
Obin Obernard, de 44 anos, conta o tempo que o separa da mulher e dos cinco filhos. S�o 20 meses longe de casa e do aconchego dos seus. Para amenizar a saudade, um telefonema e, eventualmente, contato pelas redes sociais. No momento, desempregado, Obin n�o sabe se retorna ao seu pa�s para reencontr�-los ou se permanece por mais um tempo em Minas Gerais at� conseguir um trabalho que lhe d� renda suficiente para ajudar no sustento da fam�lia, que ficou em Gonaives, a quarta maior cidade do Haiti.
Obin encontrou apoio no Centro Zanmi, onde aprendeu portugu�s, o que lhe permitiu conseguir trabalho como ajudante. “Nada � f�cil aqui no Brasil. Tenho muitas dificuldades”, disse. Ele esperava que, um ano depois de ter aportado no Brasil, pudesse voltar para reencontrar a fam�lia. Com o agravamento da crise econ�mica, os planos n�o puderam ser cumpridos: Obin perdeu o emprego e o pouco que recebe do seguro-desemprego � para suas despesas, como aluguel e alimenta��o. “N�o sobra nada para eu mandar para eles”, queixa-se.
Durante todo o dia, o Zanmi recebe imigrantes que buscam apoio para se inserir no mercado. A coordenadora do projeto de trabalho, Aline Magalh�es, informou que s�o realizadas palestras para orient�-los e ajud�-los na busca de vaga. A outra ponte da a��o � desenvolvido junto �s empresas, com esclarecimentos de como pode ser o processo de contrata��o. “Os haitianos est�o em situa��o legal. Todos t�m CPF e carteira de trabalho. Ent�o, para contrat�-los, as exig�ncias s�o as mesmas relativas aos brasileiros”, diz Aline. O Centro orienta os imigrantes no processo para solicitar a documenta��o. Tamb�m os ajuda a preparar os curr�culos. Para que os haitianos possam ser acolhidos nas comunidades, a entidade realiza palestras nas escolas para falar quem � o imigrante e como acolh�-lo. O centro conta com a ajuda de 40 volunt�rios.
CAPACITA��O Obin dever� participar de um curso para atuar como cabista do sistema de telecomunica��es. Como ele, muitos buscam qualifica��o para aumentar a empregabilidade. Vinte deles fizeram o Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) h� uma semana. “S�o pessoas muito dispostas a trabalhar com todos os direitos exigidos para uma contrata��o”, afirma o assessor de comunica��o do Centro Zanmi, Ricardo da Silva.
O desejo de colaborar com os haitianos mobilizou a empres�ria Eliza Martins. No Dia das Crian�as, ela levou um pouco de alegria para meninos e meninas durante evento promovido por um grupo de volunt�rios no parque Terra do Saber, em Esmeraldas, na Grande BH. Entre as 150 crian�as que participaram da comemora��o, havia dezenas de pequenos haitianos, que receberam presentes e carinho dos organizadores, que promoveram brincadeiras. Os brinquedos foram arrecadados no instituto de beleza que fica localizado na Savassi e leva o nome de Eliza. Com o slogan, Desperte o sorriso de uma crian�a, a campanha arrecadou 200 brinquedos. A empres�ria foi movida pelo sentimento de solidariedade. “Aprendi e cresci muito com essa nova experi�ncia. Se cada um fizesse um pouco, o mundo seria muito mais feliz”.
Os estrangeiros dever�o ganhar um centro de acolhimento em Belo Horizonte. Tamb�m dever� ser criado um posto de atendimento no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. “A popula��o de Belo Horizonte e regi�o metropolitana, as organiza��es n�o-governamentais e as igrejas t�m se mobilizado para dar apoio aos imigrantes”, afirma Jo�o Motta, respons�vel pela �rea de atendimento aos refugiados e imigrantes da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Cidadania e Participa��o Social. Os tr�s principais problemas que os imigrantes enfrentam quando chegam ao Brasil envolvem o aprendizado do portugu�s, a dificuldade para encontrar moradia e emprego.
O coordenador da �rea de l�nguas do Centro Zanmi, Lucas Hill, explica que as aulas de portugu�s s�o preparadas para um grupo muito heterog�neo em termos de forma��o e capacita��o, com pessoas com diploma de n�vel superior e outras com menos tempo de estudo. Entre os imigrantes, h� advogados, pedagogos, engenheiros, mas que n�o conseguem fazer a valida��o dos diplomas, por terem perdido toda a documenta��o no terremoto e tamb�m porque o processo � oneroso. A entidade aceita volunt�rios para dar aula de portugu�s. Ele destaca que � preciso ter sensibilidade para lidar com os imigrantes e entender um pouco sobre o processo de ensinar um idioma. Est� sendo constru�da uma parceria com cursos de letras, para a produ��o de materiais e para a forma��o de professores.

Perfil
A Pontif�cia Universidade Cat�lica (PUC Minas), em parceria com o Comit� de Apoio aos Refugiados e Imigrantes da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, desenvolve pesquisa para tra�ar o perfil dos imigrantes. O professor de p�s-gradua��o em geografia da PUC Minas Duval Fernandes adianta alguns dados. Segundo ele, a maior parte dos haitianos veio para o Brasil com visto concedido pela Embaixada Brasileira, muitos procuram trabalho, mas n�o encontram dentro da sua qualifica��o. T�m forma��o superior. A maioria est� na faixa et�ria entre os 20 e 40 anos, cerca de 70% deles s�o homens.