2000, a Copasa d� in�cio � constru��o das redes coletoras de esgoto e intercepta��o das liga��es clandestinas. Trata-se de um novo tempo na trajet�ria do reservat�rio
Floatflux
Em 2004, a um sistema chamado floatflux entra em opera��o nos c�rregos Ressaca e Sarandi, para retirar 80% de mat�ria org�nica e 90% de f�sforo – nutriente que propicia o crescimento de algas
Dragagem
Em 2013/2014 � feita dragagem para retirar sedimentos da lagoa. No total, foram 800 mil metros c�bicos de material
Recupera��o da qualidade da �gua
A licita��o dos Servi�os de Recupera��o da Qualidade da �gua da Lagoa da Pampulha foi suspensa por decis�o da Prefeitura de BH, at� que estejam integralmente implementadas as a��es de coleta e intercepta��o de esgotos na Bacia da Pampulha, que est�o sendo realizadas pela Copasa