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Estado de Minas

V�timas tentam se refazer do p�nico da enchente na Avenida Vilarinho

Para muitos, recuperar-se dos danos levar� muito mais tempo


postado em 29/10/2015 06:00 / atualizado em 29/10/2015 14:53

Marcelo Oliveira (D) com os mecânicos que tentam salvar o Celta com 12 prestações por pagar: hora de contabilizar os estragos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Marcelo Oliveira (D) com os mec�nicos que tentam salvar o Celta com 12 presta��es por pagar: hora de contabilizar os estragos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Renata Caldeira de Oliveira teve a sensa��o de que ia morrer durante o temporal em Venda Nova, na noite de ter�a-feira. Ela e o marido, Marcelo Souza Oliveira, estavam em um Celta, na Avenida Vilarinho, quando a via inundou. “Foi quest�o de segundos. Est�vamos indo para casa, quando o tr�nsito parou. Motoqueiros come�aram a voltar na contram�o, largaram as motos no ch�o e gritaram: ‘Desce do carro’”, lembra Renata, ainda tr�mula ao recordar os momentos de pavor.

Marcelo e Renata estavam na tarde de ontem na garagem do pr�dio em que moram, no Bairro Candel�ria, tamb�m em  Venda Nova. O casal ladeava o carro cheio de barro, com mato nas gretas e completamente amassado, depois de ser arrastado pela correnteza. Dois mec�nicos avaliavam se haveria conserto para tantos estragos. “Vai ser muito dif�cil, pois ficou totalmente submerso”, analisou um deles.

Marcelo conta que procurou manter a calma e ajudar a esposa, que estava desesperada, a sair da correnteza e subir para a parte elevada, na linha do metr�. “Machuquei minha m�o, mas tentei n�o me desesperar. A �gua batia no peito dela (Renata tem 1,56m). Quando sa�mos do carro, �amos pisando nas motos embaixo d’�gua”, descreve Marcelo.

O casal acredita ser poss�vel recuperar o carro, que n�o era segurado, mas estima um preju�zo de at� R$ 4 mil com o conserto. Ainda faltam 12 parcelas de R$ 530 para quit�-lo.

seguro Quem tinha o carro segurado deve amargar preju�zo menor. Segundo a Federa��o Nacional de Seguros Gerais, danos causados por alagamento fazem parte da chamada cobertura compreensiva da maioria das ap�lices, exceto em casos em que s�o contratadas coberturas apenas contra roubo ou inc�ndio, por exemplo. Se for detectada a impossibilidade de reparo, a seguradora liberar� a indeniza��o conforme contrato.

Mas os danos n�o se limitaram a motoristas. O s�cio de uma loja de acess�rios na Vilarinho, Pedro Jangy, calcula que a �gua tenha chegado a 60cm no interior do im�vel. H� 16 anos no local, ele relata nunca ter visto nada parecido: “Foi muito carro que ficou boiando. Foi um milagre n�o ter morrido ningu�m”. O preju�zo calculado por Pedro foi de cerca de R$ 6 mil.

Na avalia��o do Corpo de Bombeiros, a inunda��o na Vilarinho representou alto risco de afogamento e mortes. Segundo o comandante da Companhia de Busca e Salvamento do Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Resposta a Desastres, tenente Leonard Farah, mesmo para pessoas com habilidade, o enfrentamento da correnteza � algo extremamente complicado. “Numa via urbana alagada, al�m da for�a da �gua, h� outros riscos, como bocas de lobo e bueiro abertos, galhos de �rvores e ve�culos arrastados pela correnteza”, diz.



DIA SEGUINTE Al�m das mem�rias de quem sobreviveu � enchente, na manh� de ontem o que se observou em Venda Nova foi um cen�rio de danos e muita sujeira em uma das principais vias do Vetor Norte. Praticamente todos os bueiros ao longo da avenida estavam cobertos de galhos, lama e lixo, mesmo aqueles em regi�es mais afastadas da Esta��o Vilarinho do Move, �rea mais atingida. Foi necess�rio montar uma for�a-tarefa com cerca de 150 trabalhadores para dar conta da sujeira e desobstruir o tr�fego.

Segundo a prefeitura, os trabalhos come�aram �s 6h. Outro ponto que concentrou muitos estragos foi o trevo de acesso � Rua Padre Pedro Pinto. Onde praticamente todos os comerciantes passaram a madrugada e a manh� de ontem contabilizando estragos. Vin�cius Carvalho, de 24 anos, dono de uma loja de motos, diz que o preju�zo chegou a R$ 30 mil.

O dono de uma autoescola que tamb�m fica no trevo de acesso � Padre Pedro Pinto, Alexandre da Silva Almeida, de 35, teve preju�zos em quatro carros, sendo dois destinados �s aulas. Todos estavam estacionados e um deles come�ou a ser levado pela for�a da �gua, mas quatro homens conseguiram segur�-lo e empurraram de volta. “Um dos carros j� est� na oficina. No outro, a �gua subiu at� o painel, mas por sorte n�o tinha ningu�m dentro. Ainda tivemos preju�zos em impressoras e computadores. Estou aqui h� 14 anos e nunca vi uma enchente igual a essa.”

