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Estado de Minas

Migra��o de regi�es pobres do estado come�a a criar 'cidades-fantasma'

Pesquisadora alerta para possibilidade de pequenos munic�pios ficarem abandonados com a sa�da de moradores em busca de melhores condi��es de vida em centros maiores


postado em 02/07/2015 06:00 / atualizado em 02/07/2015 07:04

Favela em Montes Claros: a chegada de população sem instrução e com baixa renda de municípios menores pode resultar em favelização(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Favela em Montes Claros: a chegada de popula��o sem instru��o e com baixa renda de munic�pios menores pode resultar em faveliza��o (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)

A migra��o de moradores de pequenos munic�pios para cidades maiores em busca de melhores oportunidades de vida est� gerando duas novas realidades que implicam perda de qualidade de vida e graves problemas socioecon�micos. Conforme o Estado de Minas mostrou nas edi��es de segunda e ter�a-feira, a maior parte da popula��o que se muda para centros maiores tem pouca instru��o e baixa renda e acaba indo morar na periferia, contribuindo para o processo de faveliza��o, em meio � falta de saneamento e viol�ncia. Agora, um estudo in�dito sobre a migra��o no Norte de Minas mostra o outro lado desse �xodo: o esvaziamento demogr�fico de pequenos munic�pios encravados em regi�es pobres, de onde saiu essa popula��o, que correm o risco de virar cidades-fantasma.

Em quase 80% dos munic�pios do Norte de Minas, sai mais gente do que chega, principalmente por causa da seca. O estudo sobre o efeito da migra��o na regi�o, elaborado pela professora Gildette Soares Fonseca, do Departamento de Geoci�ncias da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), revela que � cada vez maior a sa�da de jovens que buscam melhores condi��es de vida nas cidades de maior porte, deixando somente as pessoas mais velhas nos lugares de origem.

“Alguns munic�pios tendem a diminuir tanto a popula��o ao ponto de se tornarem insustent�veis. N�o oferecem op��o de trabalho ou outros atrativos de melhoria de vida para os jovens e tendem a concentrar somente a popula��o mais velha”, avalia Gildette Fonseca, que desenvolveu o trabalho para tese de doutorado em Geografia – Tratamento da Informa��o, em fase de conclus�o na Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC Minas).

Com o uso de um software, a professora analisou os n�meros relativos � sa�da e chegada de pessoas nos 89 munic�pios do Norte de Minas em um intervalo de 10 anos (2000/2010), com base dos dados do IBGE, conforme o Censo 2010, e elaborou o estudo “Migra��es da mesorregi�o Norte de Minas Gerais: An�lise demogr�fica de 2010” . Para analisar os dados, ela distribuiu os munic�pios em sete microrregi�es.

Dos 89 munic�pios, 70 (78,6%) tiveram saldo negativo, com a sa�da de habitantes maior do que a entrada. Apenas 19 (21,4%) alcan�aram saldo positivo, com maior entrada de pessoas. Em uma d�cada, ocorreu evas�o de 246.965 pessoas, enquanto chegaram apenas 164.718 � regi�o, um d�ficit de 82.247 habitantes.

Na maioria dos munic�pios, al�m da emigra��o ser maior do que a imigra��o, h� um decr�scimo da taxa de fecundidade, verificada em todo o pa�s”, comenta a professora da Unimontes. Ela ressalta que o fato de uma cidade apresentar saldo migrat�rio negativo em determinado per�odo n�o significa necessariamente que sofreu queda de popula��o, por causa da “compensa��o” do crescimento vegetativo (taxa dos nascimentos x taxa de mortes). Isso explica o fato de que, embora 70 cidades tenham registrado saldo migrat�rio negativo na d�cada avaliada, no Censo 2010, apenas 21 munic�pios apresentaram quantidade de habitantes inferior � medida em 2000.

O Censo 2010 apontou nos 89 munic�pios do Norte de Minas um total de 1.610.413 moradores, com um acr�scimo de 117.696 (7,8%) em rela��o � popula��o contada no Censo 2000, que foi de 1.492.717 habitantes. “Mas temos que observar que, em boa parte dos pequenos munic�pios, se n�o houve redu��o da popula��o, o crescimento do n�mero de moradores tamb�m foi muito pequeno em um intervalo de 10 anos”, descreve a especialista.

A pesquisadora argumenta que, como ainda n�o defendeu a tese, n�o pode divulgar integralmente os resultados do estudo sobre os munic�pios que mais perdem habitantes em fun��o da migra��o. Mas adianta que o n�mero de pessoas que migram para outras regi�es de Minas � superior � quantidade que sai em dire��o a cidades fora do estado. Quando se fala na sa�da para outros estados, S�o Paulo � o mais procurado pelos retirantes, seguido por Goi�s e o Distrito Federal.

S�O FRANCISCO O levantamento mostrou uma curiosidade em rela��o a S�o Francisco, cujo resultado do fluxo migrat�rio foi negativo. A grande maioria dos moradores que deixam o munic�pio �s margens do rio hom�nimo tem como destino Bras�lia (a 422 quil�metros de dist�ncia). “N�o existe uma explica��o clara para isso. Talvez seja por causa da liga��o que S�o Francisco tem com o Noroeste do estado, mais pr�ximo de Bras�lia”, comenta Gildette.

Entre os munic�pios que tiveram saldo positivo, com n�mero maior de pessoas que chegaram do que as que sa�ram em 10 anos, est� Ja�ba, uma das cidades mais crescem na regi�o. O crescimento do munic�pio � impulsionado pela produ��o do projeto de irriga��o, que garante melhoria das condi��es de vida da cidade. Por outro lado, o munic�pio enfrenta uma escalada do aumento da viol�ncia, conforme revelou reportagem recente do Estado de Minas.

Seca � maior causa de fuga
A seca, historicamente, fomentou a migra��o de regi�es como o Norte de Minas, que est� no terceiro ano seguido de estiagem prolongada. Diante da falta de perspectivas, para escapar da fome e da sede, fam�lias inteiras de sertanejos abandonam os pequenos munic�pios, engrossando as popula��es dos aglomerados das grandes cidades, onde enfrentam dificuldades para conseguir emprego, devido � pouca instru��o.

O estudo da professora da Unimontes Gildette Soares Fonseca mostra que, nas microrregi�es do Norte do estado mais castigadas pela seca, � maior o n�mero de munic�pios com saldo migrat�rio negativo. Na microrregi�o da Serra Geral de Minas, por exemplo, onde os efeitos da estiagem s�o maiores, 11 munic�pios registraram sa�da maior do que a entrada de migrantes. Dos 17 munic�pios da microrregi�o de Salinas, apenas quatro tiveram saldo positivo. Em todos os seis da micorregi�o de Gr�o Mogol, o resultado do fluxo migrat�rio foi negativo.

Gildette Soares Fonseca afirma que a “expuls�o” de moradores pela falta de chuva se perpetua porque n�o s�o oferecidas condi��es para que os moradores dos pequenos munic�pios do semi�rido superem as intemp�ries e permane�am no lugar de origem. “O problema � que s�o implementadas a��es governamentais para o combate � seca, por�m, ningu�m combate a seca, que � um fen�meno natural. S�o necess�rias a��es de conviv�ncia com a estiagem para minimizar os efeitos ”, recomenda a especialista.

A pesquisadora tamb�m aponta erros nas pol�ticas p�blicas. “Os gestores municipais precisam de pol�ticas p�blicas que garantam emprego e renda e condi��es de vida ideais para as pesssoas, sobretudo os jovens, permanecerem em seus lugares de origem”, alerta.


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