
“N�o saio mais daqui. O que consigo na ro�a me rende bem”, concluiu. O fazendeiro faz parte de uma estat�stica curiosa. Trata-se de um mapa que forma a Minas rural. Em 164 das 853 cidades do estado, a popula��o do campo � maior que a urbana. Em Uba�, por exemplo, 6.016 homens e mulheres vivem em s�tios, ranchos e fazendas. Outros 5.665 est�o na sede do munic�pio.
H� disparidade bem maior em outros lugares. Em Itacambira, tamb�m no Norte, esses n�meros s�o, respectivamente, 3.982 e 1.006. Maca�bas � uma das comunidades rurais de l�. Os agricultores Jos� Pereira da Silva, de 62, e Ala�de Pereira da Silva, de 52, dizem que ficam at� dois meses sem ir � sede da cidade. S� v�o � �rea urbana quando necessitam de algo que n�o encontram no campo. “� a nossa maior dificuldade”, diz a mulher.
Os dados, baseados no Censo de 2010, foram pin�ados do estudo Atlas do Desenvolvimento Humano, elaborado em conjunto pela Funda��o Jo�o Pinheiro (FJP), Programa das Na��es Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea) – a lista de todas as cidades com suas respectivas popula��es pode ser acessada no lugardafinancas.com.
A Minas rural fica mais curiosa diante de uma constata��o que teve in�cio na d�cada de 1970: a popula��o do campo fica menor a cada ano, enquanto a urbana aumenta. Em Minas, a popula��o rural despencou 10,5% de 2000 para 2010, de 3,2 milh�es de pessoas para 2,8 milh�es. J� a urbana aumentou 14,8%, de 14,6 milh�es para 16,7 milh�es. No pa�s, no mesmo intervalo, a rural ficou 6,3% menor, de 31,8 milh�es para 29,8 milh�es. E a urbana engordou 16,8%, de 137,7 milh�es para 160,9 milh�es.
Os pesquisadores n�o investigaram os motivos de a popula��o no campo ser maior do que a urbana nessas 164 cidades mineiras. Uma das causas � a qualidade de vida, como buscou Jones, o fazendeiro em Uba�. Outra � a falta de instru��o de muitos moradores do campo, que aumenta a dificuldade de encontrarem um emprego com boa remunera��o nas �reas urbanas.
Qualquer que seja o motivo, uma tend�ncia � unanimidade entre os especialistas: � forte a possibilidade de a popula��o no campo cair no Censo de 2020 – o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (BGE) divulga o levantamento a cada 10 anos.
“Nos pa�ses de primeiro mundo, (o percentual da popula��o rural sobre a total) se estabilizou em torno de 15%. Tende a reduzir um pouco mais em Minas Gerais. Muitas dessas cidades t�m baixo �ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). As fam�lias sobrevivem de uma agricultura de subsist�ncia”, avaliou Olinto Nogueira, especialista em pol�ticas p�blicas da FJP.
O pior IDHM ocorre em S�o Jo�o das Miss�es (0,529), no Norte do estado, onde a popula��o no campo (9.269 pessoas) � bem superior � urbana (2.446). Os pesquisadores conclu�ram que S�o Jo�o das Miss�es ocupa a 5.402ª posi��o entre os 5.565 munic�pios brasileiros. Apenas por curiosidade, S�o Caetano do Sul (SP) ocupa a primeira posi��o (0,862). Melga�o (PA) � o �ltimo da fila (0,418).
Muitos moradores do campo, por�m, preferem permanecer na �rea rural mesmo tendo condi��es financeiras para sustentar uma fam�lia nas metr�poles. � o caso de Jones, o morador de Uba�. “Aqui, h� tranquilidade e sossego”, justificou o fazendeiro, que j� foi professor de inform�tica e se mant�m conectado com amigos por meio do computador port�til.
A vida corrida na metr�pole o fez retornar � fazenda Pedra Preta, em Uba�, onde o IDHM � 0,609, considerado m�dio. L�, ele faz e vende queijos por R$ 12 cada pe�a (cerca de 1kg). “Tenho 136 cabe�as de nelore. O pre�o do litro do leite (R$ 0,72 na regi�o) est� baixo. Por isso, prefiro fazer queijo, o que garante um lucro maior”, explicou, enquanto proseava, encostado na porteira, com Leandro Souza, de 24. O amigo tamb�m j� morou em S�o Paulo: “N�o aguentei um m�s e retornei. Meu lugar � aqui, no campo”.
Palavra de especialista - Dramas que se repetem
Pierre Vilela - Superintendente do Instituto Ant�nio Ernesto de Salvo, Bra�o de Pesquisas da Faemg
"O campo n�o � servido por servi�o p�blico. H� car�ncia grande, por exemplo, de sa�de. No Norte e Noroeste mineiros, regi�es em que os munic�pios t�m grande extens�o territorial, fam�lias precisam percorrer longas dist�ncias, muitas vezes em estradas prec�rias, at� a sede da cidade. Naturalmente, muitas deixam a �rea rural. Convivemos com o drama da falta de m�o de obra na agricultura e crescente demanda por mecaniza��o. Outro drama � a sucess�o familiar nas fazendas: os filhos saem para estudar em centros urbanos e muitos n�o querem retornar. N�o querem perder o conforto, a divers�o, a educa��o. Mas notamos um movimento de retorno ao campo. N�o dos que pegam na enxada, mas dos que querem mecanizar e gerenciar a propriedade".
Assista ao v�deo: Casa Grande desperta curiosidade pelo n�mero de habitantes