
A espera, em alguns casos, ganha contornos agoniantes. A t�cnica de enfermagem Jaqueline Aparecida Dutra chegou a receber liga��o do Instituto M�dico-Legal de BH informando a identifica��o do corpo de seu marido, Vando Maur�lio dos Santos. Um exame das digitais teria confirmado a morte do desaparecido. “Minutos depois ligaram e desmentiram, porque precisariam da contraprova do exame”, recorda. O desencontro de informa��es aumenta a dor das fam�lias. Jaqueline diz ter ficado revoltada com a falta de cuidado dos legistas e afirma n�o ter mais esperan�as. “Sei que ele n�o est� mais vivo. Mas quero pelo menos o corpo para poder fazer o enterro”, resigna-se. A identifica��o dos corpos � um desafio para os legistas, porque, depois de 11 dias do desastre, os restos mortais encontrados est�o em avan�ado estado de decomposi��o, o que amplia o sofrimento das fam�lias.
Com os nervos � flor da pele por n�o saber o paradeiro da m�e, de 64 anos, Marli de F�tima, filha da aposentada Maria das Gra�as Celestino da Silva, teve que ser atendida por duas vezes por psic�logos nos �ltimos dias. “A cada dia que passa, aumenta a minha ang�stia. Perder uma m�e � muito triste, do jeito que foi � mais doloroso ainda”, afirma. Como a m�e tem problema de audi��o, ela acredita que n�o possa nem mesmo ter escutado ou entendido o tamanho do perigo, uma vez que as pessoas pr�ximas tentaram alert�-la do estouro das barragens e, por isso, foi at� a casa para tranc�-la. Abalada com a poss�vel perda, a situa��o agrava-se por estar fora de casa, hospedada em um hotel at� a Samarco definir o futuro dela e de outros moradores do Bento. “Tenho esperan�a. Quero que encontrem ela viva ou morta. Viva, am�m; morta, que Deus acalme ela”, diz Marli.
Na falta de um sinal das autoridades respons�veis pelas buscas, o apego divino � a solu��o para familiares das v�timas da barragem. “Esperan�a sempre temos, dizem que � a �ltima a morrer”, reflete Terezinha Jesus Lopes Pessoa, esposa de Edmirson Jos� Pessoa. “Pe�o a Deus que encontre ele vivo, mas o tempo passa e fica mais dif�cil. Rezo o pai-nosso e coloco nas m�os de Deus, que seja feita a vossa vontade”, complementa.
OUTRO CORPO Bombeiros encontraram mais um corpo ontem pela manh�, ainda sem identifica��o, no distrito de �guas Claras, em Mariana. Os restos mortais foram encaminhados para o necrot�rio da cidade. Agora j� s�o quatro corpos � espera de identifica��o. Apesar de o discurso ser o de acreditar sempre, o passar do tempo diminui a expectativa de achar com vida um dos desaparecidos no mar de lama que se transformou a comunidade de Bento Rodrigues. Sabedores da dificuldade, parentes rezam para que os corpos sejam encontrados e que, assim, a fam�lia possa dar adeus aos mortos seguindo a tradi��o cultural. Alguns dos desaparecidos podem ser um dos quatro corpos encontrados pelos bombeiros e ainda n�o identificados. Bombeiros e integrantes da Defesa Civil mant�m as buscas aos desaparecidos. Com a ajuda de m�quinas pesadas, s�o abertos acessos. Paralelamente, mais de 250 animais j� foram retirados vivos, mas bastante debilitados, do barro e encaminhados para um galp�o alugado pela Samarco.
No s�bado, a Defesa Civil excluiu tr�s nomes da lista de desaparecidos. Com isso, em vez de 18 s�o 15 as pessoas ainda n�o identificadas. Eram tr�s supostos moradores de Bento Rodrigues, mas ningu�m os conhecia. A Defesa Civil tentar agora identificar como os nomes passaram a integrar a lista.
OS DESAPARECIDOS
Trabalhadores da Samarco e de empresas terceirizadas

O operador de m�quinas de uma empresa prestadora de servi�os para a Samarco, trabalhava em uma retroescavadeira na obra de amplia��o de uma das barragens.

