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Estado de Minas

Moradores resistem ao isolamento nas "cidades rurais", no Norte de Minas


postado em 13/09/2015 06:00 / atualizado em 13/09/2015 09:36

A casa de Maria Pérpetua, também na
A casa de Maria P�rpetua, tamb�m na "cidade", tem at� porteira e curral, que fazem imaginar que continua vivendo na ro�a (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Itacambira – Uma �nica avenida, tr�s pra�as e 20 ruas resumem a �rea urbana de Itacambira, no Norte de Minas, uma das “cidades rurais” do estado. Dos 4,9 mil habitantes do munic�pio recenseados em 2010, 3,9 mil (79,5%) moram na zona rural. No “dia da feira”, eles se deslocam at� a �rea urbana para receber aposentadorias e outros benef�cios, vender o que produzem – incluindo verduras, frutas, milho, feij�o, ovos, frango – e comprar o que precisam, de sal a roupas. Eles s�o transportados em �nibus cedidos pela prefeitura, que tamb�m disponibiliza caminh�es para carregar as mercadorias. Nos outros dias, preferem evitar as p�ssimas condi��es das estradas vicinais e o relevo acidentado da regi�o.

A dispers�o das fam�lias dificulta e encarece a administra��o do munic�pio, afirma o chefe de gabinete da prefeitura, Joaquim Magno Miranda. “Temos que investir muito na reforma e conserva��o dos 500 quil�metros de estradas vicinais, que atendem em torno de 25 localidades rurais”, explica. Em algumas, o isolamento chega a ser completo no per�odo de chuvas, quando estradas de terra se tornam intransit�veis, como ocorre em Maca�bas, �s margens do rio hom�nimo, distante 34 quil�metros da �rea urbana de Itacambira e sem acesso a linhas de �nibus.

A energia el�trica � o �nico conforto da vida moderna ao alcance das cerca de 20 fam�lias de Maca�bas. Para telefonar, os moradores precisam se deslocar pelo menos 10 quil�metros at� o “ponto” mais perto, onde o sinal de celular “pega”. Ali, internet � desconhecida. Apesar do acesso � televis�o – viabilizado pela chegada da energia el�trica h� apenas sete anos, o velho radinho de pilha continua sendo o �nico meio de contato de muitos com o “mundo externo”.

Morador de Macaúbas, área rural de Itacambira, o casal de agricultores José e Alaíde Pereira só vai à área urbana a cada dois meses para comprar mantimentos(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Morador de Maca�bas, �rea rural de Itacambira, o casal de agricultores Jos� e Ala�de Pereira s� vai � �rea urbana a cada dois meses para comprar mantimentos (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
� o caso do agricultor aposentado Jos� Pereira, que n�o sabe sequer a pr�pria idade e que nunca assistiu a um programa de televis�o. “Acho que tenho mais de 78 anos”, diz Jos� Pereira. Ele mora com a mulher, Maria da Gl�ria dos Santos, de 72, numa pequena casa a que s� se chega depois de uma caminhada de 20 minutos por uma trilha e pelo leito do Rio Maca�bas. Sempre que precisa se deslocar at� a sede de Itacambira, o aposentado paga R$ 100 de “frete” a um motoqueiro da regi�o. Por�m, j� enfrentou situa��o pior. “Antigamente, eu viajava de Itacambira at� aqui a p�, mais de cinco l�guas (30 quil�metros), carregando mercadorias nas costas”, relatou.

Cercados de utens�lios antigos, como um jirau – estrutura de madeira usada para escorrer vasilhas –, os agricultores Jo�o Batista Oliveira, de 55 anos, e Maria Dalva Soares de Oliveira, de 53, ficam mais de um m�s sem visitar a �rea urbana. A mulher garante n�o sentir falta da cidade, mas reclama da escassez de assist�ncia � sa�de, problema agravado pela dificuldade de acesso � sede. “A gente s� vai � cidade para comprar as coisas necess�rias, como sal, arroz e a��car”, afirma Jo�o Batista, que usa uma moto nos seus deslocamentos.

Para o casal Jos� Pereira da Silva, de 62, e Ala�de Pereira da Silva, de 52, a aquisi��o desses produtos e servi�os � “a maior dificuldade” para quem vive na localidade. Os dois passam at� dois meses sem ir � �rea urbana, mas Ala�de diz preferir a ro�a. “Na cidade, � muito dif�cil, tudo a gente tem que comprar. Na ro�a, a gente produz alguma coisa”, comenta a mulher, acrescentando que apenas aprendeu a “assinar o nome” e a “ler um pouquinho” com o pai, que n�o permitiu que ela sa�sse de casa para estudar na cidade. Hoje, as crian�as de Maca�bas s�o levadas para a escola em Itacambira e o carro do transporte escolar � um dos poucos ve�culos que transitam frequentemente entre a localidade e a �rea urbana. Questionado se conhece internet, Jos� Pereira respondeu: “J� ouvi outros falarem. Dizem que � uma coisa muito importante, mas eu n�o entendo nada disso”.

Al�m da aposentadoria e do trabalho como agricultor, Jos� Pereira da Silva tenta a sorte com garimpo, � procura de diamantes, no Rio Maca�bas, no fundo do seu terreno. Ele conta que a pedra mais valiosa que encontrou foi um diamante de quatro quilates, vendido por R$ 2,4 mil, divididos com um colega de trabalho. “Quem sabe um dia Deus olha pra gente e manda a sorte grande?”, sonha o agricultor garimpeiro.


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