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Estado de Minas

"Respostas devem levar de seis meses a um ano", diz presidente da Samarco

Executivo fala sobre instante do desastre, repara��es e amea�a de pris�o


postado em 25/11/2015 06:00 / atualizado em 25/11/2015 09:14

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
A reuni�o tratava de seguran�a do trabalho, por volta de 15h30, na quinta-feira que ficou marcada pelo tr�gico rompimento da Barragem do Fund�o, da mineradora Samarco, em Mariana, na Regi�o Central de Minas. Participavam da teleconfer�ncia o presidente da empresa, o engenheiro metal�rgico Ricardo Vescovi, de 45 anos, no escrit�rio da Savassi, em Belo Horizonte, e suas equipes de Minas e Ponta Ubu, unidade do litoral do Esp�rito Santo. “De repente, o meu gerente-geral de Sa�de e Seguran�a se aproximou e disse: ‘Ricardo, recebi a informa��o agora de que a Barragem do Fund�o se rompeu’. Na hora eu gelei. Perguntei para ele, como assim? E ele disse: ‘Se rompeu inteira’”. A recorda��o congelada na mem�ria de Vescovi � do momento em que ele recebeu a informa��o sobre a trag�dia em Mariana, com o vazamento de mais de 60 milh�es de metros c�bicos de rejeitos da minera��o de ferro. Em entrevista ao Estado de Minas concedida ontem, na sede da empresa, o executivo relembrou esses momentos com os olhos marejados, o que se repetiu quando foi perguntado se tinha medo de ser preso. Demonstrou, ainda, que a situa��o � de extrema preocupa��o para quem vive no rastro da lama ou pr�ximo �s barragens, ao admitir que as exig�ncias de seguran�a da legisla��o sobre barragens se mostraram insuficientes, assim como os planos de emerg�ncia, e que os outros represamentos, de Germano e Santar�m, no mesmo complexo, levar�o at� 90 dias para receber refor�o no n�vel preconizado pelas normas. Acrescentou que as investiga��es sobre as causas do acidente, feitas por especialistas contratados pela Samarco, devem demorar de seis meses a um ano, e que a empresa n�o pode garantir os empregos dos cerca de 3 mil trabalhadores do quadro direto de pessoal depois do retorno da dispensa, em 4 de janeiro.

Qual foi a primeira atitude ao saber do rompimento da Barragem do Fund�o?

Foi uma not�cia inacredit�vel. Como rompeu? � inacredit�vel, porque uma barragem n�o se rompe inteira. A minha preocupa��o foi com as pessoas. Onde est� todo mundo? Por isso, nossas a��es foram imediatas e em 24 horas conseguimos providenciar hot�is para todos os desabrigados.

O senhor disse que recebeu a not�cia do rompimento por volta de 15h. E quanto ao tremor ou anomalia que foi sentida antes?

S� soube do rompimento. Os laborat�rios de sismologia da USP e da UnB informaram ter registrado eventos s�smicos (tremores) na nossa regi�o. Eventos de baixa profundidade. Funcion�rios relatam que perceberam.

As formas de aviso das comunidades t�m sido criticadas, inclusive por ter havido mortes. O plano de emerg�ncia n�o previa avisos sonoros, por exemplo. Houve falha na execu��o desse projeto?

O plano de emerg�ncia foi executado, mas a perda de vidas, para a Samarco, � inadmiss�vel. O plano existiu, foi elaborado e o que foi enviado para as autoridades foi executado.

Pode-se, ent�o, dizer que as exig�ncias das autoridades no plano talvez sejam insuficientes?

Sim. Depois de um acidente dessa propor��o, todo mundo tem de voltar a discutir. Necessitamos rediscutir muitas coisas. O que aconteceu foi instant�neo, n�o foi progressivo, como normalmente ocorre em modelos de barragens. Isso � um fato muito importante. O plano de atendimento a emerg�ncia � feito para contemplar v�rias coisas, mas o modo de ruptura trouxe dimens�es diferentes do que se previa.

As barragens remanescentes do complexo Germano recebem reparos, mas podem se romper? Sim ou n�o?

A gente fala de fator de seguran�a. O Dique da Selinha (da Barragem do Germano) est� com fator de seguran�a de 1,22, ou seja, est� 22% acima do ponto de equil�brio. Queremos que chegue a 1,5, ou seja, a 50%, mais do que preconiza a norma. Em Santar�m, est� 1,37, 37% acima do ponto, e queremos tamb�m elevar a 1,5 (50%). Desde o primeiro momento estamos monitorando com radares, esc�neres eletr�nicos, topografia por drone e visual. E as duas n�o se deformaram mais. Estamos com um trabalho de refor�o das paredes.

Mas h� risco de rompimento? Sim, ou n�o?

Falo sempre em fator de seguran�a. N�o tem uma resposta assim. O fator de seguran�a � a maneira t�cnica como os especialistas se referem. A gente est� vendo o trabalho que � feito 24 horas por dia.

E o andamento desse refor�o estrutural? Qual � o prazo de conclus�o?

Depende muito das condi��es clim�ticas. Com chuva e raios, n�o podemos trabalhar. Estimamos que leve de 45 a 60 dias para os reparos no Dique da Selinha e at� 90 dias para a Barragem de Santar�m.

Em quanto tempo saberemos o que realmente ocorreu?

