
Quase vizinhos em territ�rio, mas com sedes municipais distantes, Nova Lima e Sarzedo t�m realidades econ�micas, populacionais e culturais bem diferentes. A religiosidade tamb�m � bem antag�nica nas duas cidades. Sarzedo tem hoje quase metade (40,5%) da popula��o de 32 mil habitantes formada por evang�licos – houve aumento de 14 pontos percentuais desde 2000 (26,3%) – e 90 igrejas tradicionais ou hist�ricas, que incluem a Batista, as pentecostais e neopentecostais. O crescimento tem explica��o, diz o presidente do Conselho de Pastores e L�deres Evang�licos de Sarzedo (Copales), pastor Edmilson Miguel J�lio, da Igreja Quadrangular, localizada no Bairro Bras�lia.
“O crescimento ocorreu depois da cria��o, h� nove anos, do Copales. Resolvemos seguir o verdadeiro sentido da palavra igreja, que vem do grego e significa ‘chamados para fora’ e ir para as ruas a fim de ficar mais perto das pessoas. H� muita gente sofrendo com a desagrega��o familiar, as drogas, desespero e outros problemas”, conta o pastor Edmilson, psic�logo, formado em filosofia e ex-vereador. Entre as iniciativas, foram criadas a Marcha para Jesus e a noite gospel, que ocorrer� em 30 de maio, e costuma reunir entre 12 mil e 15 mil pessoas. O pastor explica ainda que, no Bairro Bras�lia, havia grande n�mero de terreiros de candombl� e que 70% dos adeptos migraram para as igrejas evang�licas.
O presidente do Copales diz que n�o h� clima de animosidade com os cat�licos e diz que a religi�o se propaga em todas as camadas sociais. “Temos advogados, ju�zes, n�o h� mais esse tipo de preconceito. O importante � a pessoa se sentir bem e estruturar a sua vida”, afirma, explicando ainda que uma das maiores fa�anhas foi unir todas as igrejas evang�licas do munic�pio. “Fortalecemos o evangelho e convivemos com as diferen�as. A placa na porta com o nome da igreja n�o vale tanto quanto o respeito que existe entre n�s.”
O pastor M�rio Pacito, da Igreja Batista Nacional Filad�lfia, no Bairro S�o Pedro, uma das primeiras a se instalar no munic�pio, diz que a meta � avan�ar. “O in�cio aqui foi dif�cil, mas queremos chegar a 100% da popula��o, sem querer provocar ningu�m”, afirma, sem medo de exagerar. Entre as atividades realizadas al�m dos cultos, os batistas mant�m as reuni�o das c�lulas, quando equipes v�o �s casas para “ensinar a palavra” ou simplesmente ser reunir com as fam�lias. Casados h� 19 anos e pais de dois filhos, Jeferson Guimar�es Rezende, de 41 anos, engenheiro, e Elionete Maria Regina Souza Rezende, de 37, fisioterapeuta, dizem que conhecer “a verdade, a palavra de Deus” � fundamental. “Sou evang�lica h� muito mais tempo do que meu marido e, desde, que nossos comportamentos se alinharam, a casa ficou mais harmoniosa”, afirma Elionete. “A crise no mundo vem a falta de fam�lia, de acolhimento para as crian�as”, acredita Jeferson.
Em Belo Horizonte, a tamb�m batista Templo Gets�mani, no Bairro Dona Clara, na Regi�o da Pampulha, reflete a dissemina��o da f� evang�lica entre todos os segmentos da popula��o e a participa��o da fam�lias nas celebra��es. A igreja atrai milhares de pessoas em cultos bem movimentados, como o da �ltima quinta-feira, que contou com a presen�a de jogadores de futebol, como o meia atacante do Cruzeiro Willian Siqueira. Ele compareceu acompanhado da mulher, Loisy, m�e das duas meninas do casal, uma de 2 anos e outra de apenas 10 meses. “A miseric�rdia de Deus � que nos fortalece a ser uma pessoa pura, com bom car�ter e �nico foco em Jesus”, afirma o atleta, convertido em 2011.
