
Um dos principais argumentos da Pol�cia Federal para considerar que houve dolo eventual por parte da Samarco e de seis funcion�rios foi a falta de monitoramento efetivo da Barragem do Fund�o. Uma s�rie de falhas nos piez�metros – equipamentos usados para medir a press�o das barragens – deixou a empresa sem informa��o dos riscos que a estrutura apresentava, sustenta a PF.
A Barragem de Fund�o tinha dois tipos de piez�metros: manuais e automatizados. A maioria dos equipamentos era manual e funcion�rios faziam a leitura de seus resultados semanalmente. J� os autom�ticos enviavam os dados de seis em seis horas. Por�m, segundo o relat�rio da PF, na semana do rompimento da barragem os piez�metros automatizados estavam em manuten��o e os funcion�rios da empresa n�o realizaram a leitura manual.
A barragem se rompeu no dia 5 de novembro, uma quinta-feira. Segundo o funcion�rio interrogado pelo delegado da PF, a �ltima leitura manual de Fund�o foi feita no dia 26 de outubro, uma segunda-feira. Embora a previs�o era de que a leitura manual fosse feita semanalmente, a seguinte avalia��o estava marcada apenas para o dia 6 de novembro (sexta-feira), 11 dias depois.
Os funcion�rios da Samarco interrogados pela PF divergem sobre a quantidade de piez�metros manuais e autom�ticos instalados na Barragem de Fund�o. Wanderson afirmou que existiam entre 72 e 74 instrumentos, sendo 20 automatizados. J� o encarregado da Coleta de Campo, Pedro Henrique Costa Gomes, outro funcion�rio afirmou que 70% dos piez�metros instalados eram automatizados. Em nota, a mineradora esclareceu que havia 74 piez�metros, dos quais 25 automatizados. “Os engenheiros tinham conhecimentos das inconsist�ncias de dados dos piez�metros automatizados; que inclusive foi solicitada a manuten��o”, garantiu Pedro.
Os delegados da PF respons�veis pelo inqu�rito destacam no relat�rio que, apesar do conhecimento dos problemas t�cnicos nos piez�metros automatizados, os engenheiros n�o estabeleceram mudan�as na periodicidade do exame dos instrumentos manuais. “Por que a coleta manual de dados n�o foi feita?”, questiona a PF no relat�rio.
Manuten��o Ao ser interrogado, o coordenador de monitoramento respondeu que a leitura n�o foi feita nos dias 3,4 e 5 de novembro porque os t�cnicos estavam acompanhando a empresa contratada para manuten��o dos piez�metros automatizados que come�aram apresentar problemas em agosto, quando foram iniciadas as obras na barragem. O gerente-geral da Samarco, Wagner Milagres Alves, disse, em depoimento � PF, que s� ficou sabendo que as redes de transmiss�o dos dados dos piez�metros autom�ticos estavam com problemas ap�s o rompimento da barragem. Perguntado pelos delegados sobre a raz�o de um per�odo de 11 dias sem leituras manuais, uma vez que os aparelhos automatizados estavam com problemas, o gerente-geral respondeu que n�o sabia informar.
Samarco diz que
indiciamento �
‘despropositado’
A Samarco afirmou, em nota, que n�o concorda com o indiciamento, pois foi decidido em relat�rio parcial, baseado em dados colhidos at� meados de dezembro. “Ap�s essa decis�o, v�rios esclarecimentos foram prestados em novos depoimentos e documentos juntados, todos a afastar os fundamentos do indiciamento”, afirma a empresa em nota. A empresa entende que a alega��o de dolo eventual no crime ambiental � “despropositada e absurda, pois a Samarco, seus t�cnicos e consultores jamais poderiam supor que pudesse ocorrer um acidente dessa dimens�o nem assumiriam o risco da sua ocorr�ncia, pois absolutamente nada justificaria assun��o do risco de enfrentamento de problemas como os que a empresa est� a enfrentar neste momento”.
