
“Sou madrinha dos leprosinhos. Prefiro chamar a doen�a de lepra (termo politicamente incorreto), porque tem jornalista que nunca ouviu falar de hansen�ase. Quando digo a palavra, ficam me olhando sem entender nada”, diz assim, de bate-pronto, a musa dos portadores de hansen�ase Elke Maravilha, que divide a fun��o com o padrinho da causa, o m�sico Ney Matrogrosso (veja entrevista ao lado). Com visual surpreendente, sempre paramentada com roupas e perucas exc�ntricas, a ex-modelo e glamour girl � a personifica��o do oposto da hansen�ase, que no passado enfeiava os doentes, que ficavam marcados para sempre na superf�cie da pele. “A hansen�ase n�o tem visibilidade e nem d� votos por ser considerada doen�a de pobre, mas n�o � um bicho de sete cabe�as. Desde o dia em que se come�a a tomar o rem�dio j� deixa de transmitir o bacilo, e, em seis meses de tratamento o paciente est� novo em folha, se j� n�o tiver sequelas”, explica.
Com o surgimento das col�nias, na d�cada de 1930, ainda n�o havia meios de esconder as feridas, remanescentes de um tempo em que ainda n�o havia tratamento m�dico. Nada disso atemoriza a artista. “Sou mais de ver a alma das pessoas e n�o a apar�ncia. Se n�o tiver nariz nem dedos, tudo bem. N�o enxergo as diferen�as, talvez porque seja filha da guerra. N�o cheguei a viver isso, porque era nenem em 1945, mas meu pai ficou prejudicadinho. Lutou como volunt�rio para defender a Finl�ndia”, explica ela, que nasceu na R�ssia e veio aos 8 anos para o Brasil.
Em conversa com o EM, Elke Maravilha contou como passou a militar na causa dos hansenianos, h� 22 anos. Foi levada pelas m�os da atriz M�rcia de Windsor, que ficou conhecida por estrelar 15 novelas e como jurada dos programas na TV de Fl�vio Cavalcanti e Silvio Santos. “Ela me apresentou ao Mohran. Disse que precisava de algu�m como eu para ir com ela visitar uma col�nia, porque a maioria das pessoas reagia com medo ou nojo. Qual vai ser a sua rea��o? Respondi a ela que nunca tinha estado com um hanseniano e que s� conhecia a doen�a da B�blia. S� vendo para saber como iria me sentir”, afirma Elke.
Mais de duas d�cadas se passaram desde a primeira vez em que ela foi apresentada ao Mohran. Nunca abandonou a milit�ncia e faz presen�a em eventos organizados pelo movimento no pa�s inteiro. “Sofro do cora��o desde crian�a e tenho diabetes, mas ningu�m me apedreja por eu ter essas doen�as. N�o tenho e nunca tive hansen�ase. Se tivesse, j� teria dito, porque n�o � imoral ter hansen�ase. Imoral � roubar o povo. Por acaso � pecado estar doente? Todos n�s estamos no mesmo barco. Sou o que sou e me mostro a voc�”, finaliza Elke.
Pedido ao papa
“Vamos pedir ao papa para que abrace os hansenianos do seu tempo e pare de usar o termo lepra para designar coisas muito ruins, como j� fez no in�cio do seu pontificado, ao se referir � pedofilia e � corrup��o no Banco do Vaticano”, informa Thiago Flores, da Col�nia Santa Isabel, um dos representantes do Movimento de Reintegra��o das Pessoas Atingidas por Hansen�ase (Morhan), que foi em junho a Roma levar o pedido ao sumo pont�fice. Um dos argumentos usados pelo grupo, que tamb�m convidou o papa a visitar uma ex-col�nia na pr�xima vinda ao Brasil, em 2016, foi o epis�dio do beijo no leproso, passagem que consta da vida de S�o Francisco de Assis. O santo inspirou o batismo do pontificado.