Nova Lima: tradi��o e renova��o
Sentada, sozinha, em um banco da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Nova Lima, na Regi�o Metropolitana de BH, a servidora p�blica �urea Serretti Amaral, casada e m�e de um filho, alimenta a f� em Deus. “N�o vou � missa todos os domingos, mas rezo o ter�o em casa diariamente. Acho que todas as religi�es s�o para o bem, s� pe�o que as outras pessoas respeitem a minha, assim como respeito as demais”, afirma �urea. Entre os munic�pios da Grande BH, Nova Lima foi dos que menos perderam cat�licos neste s�culo. Conforme o mapeamento feito pelo Centro de Processamento de Informa��o e Pesquisas Pastorais e Religiosas (Cegipar) da PUC Minas, com base nos dados do Censo 2010 do IBGE, foram cinco pontos percentuais, caindo de 75,6% em 2000 para 70,6% em 2010.
No altar, o titular da Par�quia de Nossa Senhora do Pilar, padre C�lio Domingos Xavier, conta que Nova Lima tem a f� cat�lica como tradi��o, e n�o como conservadorismo: “A tradi��o, que se mant�m com os ritos e ritmos da vida das fam�lias e da comunidade, faz parte da alma do homem, enquanto o conservadorismo deteriora a tradi��o”.
Padre C�lio ressalta que muitas igrejas protestantes n�o mant�m a tradi��o, estando mais preocupadas com o “imediatismo religioso, o momento de agora”. “O mundo vive tempos de crise econ�mica, pol�tica, social e de valores morais. Os fundamentalistas focam na prosperidade e at� a Igreja Cat�lica pode cair nisso. O papa Francisco abriu janelas que estavam fechadas, incomodou muitos e acordou milhares. Pena que alguns continuem no sono”, define.
PASSADO E FUTURO Diferentemente de Sarzedo, onde quase metade da popula��o � evang�lica, quem visita a cidade com o maior percentual de cat�licos em Minas dificilmente v� um templo da chamada religi�o protestante. Segundo os moradores de Camacho, onde 97,3% da popula��o se declara cat�lica, os pastores chegam de fora, procuram se estabelecer, mas batem em retirada em pouco tempo, por falta de fi�is. A C�mara, composta de nove vereadores, tamb�m n�o tem protestantes, conta o prefeito Geraldo Cardoso Lamounier, em seu quarto mandato, lembrando que o munic�pio se emancipou em 1952 de Itapecerica, cidade famosa pela religiosidade e celeiro de padres e bispos. “Sou cat�lico praticante, fui coroinha e tesoureiro da igreja. Padre Alberto era muito conservador, n�o gostava de bailes nos fins de semana. Tive que me casar em Itapecerica, para poder fazer a festa depois da cerim�nia”, recorda-se o prefeito, citando o sacerdote Alberto Evangelista Marques Guimar�es (1901-1979), apontado como um dos pilares da religiosidade dos moradores.
Os mais jovens preservam o h�bito de ir � missa, participar dos ritos e rezar com devo��o. O casal de namorados William Johnnatan Furtado Silva, de 16, e Camila Cristina do Nascimento, de 17, est� sempre nas celebra��es conduzidas pelo padre Gedler Henrique Breves Pereira. “Ele fala a verdade e comenta sobre assuntos do dia a dia, sabe nos aconselhar muito bem”, diz a jovem. A coordenadora do Apostolado da Ora��o, Gl�ucia Maria Lopes comunga da mesma opini�o e tem uma explica��o bem particular para tamanha religiosidade em Camacho. “Acho que tudo come�a pelos olhos de nossa m�e, Nossa Senhora das Dores”, afirma Gl�ucia, olhando para a imagem, que, durante a Quaresma, � retirada do altar junto com as outras pe�as sacras e levada para um c�modo, n�o ficando coberta pelo pano roxo, como ocorre em outras cidades.