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Estado de Minas

Debate vai decidir o futuro de ex-col�nias de hansen�ase

Em Minas existem quatro locais usados para isolar pacientes da hansen�ase. Em Betim, uma �rea de 5 milh�es de metros quadrados pode servir para abrigar museu e um hospital-escola


postado em 20/09/2015 11:00 / atualizado em 20/09/2015 11:06

As ruínas da antiga colônia e a enfermaria onde pacientes são atendidos(foto: Beto Novaes/EM/D.A.Press)
As ru�nas da antiga col�nia e a enfermaria onde pacientes s�o atendidos (foto: Beto Novaes/EM/D.A.Press)

“A gente n�o gosta de ficar aqui, mas tem de ficar porque se acostumou”

Jos� Carlos Machado, de 80 anos, interno h� 43 anos

Jos� tem mais tempo de vida dentro do que fora da Col�nia Santa Isabel, onde chegou aos 37 anos. Segundo ele, para quem queria trabalhar havia muito servi�o na col�nia, que ainda estava em constru��o. Chegou a fabricar tijolos para a pequena cidade, mas parou quando aumentaram as les�es. Acabou se estabelecendo como carroceiro, tornando-se conhecido por todos. Livre do mal de Hansen, poderia se mudar dali, mas n�o consegue ir embora. Quase meio s�culo depois, confessa que n�o mais se encaixa na rotina normal.

Se os antigos sanat�rios de tuberculose deram origem a boa parte da estrutura de sa�de de Belo Horizonte, readaptada para os atuais hospitais gerais da capital (conforme mostrado na primeira reportagem da s�rie Marcas do passado, publicada em agosto), ainda est� em debate o que ser� feito das instala��es de 33 ex-col�nias de hansen�ase distribu�das no pa�s, sendo quatro delas em Minas Gerais. O movimento reflete o debate amplo sobre o destino das ex-col�nias que est� ocorrendo em todo o mundo.

Inaugurada em 1931 e considerada a maior col�nia desse tipo na Am�rica Latina, em muitos per�odos com mais de 3,5 mil internos, distribu�dos em mais de 5 milh�es de metros quadrados, a atual Casa de Sa�de Santa Isabel, em funcionamento no Bairro Citrol�ndia, em Betim, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), guarda cicatrizes profundas do passado – de um tempo em que o mundo, refletido nesse peda�o de Minas, era dividido entre sadios e doentes. “O regime era r�gido, parecia um campo de concentra��o, com a diferen�a de que, aqui, t�nhamos o que comer. Nunca pedi para vir para c�. Enquanto vida eu tiver, sou responsabilidade do estado”, avisa a articulada Maria Francisca de �vila Queiroz, de 65 anos, conhecida na regi�o somente por Queiroz.

Mem�ria viva da institui��o, Queiroz � defensora perp�tua do lugar que aprendeu a amar e em cujo entorno decidiu criar a fam�lia. Aos oito anos, em 1958, ela foi trazida ainda menina de S�o Francisco, no Norte do estado. “Quando cheguei, j� havia no pavilh�o das crian�as uma Maria, outra Maria Francisca e uma Maria �vila. Sem op��es, puseram em mim o apelido de Queiroz. J� me acostumei”, conta a mulher, conformada em receber o tratamento masculino, que soa estranho aos visitantes do lugar.

Neste m�s, foi aberta a discuss�o sobre o destino das quatro antigas col�nias de hansen�ase de Minas, em Bambu� (Casa de Sa�de S�o Francisco de Assis), Tr�s Cora��es (Casa de Sa�de Santa F�) e Ub� (Casa de Sa�de Padre Dami�o), al�m de Santa Isabel, em Betim. A reportagem do EM esteve presente na primeira audi�ncia p�blica sobre o assunto, na Assembleia Legislativa de Minas, e tamb�m na reuni�o para a forma��o de um colegiado na Casa de Sa�de Santa Isabel, em Betim, ligada � rede Funda��o Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

DECIS�O DA COMUNIDADE

Na quinta-feira, iniciam-se na Santa Isabel os debates sobre a destina��o dos 5 milh�es de metros quadrados de terra p�blica existentes na ex-col�nia. “Menos de 10% das terras est�o atualmente ocupadas pelos hospitais da Fhemig, que precisam ser ampliados e podem se tornar refer�ncia em hansen�ase e no tratamento de feridas, fechando conv�nios para atender � Prefeitura de Betim e dos outros munic�pios ao redor. Queremos regularizar os t�tulos das casas e decidir o que ser� feito dos 90% restantes das terras. A comunidade vai escolher se quer  uma �rea de preserva��o ambiental, um centro industrial ou uma universidade. N�o vamos querer pres�dios nem ind�strias que possam poluir o Rio Paraopeba”, garante o diretor-geral Get�lio Ferreira de Morais. Ele j� iniciou conversa��es para transformar as instala��es em hospital-escola, em parceria com a Faculdade de Medicina da PUC, em Betim.

“Os moradores das col�nias sofreram demais, mas aprenderam a lutar pelos seus direitos. Nossa mobiliza��o � forte”,  diz Get�lio Ferreira. Da mesma forma, em fun��o da hist�ria tr�gica e dos baixos �ndices de desenvolvimento, a regi�o atrai grupos dispostos a prestar solidariedade aos hansenianos.


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