A casa de Sandra Quint�o, de 43 anos, foi derrubada pelo tsunami de lama da Samarco. Abrigada num hotel, ela anseia que at� a noite de Natal seja pelo menos pela transferida para um im�vel alugado: “A empresa n�o me deu essa garantia”, lamenta. A cat�strofe tamb�m levou embora o emprego de Geralda da Penha Gomes de Almeida, de 57. Sem renda pr�pria, a mulher agora depende da boa vontade de familiares at� para comprar o creme de pele de que tanto gosta. “N�o recebi o tal aux�lio mensal”, queixa-se. J� Valdemar Martins, de 75, reclama da falta de privacidade:
“Eu morava sozinho e, agora, divido um quarto de hotel”.
Desde as 16h20 de 5 de novembro, quando houve o estouro da Barragem do Fund�o, em Mariana, Sandra, Geralda, Valdemar e centenas de outros desalojados se tornaram ref�ns da incerteza e dos embates entre a mineradora e o Minist�rio P�blico. Os que continuam em hot�is precisam seguir as regras dos estabelecimentos. Diferentemente da vida que levavam at� serem expulsos pela lama, agora t�m hor�rio para o caf� da manh�, almo�o e jantar. Os que ainda n�o receberam o cart�o com o aux�lio mensal se veem obrigados a mendigar empr�stimos de parentes e amigos.
Dona Sandra, a mulher que n�o pretende passar o Natal num quarto de hotel, sofre com a vida longe de Bento Rodrigues, o primeiro povoado devastado pela lama de min�rio. “N�o sei quando vou sair daqui.” A sensa��o � de viver numa pris�o, compara Geralda, a mulher que depende da boa vontade de parentes at� para comprar um simples cosm�tico. “A gente fica preso no quarto. Se sai, h� hor�rio para voltar. Eu gostava da minha casinha, onde tinha as coisinhas da gente. Aqui n�o temos liberdade para nada”, constata.
Valdemar, que morava sozinho em Bento Rodrigues e agora divide com outro desalojado um quarto de hotel, reclama da falta de privacidade: “Esse neg�cio de toda hora apertar o interfone para entrar no hotel � dif�cil. L� em casa, em Bento Rodrigues, as portas ficavam abertas o dia inteiro. A meninada entrava correndo pela da sala e sa�a pela da cozinha”. O auxiliar de topografia Carlos Arlindo dos Santos, de 33, � outro que n�o consegue se adaptar ao quarto de hotel e � perda da autonomia. “N�o tenho liberdade nem para receber os amigos. Temos hor�rio para visitas, como numa pris�o.”
At� a sexta-feira, a Samarco havia transferido 115 fam�lias para im�veis alugados. “A empresa se comprometeu a aumentar o n�mero de fam�lias transferidas a cada semana, de 25 para 50”, disse o promotor Guilherme Menghin, autor da a��o que bloqueou R$ 300 milh�es da conta banc�ria da mineradora para ser usados no reparo aos danos. Segundo o promotor, todas as casas precisam ser entregues com mob�lia.
A despesa com energia el�trica ser� custeada pelos moradores. Muitos v�o usar o aux�lio mensal para bancar a fatura. Mas o cart�o para sacar o dinheiro � outra reclama��o. Geralda da Penha, que ganhava a vida como bab�, est� na bronca. “Quando eu precisava de algo, tinha meu dinheirinho. A aposentadoria do meu marido era para outras despesas. Agora, tenho que ficar pedindo dinheiro a ele”, diz, referindo-se ao marido, Osvaldo de Almeida, com quem divide a rotina no hotel juntamente com a m�e, Rosa Gomes. O aposentado Jos� do Nascimento de Jesus tamb�m aguarda o aux�lio. “N�o falaram para a gente quando vai chegar. Eu fazia bico de pedreiro e carpinteiro para completar a renda. O dinheiro faz falta. Dif�cil, n�? Se eu quero comprar uma coisa, n�o posso. � ruim depender dos outros. Eu era feliz no Bento”.
Jos� Emiliano, de 64, n�o disfar�a a tristeza quando se lembra da vida de que foi arrancado no povoado. L�, ele cultivava horta e cuidava de cria��es. “Eu n�o comprava legumes e verduras. Tinha galinhas. Vendia ovos. Agora vou ter que comprar tudo. E o valor do aux�lio � baixo”, avalia. Os moradores reivindicam um m�nimo de R$ 1,5 mil por fam�lia mais 30% por dependente. A Samarco ainda avalia a proposta.
ESPERAN�A Mas o que est� ruim ainda pode piorar. A Samarco n�o deu garantia de que vai desembolsar uma quantia para que cada fam�lia recomece sua vida. Os moradores reivindicam o m�nimo de R$ 10 mil. A mineradora, que em 2014 obteve faturamento de R$ 2,8 bilh�es, se disp�s a pagar o valor desde que abatido de valores que eventualmente seja obrigada a pagar por dano moral e material a cada fam�lia, por meio de negocia��es que ser�o abertas em fevereiro de 2016.
O valor m�nimo para que as fam�lias recomecem a vida � uma das cl�usulas do termo de ajustamento de conduta (TAC) proposto pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais � companhia. O documento precisa ser assinado at� quarta-feira, sob pena de o promotor Guilherme Meneghin arrastar as duas controladoras da Samarco – a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton – para o processo principal que pede reparo aos danos.
"Se o TAC n�o for assinado, vou ajuizar a a��o civil p�blica no dia seguinte", avisou o promotor, respons�vel pela liminar que bloqueou R$ 300 milh�es da conta banc�ria da mineradora, h� tr�s semanas, como cau��o para garantir as obriga��es financeiras da companhia. O TAC, avaliam as v�timas, � uma esperan�a para amenizar o sofrimento causado pela maior trag�dia socioambiental do Brasil.
Enquanto isso...Samarco anuncia verba para ribeirinhos
Ribeirinhos de Minas Gerais e do Esp�rito Santo afetados pela lama da Samarco devem come�ar a receber, na sexta-feira, aux�lio mensal da Samarco (R$ 788 por fam�lia, mais 20% por dependente e uma cesta b�sica). A quantia ser� destinada a pescadores e a quem ganhava a vida na extra��o de areia e pedras nos leitos atingidos. A mineradora anunciou ainda ter assinado termo de ajustamento de conduta com o Minist�rio P�blico do Trabalho com o compromisso de n�o fazer dispensa em massa de empregados at� 1º de mar�o de 2016, bem como n�o rescindir contratos de presta��o de servi�os permanentes.