Sobre a frequ�ncia da leitura dos piez�metros, a Samarco afirma que era maior do que a recomendada no manual de opera��es elaborado pelo projetista e consultor da barragem, Joaquim Pimenta de �vila. “Al�m disso, as leituras dos instrumentos de monitoramento sempre atestaram a estabilidade da barragem e jamais houve alerta de iminente risco de sua abrupta ruptura”, afirma a empresa em nota.
Liquefa��o
� hip�tese
prov�vel
Segundo o relat�rio da Pol�cia Federal, a hip�tese mais prov�vel para o rompimento da barragem � a liquefa��o (transi��o para o estado l�quido dos rejeitos s�lidos). A PF considera que a Samarco foi avisada da possibilidade em 2014, quando o consultor Joaquim Pimenta de �vila, projetista da Barragem do Fund�o e propriet�rio da empresa que fez o plano de opera��o da barragem, alertou a Samarco que a mineradora “estava construindo um refor�o calculado segundo uma metodologia que n�o levava em considera��o a liquefa��o na funda��o do dique”.
De acordo com a PF, Pimenta destacou que o projeto original da barragem foi alterado, criando um recuo que n�o estava previsto. “Com essa interven��o dr�stica, n�o mais se poderia aplicar o plano de opera��es desenvolvido para uma barragem linear, mas, sim, deveria ter sido feito outro plano de opera��es”, indica trecho do relat�rio da PF, com base no depoimento do engenheiro.
MP toma depoimento Indiciado pela PF e afastado da presid�ncia da Samarco, Ricardo Vescovi prestou depoimento ontem no Minist�rio P�blico de Minas Gerais por quatro horas. Ele come�ou a responder �s perguntas do promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto �s 15h10. Respondeu a �ltima por volta das 19h. Vescovi entrou e deixou a sede do MPMG sem conversar com a imprensa. O promotor tamb�m n�o concedeu entrevista.
Carlos Eduardo tamb�m faria ontem a oitiva do ex-diretor de opera��es Kl�ber Terra, agendada para 17h. Em raz�o da demora no depoimento anterior, a oitiva foi transferida para a pr�xima semana. Ele tamb�m deixou a sede do MPMG sem conversar com a imprensa. Ricardo Vescovi deixou a presid�ncia da Samarco em 20 de janeiro. Ele foi indiciado pela PF por crime ambiental no dia 13. (DC e Paulo Henrique Lobato)
H� risco de uma nova movimenta��o de rejeitos, com chances de causar deslizamento e rompimento em barragens da mineradora Samarco em Mariana, na Regi�o Central de Minas. A constata��o foi feita por deputados da Comiss�o Extraordin�ria das Barragens, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que visitaram ontem a Barragem do Fund�o, onde houve deslocamento de cerca de um milh�o de metros c�bicos de rejeitos na quarta-feira. Na an�lise sobre a movimenta��o de lama, que passou pela Barragem do Fund�o e chegou � de Santar�m, o deputado e presidente da comiss�o, Agostinho Patrus Filho (PV), alertou para o risco de novos deslocamentos. “Outros milh�es de metros c�bicos ainda est�o depositados l�, tamb�m sob risco iminente de um rompimento. Esse risco aumenta cada vez mais com o volume das chuvas, que tem sido muito expressivo nas �ltimas semanas” disse o parlamentar.Ainda segundo o deputado, cerca de 20 milh�es de metros c�bicos de lama ainda podem escorrer da Barragem do Fund�o, o que pode ocasionar mais danos �s outras duas estruturas, de Santar�m e Germano. Em 5 de novembro, com o rompimento da Barragem do Fund�o, cerca de 34 milh�es de metros c�bicos devastaram os locais por onde passaram, causando o maior desastre socioambiental do pa�s. Em nota, a Samarco afirmou que as estruturas das barragens de Germano e Santar�m permanecem est�veis e que s�o monitoradas 24 horas por dia, durante toda a semana. Segundo o texto, a movimenta��o de quarta-feira foi causada pelas chuvas na regi�o e que as defesas civis de Mariana e Barra Longa foram imediatamente informadas. (Rodrigo Melo)