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Estado de Minas

Em Barra Longa, fazendeiros estimam perda de 2 mil cabe�as de gado com tsunami de rejeitos

Al�m do estrago ambiental, desastre de Mariana destruiu propriedades rurais, que j� sofriam com desmatamento. Redu��o do gado traz especula��es no pre�o da arroba


postado em 23/11/2015 06:00 / atualizado em 23/11/2015 10:13

Em Barra Longa, impacto entre os produtores rurais foi grande. Estimativa é de perda de mais de 10% de cabeças de gado, entre animais de corte e de leite(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Em Barra Longa, impacto entre os produtores rurais foi grande. Estimativa � de perda de mais de 10% de cabe�as de gado, entre animais de corte e de leite (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Barra Longa e Rio Doce – Enquanto o preju�zo natural na parte alta do Rio Gualaxo do Norte, em Mariana, foi predominante depois do rompimento da barragem da empresa Samarco, os danos mais abaixo, em Barra Longa, foram maiores para criadores de gado, agricultores e para o modo de vida tradicional das popula��es. J� desmatado por mais de 300 anos de ocupa��o na regi�o, o Vale do Rio do Carmo, no munic�pio de Barra Longa, perdeu 95,65 hectares (ha) de cobertura florestal depois de receber o tsunami de rejeitos. A extens�o de vegeta��o nativa � mais de duas vezes menor que os 216,16ha de mata atl�ntica perdidos em torno do Gualaxo. Contudo, as �reas de fazendas, estradas e constru��es atingidas nas margens, matas ciliares e baixios foi tr�s vezes superior, chegando a 530ha. Os dados representam uma proje��o da calha principal dos dois mananciais sobre o mapeamento florestal de sat�lites feitos pela organiza��o n�o governamental Global Forest Watch.

O impacto entre os produtores rurais foi grande. Os maiores criadores estimam que chegue a 2 mil o n�mero de cabe�as perdidas, entre gado de corte e de leite. A quantidade representa 10,3% das 19.269 cabe�as de gado que constam registradas na �rea pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�sticas (IBGE) no ano passado. Com a redu��o do rebanho, os a�ougues enfrentam especula��es e o pre�o da arroba do boi tem subido de R$ 120 para at� R$ 150.

De acordo com o pecuarista Mucci Daniel Kfouri, de 33 anos, dono de a�ougue em Barra Longa, a lama matou menos do que os atoleiros que ficaram depois . Isso por que o terreno do munic�pio � muito montanhoso e o gado pastava nas baixadas dos rios do Carmo e Gualaxo do Norte, matando a sede nessas �guas. “Perdemos as baixadas e com isso n�o temos pastagens, n�o temos mais �gua para o gado beber. Os bois v�o tomar �gua no rio e atolam no lama�al, morrem. Nos morros, a gente deixa o gado, vem a chuva, e os animais acabam caindo no brejo ou no barranco”, conta. Ainda de acordo com o pecuarista, que perdeu mais de 10 cabe�as, os atoleiros seguem matando. “Se n�o retirar a cria��o da lama em um dia, pode at� deixar l�. Eles pegam doen�a e morrem dias depois”, afirma.

Vida aqu�tica inviabilizada

Os peixes que tamb�m eram encontrados nos rios, e que costumavam se concentrar no ponto onde o Gualaxo des�gua no Rio do Carmo, tamb�m desapareceram em meio aos restos de min�rio. De acordo com o engenheiro ambiental da Companhia de Saneamento B�sico do Estado de S�o Paulo (Sabesp) Luiz Perez, volunt�rio do Grupo Independente para Avalia��o do Impacto Ambiental (Gaia) Samarco/Rio Doce, que tentar reduzir os impactos da trag�dia ambiental, na �gua dos rios Gualaxo do Norte e do Carmo n�o h� condi��es de vida para a maioria dos animais aqu�ticos.

O grupo j� conta com mais de 5.500 membros, entre volunt�rios, especialistas e pessoas que gerenciam um fundo a ser criado para custear os estudos. Por conta pr�pria, Luiz Peres tem coletado amostras da �gua que ainda corre pelos cursos d’�gua. Os recipientes de l�quido turvo j� foram colhidos no Carmo, em Barra Longa, e no Gualaxo do Norte. “O cheiro de ferrugem � impressionante. Vida em um ambiente in�spito como se tornaram essas �guas, s� se forem bact�rias anaer�bicas (que n�o precisam de ar para sobreviver). Peixes n�o conseguem respirar em um ambiente desses. Se n�o migraram, morreram”, atesta.