MAIS ESTRAGOS Embora sem grandes inunda��es, Belo Horizonte voltou ontem a registrar chuvas, com v�rias ocorr�ncias de quedas de �rvore. Em uma das mais graves, um tronco destruiu um Fiat Uno estacionado na Rua S�o Paulo,  no Bairro de Lourdes, regi�o Centro-Sul. O condutor de um Palio Weekend que trafegava no momento da queda n�o conseguiu desviar e o carro tamb�m foi atingido. N�o houve feridos.

Sistema atingiu seu limite


Moradores do Bairro Mantiqueira, em Venda Nova, relatam que a bacia de deten��o de cheias na Avenida Vilarinho com a Rua Jo�o Ferreira da Silva, encheu, assim como o c�rrego que vem do bairro, o que indica que o sistema atingiu sua capacidade total de armazenamento. A disposi��o de placas de alerta chama a aten��o para o fato de a prefeitura ter conhecimento da falta de estrutura de drenagem para enfrentar grandes chuvas.

No trecho mais cr�tico, a reportagem do Estado de Minas encontrou uma placa posicionada bem na esquina da Rua das Macieiras com a Avenida Vilarinho, em frente � esta��o do Move. Motoristas s�o alertados para n�o estacionar em caso de chuva forte. Por�m, na pr�pria Vilarinho outras placas s� aparecem a quatro quil�metros dali, mais pr�ximas da bacia de deten��o. S�o cinco avisos entre os n�meros 4.161 e 5.721, em trecho mais perto do fim da avenida.

H� dois anos, Ant�nio Avelino Madureira, dono de uma f�brica de picol�s na Vilarinho,  reclamou das interven��es da Prefeitura de BH para viabilizar o Move. Na ocasi�o, mostrou que uma grande entrada de �gua no trecho final da avenida, em frente � esta��o do Move, estava sendo tampada para a constru��o de um viaduto. “Essa abertura amenizava muito o problema das enchentes. Hoje, sobrou apenas uma pequena entrada”, disse ele, enquanto oper�rios limpavam a grade.

A Sudecap sustenta que “nenhuma interfer�ncia na macrodrenagem da bacia do c�rrego Vilarinho foi objeto da implanta��o da obra no local”. Segundo o �rg�o, foram feitas readequa��es geom�tricas no complexo vi�rio , sem diminui��o ou altera��o da capta��o pluvial. “As obras foram de elevados e readequa��es geom�tricas superficiais, sem liga��o com o evento da �ltima ter�a-feira”, segundo a superintend�ncia.

Prefeitura culpa
excesso de chuva

Por meio de nota, a Prefeitura de BH lamentou ontem os transtornos e preju�zos decorrentes da inunda��o e alegou que o problema se deveu � grande concentra��o de chuvas no local. “Foram registrados pelo Sistema de Monitoramento Hidrol�gico do munic�pio 57 mm de chuva, a maior parte concentrada em um per�odo de 30 minutos, o que potencializa o risco de inunda��o”, informou.

No texto, a administra��o municipal ainda afirma que foram implantadas na regi�o de Venda Nova as bacias de deten��o do Complexo V�rzea da Palma, na Bacia do C�rrego da Avenida 12 de Outubro, que contribui para amenizar problemas no trecho cr�tico. Entre as interven��es realizadas, cita tamb�m a implanta��o das bacias do C�rrego Vilarinho e da Avenida Liege, a melhoria da capacidade do canal, al�m da implanta��o de grelhas sobre a galeria para facilitar o escoamento. Ainda segundo a PBH, a �ltima limpeza nas bocas de lobo ocorreu no s�bado, tendo sido retiradas aproximadamente 3 toneladas de lixo.

Sem fornecer informa��es sobre o motivo do atraso das obras previstas para a Regi�o de Venda Nova, a Sudecap limitou-se a dizer que “nos �ltimos anos a administra��o municipal vem executando em toda a cidade interven��es de preven��o e combate a inunda��es, totalizando um montante da ordem de R$ 1,29 bilh�o (empreendimentos conclu�dos a partir de 2009 e em andamento), al�m de ter assegurado R$ 1 bilh�o para execu��o de outros empreendimentos”. Em 2015 foram investidos R$ 300 milh�es em obras e projetos de preven��o de inunda��es e manuten��es em galerias, bacias de deten��o e conten��o de encostas, segundo o �rg�o.


Depoimento

Leandro de Melo Silva, gar�om, de 29 anos, enquanto limpava a sujeira em seu carro

“Estava trabalhando quando meu tio ligou e disse que meu carro estava indo embora. Cheguei l�, vi e disse: ‘Ai meu Deus’. Comecei a tremer, mas n�o pude fazer nada. Quando a chuva passou, fui  rebocar o carro. Desmontei ele todo e estou esperando o mec�nico. Faltam 18 presta��es, de R$ 508. Recebo cerca de R$ 1,5 mil e o carro n�o tem seguro”


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