Operador de m�quina de sondagem, j� trabalhou em Angola e no Haiti com minera��o. Na Samarco, ele operava uma plataforma que alcan�a 14 metros de altura, mas, nem a m�quina foi encontrada, diz o pai dele, J�lio Albino. Samuel tem quatro filhos, duas meninas e dois meninos, entre 2 e 13 anos.

Morador de Ant�nio Rodrigues, distrito de Ouro Preto, trabalhava como mec�nico para uma empresa terceirizada da Samarco. No dia do acidente, a irm� Jaqueline Aparecida correu para o local, mas sem saber que o irm�o poderia estar l�.

Casado com Jaqueline Aparecida Dutra, � pai de Leonardo, de 4 meses. Os tr�s moram em Itabirito, de onde, com frequ�ncia precisam se deslocar at� a capital mineira para que o garoto fa�a acompanhamento m�dico por ter nascido prematuro.
Edmirson Jos� Pessoa, de 48 anos
Morador de Santa B�rbara, o operador de m�quinas e caminh�es trabalha h� um ano limpando barragens da Samarco. Segundo a esposa, Terezinha Jesus Lopes Pessoa, ele ajuda a custear o curso de medicina em Belo Horizonte.
Daniel Altamiro de Carvalho
Operador de trator, come�ou a prestar servi�o para a Samarco h� tr�s meses. A filha Sandra Carvalho conta que o pai sa�a t�o cedo para trabalhar que nem o via.
Ailton Martins dos Santos
H� 30 dias, presta servi�o como motorista terceirizado da Samarco no complexo miner�rio do Germano, em Mariana. No dia do desastre, diz o filho dele, Emerson Aparecido dos Santos, o pai saiu cedo para as barragens e n�o voltou: “Sei que � muito dif�cil (ele estar vivo) porque estava trabalhando bem embaixo da barragem”
Pedro Paulino Lopes
Trabalhava na Manserv Montagem e Manuten��o, terceirizada da Samarco
Claudemir Elias dos Santos
Trabalhava na Integral Engenharia, terceirizada da Samarco

N�o morava em Bento Rodrigues. No dia anterior, foi � casa da irm� no distrito para fazer o que mais gostava no tempo livre: pescar. Diz o filho dela Wanderley Lucas Filho, de 38 anos, que a tia conseguiu escapar, mas viu a irm� ser arrastada pela correnteza de lama.

Famoso em Bento Rodrigues pelo apelido de Tot�, morava com uma irm� em uma das primeiras casas atingidas. Um problema de cora��o o obrigou a aposentar precocemente e, por isso, pouco sa�a de casa, limitando-se a cuidar das galinhas e dos cachorros.

Aposentada, dona Gracita n�o gostava de ficar sozinha. Depois que o filho casou, um m�s atr�s, foi morar com a filha. Testemunhas dizem que a alertaram sobre o rompimento da barragem, mas, sem saber da dimens�o da trag�dia, ela foi at� a casa para tranc�-la.
Ana Clara dos Santos Souza, de 4 anos, Mariana da Silva Santos, de 21, e Bruno dos Santos Souza, de 29
Os tr�s nomes de supostos moradores da comunidade de Bento Rodrigues, informados pela Defesa Civil, s�o desconhecidos de todos os moradores da localidade. O Estado de Minas entrevistou mais de 30 pessoas em busca de informa��es sobre eles e todos disseram desconhec�-los, assim como os irm�os Dias Batista, Mateus e Yuri, e a m�e deles Ana Clara. Os tr�s �ltimos tamb�m integravam a lista de desaparecidos, mas foram exclu�dos na tarde de s�bado. As entidades respons�veis pelas buscas investigam o que houve de errado para terem sido inclu�dos na rela��o e quem s�o eles e os outros tr�s nomes que permanecem na lista.