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Estado de Minas

Lama sepulta o�sis de vida e devasta rios em Minas

Antes de chegar ao Rio Doce, onda de rejeitos da Samarco soterrou rios, animais e mata nativa em �rea semelhante � de tr�s parques das Mangabeiras. Nos vales atingidos resta hoje um rastro est�ril de barro e �gua lamacenta


postado em 23/11/2015 06:00 / atualizado em 23/11/2015 11:27

Turbilhão de 62 milhões de metros cúbicos de rejeito deixou impressas nas pedras e na mata ciliar as marcas de sua força, revelada também nos destroços de estação e em carros atolados pelo tsunami de lama(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Turbilh�o de 62 milh�es de metros c�bicos de rejeito deixou impressas nas pedras e na mata ciliar as marcas de sua for�a, revelada tamb�m nos destro�os de esta��o e em carros atolados pelo tsunami de lama (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Barra Longa, Mariana, Ouro Preto e Rio Doce – Uma �rea com 911 hectares (ha) onde viviam pacas, capivaras e gado completamente soterrada. Essa � a soma das extens�es da calha, margens e matas ciliares dos rios do Carmo e Gualaxo do Norte devastadas pela avalanche de 62 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro despejados depois da ruptura da Barragem do Fund�o, da mineradora Samarco, em Mariana, na Regi�o Central de Minas, no �ltimo dia 5. � como se quase tr�s Parques das Mangabeiras (337ha) – a segunda maior unidade de conserva��o ambiental urbana do Brasil, localizada em Belo Horizonte – fossem sepultados embaixo da lama. Esse territ�rio devastado compreende a proje��o da calha principal dos dois mananciais sobre o mapeamento florestal de sat�lites feitos pela organiza��o n�o governamental Global Forest Watch. A ferramenta, que tem resultados aceitos entre ambientalistas e entes do poder p�blico, como a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), mostra como os estragos nos dois primeiros rios atingidos pela maior trag�dia ambiental do pa�s v�o muito al�m dos peixes e s�o t�o graves quanto os estragos que se abateram sobre o Rio Doce, mais conhecido e extenso.

Para se ter uma ideia dessa devasta��o, os sat�lites da ONG calculavam que no rastro da avalanche de detritos acumulados por mais de 30 anos estavam pelo menos 374,81ha de cobertura florestal ciliar, a maioria composta por esp�cies de mata atl�ntica, bioma que tem prote��o federal por ser o ecossistema mais amea�ado do Brasil e um dos mais fr�geis do mundo. Apenas em mata ciliar, � como se uma �rea maior que a do Parque das Mangabeiras tivesse sido arrancada de uma s� vez, pelas ra�zes, deixando de fornecer estabilidade �s margens dos rios, alimento aos peixes e abrigo a esp�cies da fauna nativa. Ambiente que era conservado, j� que, nos �ltimos cinco anos, apenas 1,51ha havia sido derrubado na regi�o.

O cen�rio mais devastador ocorreu no Rio Gualaxo do Norte, onde o tsunami de lama chegou depois de destruir Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana em que pelo menos duas pessoas morreram, tr�s est�o desaparecidas e 600, desabrigadas. Ao todo, at� a noite de ontem, eram 11 pessoas procuradas, oito mortos identificados e quatro corpos sem identifica��o. S� no Gualaxo, a �rea total atingida foi de 381ha, o que corresponde a 77,4% de toda a extens�o de calha e matas ciliares desde a nascente, em Ouro Preto, � foz, no Rio do Carmo, em Barra Longa. Mesmo com o acesso ao povoado restrito a bombeiros e policiais militares, devido � instabilidade de duas outras barragens (Santar�m e Germano), a equipe do Estado de Minas retornou a Bento Rodrigues para mostrar a dimens�o da cat�strofe ambiental sobre mananciais e matas.

TURBILH�O A onda de lama foi t�o forte que, ao entrar no leito, chegou a subir rio acima, vencendo a correnteza por mais quatro quil�metros, derrubando a ponte que levava ao distrito de Camargos e abrindo um c�nion dos dois lados da estrada. A energia e o volume dessa massa de rejeitos e �gua invadindo o rio ficaram impressos no trecho pr�ximo � esta��o de bombeamento de �gua da Samarco, no fundo do vale do Gualaxo. O edif�cio de concreto e metal ficou completamente desfigurado e os postes de energia foram revirados com cabos e equipamentos.

"Agora est� tudo destru�do, acabado. Pescaria aqui, de novo, quem sabe daqui a uns 15 anos, se � que ainda vou estar vivo para ver. Quem sabe meus netos", Jos� Ant�nio de Paula, morador de Mariana e pescador (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Acima, um rastro marrom e linear marcou na �rea de densa mata atl�ntica o n�vel m�ximo que atingiu a inunda��o de lama e rejeitos minerais, chegando a 12 metros de altura pelas bordas do vale do Rio Gualaxo do Norte. Sob esse marco, at� a margem do manancial, um tapete de troncos, galhos e ra�zes de madeiras de lei apodrece emaranhado na lama endurecida. No fundo dessa estrada de lama e destrui��o, em meio ao deserto ressecado, corre a �gua vermelha, de aspecto denso e est�ril, que substituiu uma correnteza que costumava ser clara e repleta de peixes.

EXTIN��O EM MASSA Na regi�o, ningu�m mais v� tra�o dos lambaris, tra�ras, mandis, acar�s e til�pias que antes eram fisgados pela comunidade. Para muitos pescadores, a lama extinguiu todos, j� que n�o foram mais vistos esp�cimes na zona atingida, nem mortos nas margens. “Agora est� tudo destru�do, acabado. Pescaria aqui, de novo, quem sabe daqui a uns 15 anos, se � que ainda vou estar vivo para ver. Quem sabe meus netos”, lamenta o servente e pescador Jos� Ant�nio de Paula, de 49 anos, morador do distrito vizinho, Santa Rita Dur�o.

A tristeza para ele � maior, porque, entre os barrancos para pescaria, tinha predile��o pelos de Bento Rodrigues, para onde ia todos os s�bados. Tinha at� pontos preferidos nas margens do Gualaxo do Norte, onde sabia que os peixes “mordiam mais”. “Uma vez, um colega meu viu uma tra�ra grande, bitelona mesmo. Combinamos de ele armar o anzol em cima (no alto do rio) e eu mais embaixo. Na hora que senti a fisgada, vi s� o olh�o dela pulando. Uma alegria, rapaz, pegar aquela bitela de 1,2 quilo.” Emo��es e locais que agora existem apenas na mem�ria do pescador, que nem consegue mais reconhecer os antigos pesqueiros, sepultados debaixo de tanta lama.




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