Avaliando a din�mica da enxurrada de rejeitos miner�rios, o especialista conta que a energia da massa de s�lidos que desceu era t�o grande que conseguiu subir por afluentes que encontrava, sem perder for�a para chegar ao Esp�rito Santo, superando mais de 900 quil�metros. “A massa de lama descia pelo Gualaxo do Norte e, ao entrar no Carmo, aqui em Barra Longa, se esparramou na dire��o da cabeceira e da foz, subindo muitos quil�metros corrente acima, at� perder energia”, conta. Por outro lado, o engenheiro da Sabesp v� como positivo o fato de o rio continuar a fluir. “Se a lama tivesse estacionado e o rio parasse de correr, seria uma cat�strofe ainda maior, muito mais dif�cil e custosa de se recuperar. Com o rio correndo, a recupera��o se acelera, mas n�o h� qualquer condi��o de estimar um prazo, pois a lama da margem pode voltar para a calha com as chuvas”, disse.

Barro afetou at� o cabloclo d'�gua

Estátua do ser mítico que faz parte do folclore local e viveria em uma das ilhas enterradas por rejeitos(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Est�tua do ser m�tico que faz parte do folclore local e viveria em uma das ilhas enterradas por rejeitos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Depois de matar peixes e esp�cimes da fauna nativa, dizimar matas e agricultura, os estragos causados pelo estouro da Barragem do Fund�o afetaram tamb�m o modo de vida tradicional de comunidades de Mariana e Barra Longa. Neste �ltimo munic�pio, uma lenda de 200 anos que tem como palco o Rio Gualaxo do Norte tamb�m foi duramente atingida pelos rejeitos de min�rio. � nas �guas hoje barrentas que ficava a chamada “Ilha do Caboclo d’�gua”, figura que ganhou at� est�tua no portal de entrada da cidade. Essa por��o de terra, pedras e moitas de bambu era o ponto onde, gera��o ap�s gera��o, os lavradores de Barra Longa contavam ter avistado a criatura que faz parte do folclore caboclo, vivendo em rios, virando barcos de navegantes e alimentando-se de cria��es. Muitos habitantes da comunidade contam ter visto rastros e at� ter se encontrado cara a cara com o ser misterioso. Contudo, a passagem da lama simplesmente desintegrou a ilha e encobriu completamente as pedras onde testemunhas garantem ter presenciado ataques a potros e bezerros.

Um dos criadores que contam ter “encarado” o caboclo � o pecuarista e dono de a�ougue Mucci Daniel Kfouri. Ele relata que o fato ocorreu h� quatro anos, quando procurava por bezerros desaparecidos na beira do rio. “Tinha sumido um bezerro e fiquei desconfiado que algu�m tivesse me roubado. Da� a uns meses, sumiram dois e dei queixa na pol�cia, mas me mandaram procurar, dizendo que tinha de ter provas do roubo”, conta. Em meio �s primeiras buscas, Mucci conta ter achado um dos animais morto, com a cabe�a furada, sem o c�rebro, e com as entranhas aparentemente “chupadas”.

O encontro com a criatura das �guas do Gualaxo teria sido em seguida. “Vi o bicho (caboclo d’�gua) em cima de uma pedra do rio, comendo o outro bezerro. Parecia ter um metro e vinte, a boca grande e cheia de dentes, muito cabeludo, mas com os bra�os com um tipo de escamas, como se fosse um r�ptil. O olho era parado igual ao de um peixe”, lembra. A primeira rea��o, conta, foi atirar pedras no monstro. “Ele deu um urro para mim e mergulhou na �gua. Da�, veio com a m�o de dentro da �gua e puxou o bezerro para o fundo. Depois disso, mais pessoas t�m visto”, garante ele. O pecuarista acredita que, apesar de ter perdido sua ilha para a lama, o caboclo tenha sobrevivido. “� um bicho muito forte e esperto. Acho que ele nadou para o Rio do Carmo e foi subindo a correnteza at� a Cachoeira do Salto, onde a lama n�o chegou. Vimos at� umas pegadas dele por l�. A gente trata dele aqui. deixamos bezerros mortos para ele comer e aparecem depois com mordidas muito grandes para ser de c�es e at� de on�as”, disse. Sinal de que o caboclo vai sobreviver ao desastre, sen�o nas margens enlameadas, na tradi��o oral dos moradores.

ENQUANTO ISSO...
... Presidente pede desculpas a atingidos

Depois de 17 dias do rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, pediu ontem desculpas a todos os atingidos pela trag�dia que devastou povoados e encheu de lama o Rio Doce, at� a chegada ao mar, no Esp�rito Santo. Em entrevista ao Fant�stico, da Rede Globo, ele se desculpou com as pessoas que foram afetadas, os que perderam casas e familiares, ribeirinhos, pescadores, comunidades que t�m os rios como fonte de sustento e com as popula��o de Minas Gerais e do Esp�rito Santo, assim como com os funcion�rios da mineradora. Vescovi reconheceu ainda que o plano de alerta n�o funcionou na hora da cat�strofe, disse que a perda de vidas “n�o � admiss�vel” e informou que, ap�s o desastre, foram instalados bot�es de alerta, na sala de monitoramento, para aviso imediato �s comunidades e funcion�rios em caso de acidente com alguma das outras duas barragens do complexo (Germano e Santar�m).


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