
A reforma da esta��o, erguida em 1907, n�o resgata apenas as lembran�as da �poca em que vag�es de passageiros cortavam Lassance – cidade batizada em homenagem a Ernesto Ant�nio Lassance Cunha, engenheiro-chefe da Central do Brasil. O im�vel faz parte do complexo ferrovi�rio que entrou para a hist�ria da medicina mundial: foi num vag�o improvisado como laborat�rio, ao lado da esta��o, que Carlos Chagas (1879-1934) identificou, em 1909, o protozo�rio Trypanosoma cruzi, respons�vel pelo mal posteriormente batizado como doen�a de Chagas, em reconhecimento ao cientista.
O m�dico havia sido enviado pela Central do Brasil ao munic�pio para combater um surto de mal�ria entre os funcion�rios da ferrovia. Mas suas pesquisas o tornaram mais conhecido pelo esclarecimento da doen�a causada pelo barbeiro: Chagas foi o primeiro brasileiro a desvendar todas as etapas de uma doen�a infecciosa: o pat�geno, o vetor, os hospedeiros, as manifesta��es cl�nicas e a epidemiologia.
O vag�o que lhe serviu de laborat�rio n�o foi preservado, mas a esta��o se transformou em um dos s�mbolos da passagem do cientista por Lassance, munic�pio emancipado de Pirapora em 1953, cuja popula��o atual soma cerca de 6,5 mil habitantes. “A expectativa � terminar a obra de restaura��o em 2015, mas imprevistos podem ocorrer. Constatamos que a madeira do subsolo, por exemplo, est� podre. E ela � a base da constru��o”, informa o secret�rio municipal de Obras, Ant�nio Silva de Carvalho. Debaixo do escaldante sol do Norte de Minas, ele acompanha o trabalho dos cinco homens respons�veis pela reforma protegido com chap�u de couro.
Todas as telhas foram retiradas do im�vel. Parte da estrutura de madeira que vai sustentar a nova cobertura j� foi colocada. Uma camada de reboco tamb�m foi jogada em parte da parede externa. A obra desperta a curiosidade e o interesse dos moradores, sobretudo em rela��o � nova utilidade do im�vel. “Ainda estamos discutindo o que ele ser�”, diz Sebasti�o Gomes, secret�rio municipal de Turismo, acrescentando que outros im�veis do complexo ferrovi�rio, como a constru��o em que funcionou o hospital, tamb�m devem ser restaurados.

No per�metro urbano, um dos cart�es-postais do munic�pio � o memorial Carlos Chagas, que conta tanto a vida do cientista quanto a descoberta do Trypanosoma cruzi. O memorial foi erguido a cerca de um quil�metro da antiga esta��o. Objetos antigos, como equipamentos m�dicos e cartazes est�o expostos ao p�blico. Em frente � porta principal, uma est�tua do cientista, nascido em Oliveira, no Centro-Oeste de Minas.
Marli Gomes da Silva Alves, de 55, � a respons�vel pela faxina do lugar. Vi�va e m�e de oito filhos, dos quais tr�s moram com ela, Marli costuma ir ao trabalho na companhia de seus dois c�es, Legal e Chaulim. “O Brasil precisa de mais pessoas como o doutor Carlos Chagas”, constata.
FEITO MUNDIAL O reconhecimento n�o � sem motivo: o m�dico colocou Lassance no mapa mundial com a descoberta da doen�a, em uma menina de 3 anos chamada Berenice. O avan�o foi noticiado por revistas especializadas em todo o planeta. A Academia Nacional de Medicina, em um fato singular, fez do cientista membro titular extraordin�rio.
Na �poca, Oswaldo Cruz (1872-1917), pioneiro no estudo de mol�stias tropicais e da medicina experimental no Brasil, destacou o trabalho de Chagas: “O descobrimento desta mol�stia constitui o mais belo exemplo do poder da l�gica a servi�o da ci�ncia”. “Nunca at� agora (1909), nos dom�nios das pesquisas biol�gicas, se tinha feito um descobrimento t�o complexo e brilhante e, o que mais, por um s� pesquisador”, prosseguiu.
Carlos Chagas batizou o protozo�rio que havia descoberto em homenagem ao amigo. De acordo com o memorial em Lassance, 1,6 milh�o de brasileiros estavam infectados com a doen�a em 2007.
Saiba mais
Trypanosoma cruzi
O ciclo de vida do protozo�rio identificado por Carlos Chagas come�a quando o barbeiro se alimenta do sangue do hospedeiro vertebrado, eliminando, em suas fezes e urina, o parasita. Por meio de mucosas ou ferimento na pele, eles infectam c�lulas dos hospedeiros, como as do cora��o. No interior destas, o parasita ganha forma arredondada, multiplicando-se por divis�o bin�ria. Quando as c�lulas est�o repletas dos micro-organismos, eles se disseminam pela corrente sangu�nea, infectando novos tecidos e �rg�os.
