
A casa da Rua Turquesa, com grade marrom, virou atra��o logo cedo e chamou aten��o de quem passava a p�, no volante ou indo para a escola de van. “H� muito tempo estou pedindo, pela internet, para adotarem esse cachorro. Ele n�o pode mais ficar desse jeito, sem dono, solto por a�. Sempre o vejo parado em frente ao port�o”, disse a motorista M�nica, obrigada a acelerar o carro, quando o sinal da Avenida Francisco S� abriu para os ve�culos. O mestre de obras Alaerte Alves Pereira, de 53 anos, reafirmou a inten��o de levar o bicho, batizado por ele de Xerife, para sua casa em Ribeir�o das Neves, na Grande BH, mas notou mudan�as no comportamento do animal e est� pensando duas vezes antes de agir.
“Acho que ele ficou meio traumatizado com a tentativa de captura, por isso se afasta ao notar a minha presen�a. Gostaria muito de ficar com ele, e n�o descarto a possibilidade, mas agora estou preferindo um filhotinho. Xerife sempre foi d�cil, n�o faz mal a ningu�m”, comentou, ao ver a ninhada na varanda da casa sendo paparicada pela funcion�ria p�blica Tatiana de Azeredo Coutinho Ferreira e por sua m�e, a dentista aposentada Cleusa. Apaixonadas por animais, assim como toda a fam�lia, as duas moradoras deram ontem um dia especial a Xerife, que entrou na varanda de rabo em p�, cortejou Ol�via Palito, saiu com ela para um passeio pelo bairro e, depois teve direito a almo�o no mesmo prato, no melhor estilo A dama e o vagabundo, filme de anima��o dos est�dios Disney lan�ado h� 60 anos. “� s� oferecer um pouco de queijo que ele vem louco. � louco por queijo!”, disse Cleusa, com carinho. Dito e feito, e l� veio o c�o com pinta de gal� do peda�o.
Tatiana esclarece que gostaria de ficar com o animal, mas n�o h� a menor chance. � que na casa moram, al�m de Ol�via Palito – “por ser magrinha ao chegar aqui, parecia a namorada do marinheiro Popeye”, recorda-se – Kurt Cobain, de 11 anos, nome em homenagem ao guitarrista (1967-1994) da extinta banda Nirvana. O estranho tri�ngulo se forma, pois Kurt � louco pela cadelinha de sangue nobre e viralata, embora a paix�o nunca tenha se consumado. O problema � o c�ozinho n�o ter altura suficiente para cruzar. “Nas vezes em que Lord Voldemort, como tratamos o Xerife, entrou aqui para beber �gua, mordeu o Kurt. Eles brigam muito”, contou Tatiana. Ao lado, Cleusa traduziu o sentimento m�tuo: “Puro ci�me”. O nome Lord Voldemort � o do vil�o da s�rie Harry Potter, mas Xerife � tratado com todo carinho pela fam�lia.
CUIDADO DIVIDIDO H� muitas sugest�es para o destino de Xerife, que, at� agora, s� tem promessas de pretendentes � ado��o, sem nada de concreto. A presidente da Associa��o C�o Viver, Marisa Catelli, prop�e o sistema “c�o comunit�rio”, no qual os vizinhos se unem para cuidar de um animal. “Os abrigos das organiza��es governamentais, os canis, enfim, todos os lugares que poderiam receber o c�o est�o superlotados”, afirma. “Os moradores podem se responsabilizar fazendo uma casinha na pr�pria rua para o cachorro, al�m de dar vacina, verm�fugos, cobertor para os dias frios, consultas no veterin�rio e providenciando a castra��o”, indicou.
Ao ler a reportagem no EM e assistir ao v�deo no portal Uai, a psic�loga D�bora Vaz, moradora do Bairro S�o Marcos, na Regi�o Nordeste de BH, confessa que chorou. E � candidata a adotar Xerife. “Fiquei com muita pena dele, t�o rom�ntico...”, comentou ela, que acrescentou com bom humor: “Acho que estou assim, t�o enternecida, pois vou me casar”. Na opini�o da psic�loga, Xerife deveria ficar com a fam�lia que j� tem Ol�via Palito e Kur Cobain. “Mas entendo a impossibilidade, devido ao Kurt”.
FESTA NA PORTA Por volta das 11h, Tatiana saiu com Ol�via Palito com a guia, mas logo deixou a cachorrinha correr livre e solta ao lado do seu grande amor, Xerife. A parte conhecida da hist�ria dessa dupla come�ou pouco antes do carnaval, quando Tatiana acolheu em casa a f�mea, que, logo depois, no cio, escapuliu e voltou prenha. N�o tardou muito para Xerife rondar a �rea e ficar de prontid�o no port�o da frente.
