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Estado de Minas O PRE�O DE SONHAR EM D�LAR

Trag�dia n�o interrompe fluxo migrat�rio em cidade natal de Jean Charles

Prosperidade de quem se deu bem no estrangeiro mascara riscos e dificuldades de viajar para o exterior


postado em 19/07/2015 09:00 / atualizado em 19/07/2015 11:55

O empresário Magno Silva sobre a experiência na América: 'Não é moleza, tem que ralar'(foto: Gladyston Rodrigues / EM / D.A Press)
O empres�rio Magno Silva sobre a experi�ncia na Am�rica: 'N�o � moleza, tem que ralar' (foto: Gladyston Rodrigues / EM / D.A Press)

Gonzaga –
A hist�ria de Gonzaga, munic�pio do Vale do Rio Doce a 300 quil�metros de Belo Horizonte, est� para sempre atrelada � emigra��o. A execu��o de Jean Charles de Menezes, morto pela pol�cia brit�nica h� 10 anos, ao ser confundido com um terrorista no metr� londrino, tornou essa realidade tragicamente conhecida no mundo inteiro, mas ela n�o come�ou com o eletricista. Nem acabou com sua morte. “Ainda tem muita gente na cidade indo atr�s do mesmo sonho do Jean. E teve quem voltou com dinheiro, levantou pr�dio de dois, tr�s andares, construiu loja, abriu com�rcio. Uns compraram terra, gado, tudo com o que ganharam l� fora. Muita gente ficou e manda dinheiro para a fam�lia aqui. Tem at� um sobrinho da minha mulher trabalhando nos Estados Unidos, que manda dinheiro para a fam�lia”, conta o pai de Jean, Matozinho Otoni da Silva.


Por isso, ele sabe que n�o ser� tarefa f�cil mudar a ideia de Robert, sobrinho de Jean, que sonha em emigrar para a Am�rica. O av� j� sofre por anteced�ncia, mas aceita a vontade do neto de 17 anos, como antes aceitou a do filho. “Fico preocupado, mas depois dos 18 anos n�o tem como segurar. � a sorte dele”, resigna-se. Parece dif�cil convencer os mais jovens dos perigos da empreitada, diante da prosperidade que alguns trouxeram do exterior. E que se anuncia por v�rios cantos da cidade.

Newiton de Sousa Costa, de 30, foi em 2002 para os Estados Unidos, sozinho. “Aventura de gente nova, sem ju�zo. Eu tinha 18 anos. Voltei com pouco dinheiro, mas a experi�ncia de vida que adquiri l� me ajudou muito aqui no Brasil. Agora, em nome de Jesus, n�o quero sair de Gonzaga nunca mais”, conta ele, hoje s�cio com dois irm�os de um supermercado e uma casa de produtos agropecu�rios. Houve uma �poca, explica, em que o dinheiro que vinha da Am�rica mudou radicalmente a economia de Gonzaga. “Era muito dinheiro, muita gente construindo e comprando im�vel. O pre�o disparou. Se um terreno valia R$ 10 mil, o dono pedia R$ 20 mil. E vendia”, conta. At� a organiza��o da cidade veio com a experi�ncia do atual prefeito, J�lio Maria de Souza (PSDB), que morou nos Estados Unidos na d�cada de 1970, segundo ele.

A pequena Gonzaga � impec�vel e cresce a cada dia. S�o muitos pr�dios sendo erguidos. � cercada por mata atl�ntica e h� in�meras nascentes que brotam nas montanhas e des�guam na cidade. Um parque p�blico chama a aten��o pela beleza das quedas d'�gua. As pra�as s�o cuidadas com esmero, algumas com fontes luminosas. H� postos de sa�de, centros odontol�gicos, instala��es novas e pensadas para portadores de necessidades especiais.

Um dos respons�veis por esse ambiente de prosperidade � Magno Souza Silva, de 50. Depois de dar duro nos Estados Unidos, ele leva uma vida tranquila em sua cidade natal. Trabalhava como operador de m�quinas e decidiu em 1994 ir para a Filad�lfia, onde permaneceu at� 2000. “Fiz de tudo: servi�os gerais, constru��o. Era casado e deixei mulher e dois filhos aqui”, conta.

Com o dinheiro que trouxe, comprou uma propriedade na entrada de Gonzaga e fez loteamento. No mesmo terreno, construiu um posto de combust�veis. Depois, montou uma empresa de terraplanagem, que n�o deu certo. Teve problemas financeiros por dois anos, mas conseguiu superar. Hoje, tem um dos melhores hot�is da cidade, o posto, loja de autope�a e uma churrascaria em fase final de constru��o.

Mas n�o s�o todos que voltam com dinheiro, alerta o empres�rio. “Muitos chegam com as m�os abanando. Acham que l� � moleza, e n�o �. Tem que ralar muito, se sujeitar a qualquer tipo de servi�o. A pessoa tamb�m tem que economizar. Se quiser viver o padr�o de vida deles l�, vive bem, mas n�o sobra nada”, alerta ele, que, apesar de n�o ter nada a reclamar da Am�rica, est� convicto de que n�o voltaria para l�.

 

� sombra e uma execu��o

 

Os tiros disparados em 22 de julho de 2005 na esta��o de Stockwell, que mataram o filho de seu Matozinho e dona Maria, continuam ecoando em Gonzaga, passados 10 anos. N�o � sem motivo: Jean Charles era muito querido na cidade, onde mais de 10 mil pessoas acompanharam seu sepultamento. “Veio gente at� do estrangeiro. Meu filho era de fam�lia pobre, atrasada, mas a morte dele abalou o mundo inteiro”, diz o pai, lembrando-se da exibi��o do filme sobre a saga do mineiro, que reuniu milhares de pessoas na pra�a de Gonzaga, anos depois. Matozinho n�o gostou do que viu: “Muito triste. Fiquei contrariado. Senti um pouco do sofrimento que meu filho passou”.

A imagem do inocente executado por uma das mais festejadas pol�cias do mundo ainda tem um efeito devastador sobre a fam�lia. Tanto que as fotos de Jean vivem guardadas. “Se eu pego a foto dele, perco a vontade de fazer as coisas. Tenho crise de choro”, comenta a m�e, Maria Otoni de Menezes. “Quando voc� tem uma fam�lia pequena, dois filhos s�, que cria com muito amor e muita luta, que acompanha crescer, que ensina o que seus pais ensinaram, � muito doloroso perder um deles, como eu perdi. Meu filho aprendeu a lutar desde pequeno pelos seus sonhos, mas morreu de uma forma t�o covarde...”

Muitas vezes, a m�e conta que vai para a cama e n�o consegue dormir. Quando isso acontece, fica fantasiando que Jean vai chegar a qualquer momento, de moto, como fazia quando morava com ela. “Quando penso na barbaridade que fizeram com meu filho, uma pessoa inocente, fico muito triste”, lamenta a m�e. “A justi�a n�o foi bem feita”, completa o pai. A fam�lia recebeu parte de uma indeniza��o, segundo ele. “Dinheiro meio desanimado. Saiu um pouquinho e o resto ficou enrolado l� em Londres. Ningu�m sabe como vai ficar. Na verdade, na verdade, o que a gente quer � justi�a.”


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