Pela experi�ncia com outros eventos de grande porte, isso deve levar de seis meses a um ano. Para que os especialistas que contratamos levantem e testem hip�teses. E isso � muito importante. Acho que h� muita responsabilidade nessa resposta, porque interessa, e muito, para n�s saber o que aconteceu. De imediato, com a ocorr�ncia da trag�dia, j� trouxemos especialistas. Ainda est� chegando gente. � medida em que v�o trocando informa��es entre eles, v�o nos requisitando outros especialistas, como em sismologia. � uma investiga��o complexa, que est� sendo feita agora. N�o podemos precisar ainda todos os momentos. O que de fato ocorreu nessa barragem envolve v�rias ci�ncias: geotecnia, geologia, mec�nica de solos, mec�nica de fluidos. Temos uma barragem que estava sendo operada, monitorada, licenciada, dentro dos padr�es que se entende serem os melhores. T�nhamos auditoria e um corpo de governan�a internacional que vinha tr�s vezes por ano fazer monitoramento.

O que, de fato, ao saber da enxurrada, a Samarco fez para tentar conter a lama e os rejeitos?

A gente tentou, junto com o Ibama, fazer um teste com flocula��o, que � uma acelera��o da decanta��o, para a lama afundar mais r�pido. Seria com o uso de um extrato natural da flor ac�cia-negra, que vinha sendo usado em nossos processos e no tratamento das capta��es atingidas. O composto se chama Tanfloc, fizemos estudos para ver se poderia ser usado, mas o volume do rio � muito grande e a efetividade, pelo n�vel de turbidez, n�o seria suficiente. Compramos todo o estoque de Tanfloc do Brasil, mas n�o seria suficiente. Em 24 horas conseguimos desmontar e levar equipamentos da Minas de Germano para os locais atingidos. Uma vez que o acidente ocorreu, tentamos o que foi poss�vel. N�o havia tempo para construir uma nova barragem para conter a lama. At� fizemos a instala��o de 9 mil metros de barreiras em Linhares (ES) para proteger os estu�rios e mangues, e conseguimos uma efetividade de 80%. Isso foi reconhecido pelo pessoal da foz, pescadores, Projeto Tamar e Instituto Chico Mendes.

A Samarco vai procurar limpar e recuperar o que foi atingido nos rios?

Tanto a assist�ncia humanit�ria quanto a a��o social est�o sendo feitas. Para melhorar as condi��es dos rios, contratamos uma empresa de renome internacional, a GolderAssociates, para, com muitas outras institui��es do Brasil, diagnosticar e definir onde vamos limpar, entender o que ser� feito e colocar em a��o.

O senhor tem carta branca dos acionistas para tomar qualquer decis�o neste momento? Eles tamb�m s�o respons�veis?

O contato � di�rio com os acionistas, que t�m nos dado todo o suporte. H� pessoas tanto da Vale quanto da BHP Billiton (copropriet�rias da Samarco) em campo. Ningu�m est� me colocando nenhuma limita��o em rela��o a recursos. Os melhores recursos deles tamb�m est�o sendo colocados para nos ajudar, mas posso falar pela Samarco. � uma empresa s�lida e que tem hist�ria. Sobre os valores que constru�mos e praticamos � que temos de trabalhar agora, na gest�o mais imediata dessa crise e depois na recupera��o e no reerguimento dela, se a sociedade assim desejar.

Especialistas dizem que a Samarco vai precisar de pelo menos mais tr�s anos para voltar a operar. At� l�, Mariana corre o risco de conviver com o aumento do desemprego?

Sempre respeitamos muito o conhecimento, o comprometimento e a confian�a nos empregados. Tudo isso � levado em considera��o. No primeiro momento, nossos funcion�rios entraram em licen�a remunerada e, depois, em f�rias coletivas. Esse � um tempo importante para n�s pensarmos em alternativas. Foi o tempo para que a gente pudesse vencer esse foco inicial de ajuda humanit�ria e meio ambiente, al�m desse trabalho de estabiliza��o das barragens. Temos, agora, de pensar em que solu��es podemos dar daqui para frente. Ningu�m sabe ao certo qual ser� esse prazo. Temos um cen�rio claro com os empregados at� o fim ano, tempo para que alternativas sejam estudadas e medidas, adotadas.

Em raz�o de todas as repercuss�es do acidente, inclusive aquelas quest�es previstas na lei, o senhor tem medo de ser preso?

Desde o come�o, do dia do acidente at� agora, estou totalmente envolvido em liderar a Samarco neste momento dif�cil da nossa hist�ria, em que precisamos do esfor�o de todo mundo. Estou � frente do trabalho, passando confian�a �s pessoas, agradecendo a elas pelo esfor�o, motivando-as e promovendo esse engajamento. Para tratar dessas quest�es n�s temos nosso corpo jur�dico.

Foi noticiado, inclusive, que o senhor conseguiu um habeas corpus preventivo...

Volto a dizer que o meu foco est� no trabalho. Essas quest�es est�o sendo encaminhadas pelo nosso departamento jur�dico. � importante frisar o tanto que isso est� consumindo da gente na condi��o de ser humano, l�der, e o tanto que a gente est� engajado nisso, para que as pessoas se sintam cada vez mais amparadas e motivadas em fazer o trabalho que tem de ser feito.


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