
Mesmo combatido pelos taxistas e contestado em v�rias partes do mundo, o servi�o de transporte de passageiros oferecido pelo aplicativo Uber vem ganhando espa�o entre usu�rios de Belo Horizonte, apesar de n�o ser legalizado, fiscalizado ou regulamentado. Para especialistas em tecnologia, toda inova��o gera algum desconforto e os taxistas t�m que se adaptar para n�o ficarem defasados, pois a concorr�ncia est� oferecendo um novo tipo de servi�o, com diferenciais de qualidade e pre�o. Outras autoridades em transporte p�blico, por�m, alertam que o ponto a ser discutido � a legalidade do aplicativo, considerado por elas um servi�o paralelo, clandestino e predat�rio.
Enquanto as opini�es se dividem entre estudiosos, enquete feita pelo portal em.com.br sobre a opini�o dos internautas computou 3.110 votos de domingo �s 17h de ontem – 2.325 (74%) favor�veis � nova plataforma e 785 (26%) contr�rios. O consultor de neg�cios Guilherme W. Felipe, de 37 anos, ainda n�o andou nos carros vinculados ao Uber, mas, diante da propaganda feita pela mulher, que aderiu ao servi�o, est� disposto a testar. “Minha mulher s� tem elogios. Disse que chama o carro pelo aplicativo e nunca h� atraso. S�o carros novos e os motoristas s�o educados”, diz ele, queixando-se do atendimento nas centrais de t�xi.
Mas h� usu�rios do transporte individual que defendem os taxistas. “Sou a favor dos taxistas, desde que eles melhorem a qualidade do atendimento. � injusto o Uber n�o pagar impostos, quando os condutores de t�xis pagam. E deveriam abrir mais concess�es para o taxista trabalhar”, disse o professor de educa��o f�sica Andr� Luiz Alves, de 39. Mas ele defende a moderniza��o do servi�o convencional. “Os taxistas deveriam oferecer �gua e revistas para os passageiros. J� seria um come�o”, completa.
A cortesia � uma refer�ncia a um dos diferenciais ofertados pelos contratados do Uber, que oferecem �gua a seus passageiros, al�m de carros com ar-condicionado e bancos de couro. A estudante L�via Nogueira, de 24, conta que testou o servi�o no in�cio do ano, quando estava sendo implantado na capital. “Fizeram uma oferta para uma amiga testar o servi�o e eu fui como acompanhante. Ela se cadastrou no aplicativo e, se indicasse mais algu�m, ganharia um b�nus. Achei a qualidade do servi�o muito boa: os motoristas s�o simp�ticos e ainda oferecem �gua mineral para a gente”, contou a estudante.

A professora aposentada Eduiges Oliveira, de 63, conta que quase perdeu um casamento por causa da demora do t�xi. “Tivemos que pegar um outro t�xi que apareceu na rua para deixar passageiro. Minha amiga j� me explicou como funciona o Uber e pretendo conhecer o servi�o. Os t�xis est�o deixando muito a desejar.” diz ela, que tamb�m critica a dificuldade de pagar pelo servi�o com cart�o.
A agilidade � outra quest�o que pode fazer a diferen�a na hora de optar por um servi�o ou outro, segundo alguns usu�rios. A artista pl�stica Viviana Ferreira, de 43, conta que chega a ficar 15 minutos esperando um t�xi no ponto e at� uma hora quando chama um � sua casa. “Telefono para as cooperativas e muitas vezes n�o encontram um taxista que atenda a bandeira do meu cart�o de cr�dito. J� cansei de pegar t�xi e parar no meio do caminho para sacar dinheiro”, reclama.
Mas h� tamb�m quem defenda que h� espa�o para as duas formas de transporte na pra�a. A esteticista Mariene Aparecida Ferreira, de 52, � a favor do t�xi e do Uber trabalhando juntos. “Cada um tem que ganhar o seu. Os dois oferecem seguran�a. Pego Uber, t�xi, t�xi-lota��o e todos me levam onde eu quero. Uso o que for mais pr�tico. Depende da necessidade”, disse Mariene.
An�lise da not�cia - O exemplo que vem da hist�ria
Belo Horizonte ainda tem fresco na mem�ria o pre�o de adiar decis�es sobre a regulamenta��o do transporte de passageiros. Em outro patamar e com p�blico distinto, a discuss�o aberta agora pelo Uber foi enfrentada pela cidade entre o fim da d�cada de 1990 e o in�cio dos anos 2000, com o fen�meno dos perueiros. Na �poca, o transporte por vans – alternativo para uns, clandestino para outros – proliferou nas brechas de um sistema de �nibus caro, demorado e desconfort�vel. Como outras grandes cidades da Am�rica Latina e do pr�prio Brasil, a capital mineira e suas autoridades – n�o apenas do Executivo – demoraram a perceber e a reagir ao fen�meno que sucateava frotas de coletivos mundo afora, pela concorr�ncia desleal de um servi�o sem regulamenta��o nem cobran�a de impostos ou outras exig�ncias legais. O pol�mico aplicativo que agora concorre com os t�xis convencionais n�o lembra a crise dos perueiros apenas por funcionar � margem de regras do poder p�blico e escancarar a insatisfa��o de usu�rios com a qualidade, o pre�o e a regularidade do servi�o oficial. Se assemelha � batalha das vans tamb�m pela viol�ncia que come�a a desencadear nas ruas. N�o custa lembrar que, em BH, o fen�meno de d�cada e meia atr�s terminou com uma batalha campal entre pol�cia e perueiros no Centro da cidade. Principalmente porque o desafio s� foi encarado quando j� havia sa�do do controle. (Roney Garcia)
Ponto cr�tico
Voc� � a favor dos servi�os do Uber?
N�o - Paulo Rog�rio Monteiro especialista em tr�nsito
“Nesse debate, eu n�o acho que se deva discutir qualidade do servi�o. Se a discuss�o for por esse caminho, vamos chegar a uma situa��o em que, diante de um sistema ruim, cada um vai poder criar um outro s� para si. Nesse sentido, qualquer tipo de iniciativa deve ser regulamentada. Segundo a legisla��o, o servi�o de t�xi � p�blico e precisa ser licitado. A regra � essa, e tem que ser cumprida. Ou voc� anda de t�xi, que � uma permiss�o do poder p�blico, ou usa um transporte fretado escolar, por exemplo. Todos t�m uma regulamenta��o. Se o servi�o � ruim, � preciso melhor�-lo, e n�o criar um novo, paralelo, clandestino e predat�rio, que n�o tem regulamento nenhum.”
Sim - Tom�s Duarte Murta integrante da Comunidade de Tecnologia San Pedro Valley
“Sou totalmente a favor do Uber. Do ponto de vista do consumo, h� uma evolu��o do servi�o. Na verdade, foi criado um novo patamar, com muita qualidade e conforto, com recurso financeiro similar, pois o valor � parecido com o do t�xi. O passageiro � mais bem-tratado, tem um carro com muito mais conforto e uma s�rie de peculiaridades na experi�ncia de consumo, muito diferenciada em rela��o � tradicional. Eu n�o quero ouvir xingamento de taxista, discutir com o motorista para ligar o ar-condicionado, quero �gua e um carregador de celular. Do ponto de vista do mercado, o Uber traz uma inova��o e com ela se consegue elevar o n�vel do transporte como um todo.”