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Estado de Minas

Projeto resgata plano que previa respeitar cursos de rios e c�rregos de BH

Desenhos de Saturnino de Brito respeitavam a hidrografia e o curso de rios e c�rregos do ent�o Curral del Rey, como o Acaba Mundo, que nasce no Sion e foi canalizado at� o Parque Municipal Para especialistas, modelo era mais sustent�vel e ainda pode inspirar a��es futuras


postado em 16/09/2015 06:00 / atualizado em 16/09/2015 07:19

Um dos poucos trechos visíveis do córrego Acaba Mundo no Parque Municipal: curso d'água corre por galerias (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
Um dos poucos trechos vis�veis do c�rrego Acaba Mundo no Parque Municipal: curso d'�gua corre por galerias (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )

Para atravessar a Avenida �lvares Cabral, entre as ruas Curitiba e S�o Paulo, no Centro de Belo Horizonte, o pedestre precisa caminhar pela ponte, sobre o c�rrego do Leit�o. O belo-horizontino pode tamb�m embarcar em uma canoa e descer do Sion at� o Parque Municipal, em uma esp�cie de rafting urbano pelo leito do C�rrego Acaba Mundo. Para quem observa a cidade com olhar c�tico e vislumbra apenas a selva de pedra, sem os rios e c�rregos originais que correm encaixotados sob o asfalto da capital mineira, um dos projetos comandados pelo arquiteto espanhol Antonio Hoyuela Jayo pode parecer uma alucina��o. Ou melhor, como diz o pr�prio nome do trabalho, uma utopia.

“Revisitamos os desenhos mais interessantes do urbanismo de escala metropolitana e refizemos o plano do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito para a capital, elaborado com base na ideia vencedora do plano de Aar�o Reis”, explica Jayo. Para entender a utopia do arquiteto espanhol, � preciso lembrar que Aar�o Reis foi o presidente da Comiss�o Construtora da Nova Capital (CCNC), que no final do s�culo 19 tratou da constru��o de nova sede do poder de Minas Gerais no local chamado Curral del Rey, hoje Belo Horizonte. As ideias de Reis prevaleceram e BH foi projetada a partir dos desenhos dele.

Saturnino de Brito (1864-1929), um dos profissionais mais importantes da �poca, tamb�m fazia parte da CCNC. Mas como destaca o diretor do Arquivo P�blico de Belo Horizonte, Yuri Mesquita, o engenheiro deixou a comiss�o por n�o ter suas ideias acatadas. “H� ind�cios de que ele defendia um melhor destino para os c�rregos da cidade”, entende Mesquita. O projeto vencedor, de Aar�o Reis, segundo an�lise de Mesquita, integrava a cidade paisagisticamente e deixava os c�rregos da cidade retos, em leitos artificiais. “O projeto do Saturnino levava em conta a hidrografia e respeitava o curso dos rios”, compara o diretor do Arquivo P�blico.

O arquiteto Antonio Hoyuela Jayo explica que o projeto Utopia faz parte de um trabalho maior, o Mapa Hist�rico Digital de Belo Horizonte, financiado por meio da Lei Municipal de Incentivo � Cultura, que pretende aprofundar os conhecimentos sobre os trabalhos da CCNC, analisando e digitalizando os principais mapas das plantas do Curral del Rey. O projeto envolve 25 pessoas e tem o apoio dos arquivos p�blicos da capital e do estado, do Museu Hist�rico Ab�lio Barreto, al�m de funcion�rios da empresa de Jayo. “Com base nos mapas, vamos fazer um diagn�stico dos planos originais e saber o qu�o longe a cidade est� de um modelo ideal”, acredita o arquiteto. Quando o trabalho for conclu�do, Jayo espera poder apontar alguns caminhos para a cidade se tornar mais amig�vel do ponto de vista ambiental, permitindo a visibilidade dos rios ou estabelecendo �reas verdes maiores.

VANTAGENS Se a proposta de Saturnino tivesse sido aceita, Jayo entende que Belo Horizonte seria uma cidade com mais �reas verdes e os grandes parques seguiriam o tra�ado original dos rios, que seriam o elemento essencial dos corredores urbanos. O projeto ainda n�o foi conclu�do, mas o arquiteto calcula que pelo menos 12 rios seriam vis�veis na �rea urbana de Belo Horizonte  “O fim �ltimo do Utopia � criar um debate sobre a sustentabilidade”, diz.

O engenheiro sanitarista Jos� Roberto Champs, que coordenou o plano diretor de drenagem de Belo Horizonte, concorda que a capital teria se desenvolvido de maneira diferente com o plano de Saturnino. “O ideal para qualquer cidade � manter o leito natural, que foi esculpido e moldado em mil�nios, mas os c�rregos da mancha urbana est�o todos canalizados, enterrados ou em canais abetos e concretados”, lembra Champs.

O engenheiro explica que manter o leito natural, como defendia Saturnino, exige proteger as margens da ocupa��o de vias urbanas e moradias. Isso cria uma ambienta��o favor�vel para a cidade, inclusive com um clima mais ameno. Outra vantagem, segundo Champs, � que, quando os rios correm no leito natural, h� menos inunda��es. O engenheiro cita duas cidades planejadas que adotaram projetos semelhantes ao proposto por Saturnino para BH: Goi�nia e Maring� (PR).

INOVA��O As inova��es do trabalho de Saturnino de Brito j� foram tema de estudos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em artigo publicado em 2013 na revista da institui��o, os pesquisadores Nilo de Oliveira Nascimento, Jean-Luc Bertrand-Krajewski e Ana L�cio Britto ressaltam que Saturnino dirigiu os projetos de abastecimento de �gua pot�vel durante a constru��o da capital, entre 1894 e 1895, e que o engenheiro “diferencia-se notavelmente de seus contempor�neos higienistas em raz�o de seu pensamento urban�stico profundo e inovador, por compara��o com os modelos de urbanismo inspirados pelo higienismo”, diz trecho do trabalho. “H� em Saturnino de Brito uma preocupa��o em orientar o desenvolvimento urbano, tendo por refer�ncia o respeito ao patrim�nio cultural e ambiental preexistente”, prossegue o texto. Segundo o artigo, o engenheiro sanitarista considerava o tra�ado geom�trico proposto por Aar�o Reis como “muito r�gido”.

Na Belo Horizonte de hoje, n�o resta quase nada vis�vel dos rios e c�rregos que o projeto de Saturnino previa preservar. No Parque Municipal, � poss�vel ver um filete de �gua do C�rrego Acaba Mundo, que abastece as lagoas do parque. O c�rrego, que nasce no Sion, corre por galerias subterr�neas at� chegar ao Centro da cidade.


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