Depois da refei��o ao meio-dia, hora de lamber as crias, que Ol�via Palito ainda est� amamentado. Se algu�m se aproxima, como fez o rep�rter, ela d� um “chega pra l�”, marcando a roupa do intruso com a pata suja de barro. Com a netinha Luiza, de 2 anos, no colo, a pedagoga Terezinha Passos, moradora do bairro, contemplou durante longos minutos a cena de Xerife, Ol�via Palito e a prole se enroscando sobre uma almofada no ch�o da varanda. Feliz ao contemplar a fam�lia canina, a vendedora de loja infantil Aline de Abreu n�o escondeu a emo��o: “A natureza nos surpreende. Esse sentimento � mais bonito do que o dos seres humanos, algo inexplic�vel”. J� a atendente de uma loja de pet shop da Avenida Francisco S�, Tatiane Viana, contou que Xerife � muito esperto. “Ele andava com uma coleira antipulgas, mas n�o est� mais com ela. Tentei peg�-lo para cuidar, mas ele se assustou e mordeu a minha m�o”.

Zoonoses s� age com nova den�ncia
Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de (SMSA), o agente de endemias s� retornar� ao Bairro Prado se houver nova den�ncia de agress�o. Em nota, a dire��o do �rg�o informa que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) recolhe os animais em situa��o de rua por meio de a��es de rotina e tamb�m via demanda espont�nea da popula��o. Ao chegar � unidade, os c�es s�o avaliados clinicamente por m�dico veterin�rio e submetidos � coleta de sangue para exame de leishmaniose visceral, informam os t�cnicos, ficando aguardando por tr�s dias �teis o resgate por seus propriet�rios. Expirado o prazo, os animais se tornam dispon�veis para ado��o, ap�s serem castrados, vacinados contra raiva e outras doen�as, vermifugados e identificados com microchip e com resultado negativo para leishmaniose visceral. De acordo com o censo canino realizado em 2014, BH tem aproximadamente 283 mil c�es e 64 mil gatos. Desse total, cerca de 10% t�m acesso �s ruas sem supervis�o.
Segundo a Secretaria Municipal de Sa�de (SMSA), o agente de endemias s� retornar� ao Bairro Prado se houver nova den�ncia de agress�o. Em nota, a dire��o do �rg�o informa que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) recolhe os animais em situa��o de rua por meio de a��es de rotina e tamb�m via demanda espont�nea da popula��o. Ao chegar � unidade, os c�es s�o avaliados clinicamente por m�dico veterin�rio e submetidos � coleta de sangue para exame de leishmaniose visceral, informam os t�cnicos, ficando aguardando por tr�s dias �teis o resgate por seus propriet�rios. Expirado o prazo, os animais se tornam dispon�veis para ado��o, ap�s serem castrados, vacinados contra raiva e outras doen�as, vermifugados e identificados com microchip e com resultado negativo para leishmaniose visceral. De acordo com o censo canino realizado em 2014, BH tem aproximadamente 283 mil c�es e 64 mil gatos. Desse total, cerca de 10% t�m acesso �s ruas sem supervis�o.
Discuss�o na Web
Coment�rios de leitores e internautas nas redes sociais
Que lindo! Ele precisa de um lar e ser castrado, afinal n�o d� pra deixar cachorrinhos abandonados. Estes est�o bem, mas outros... vai saber.
Aline Vieira
Pr�ximo cap�tulo? Se a zoonoses pegou, j� era!
Raquel Colares
Excelente, em meio a tanta not�cia de desastre, corrup��o e outras coisas ruins, os leitores precisam de algo bom assim. Espero e tor�o que algum vizinho adote o xerife.
Jo�o
Em janeiro, ao chegar em casa do trabalho, fui atacado por dois c�es de rua, morderam minha perna e por sorte passava um carro que atropelou os dois e me salvou. Minha esposa tinha acabado de chegar com meu filho de 3 anos. Imagina se fosse com eles? Na verdade, esses c�es de rua, s�o, sim, perigo para popula��o.
Marcos
E cad� o Xerife? Ele realmente fugiu? Eu adoto ele. E a hist�ria foi muito legal..
Eduardo
Muito legal. S� aparece coisa ruim e a gente fica surpreso com uma hist�ria dessa. Tomara que essa fam�lia adote o Lord tamb�m.
Wesley