
Antes de encarar o desafio, ouvi de alguns amigos que bater uma vareta de cinco pontas em um “pandeirinho” seria tarefa f�cil, mas garanto que n�o �. Tem que ter ritmo. Para n�o errar, aprendi a marcar a levada da m�sica com os p�s. Tive que “me virar” para dan�ar e tocar ao mesmo tempo. Acompanhar o di�logo do Gustavo Caetano e do Lauro J�nior, regentes da galera, foi outro desafio. O momento em que cada instrumento come�a a tocar � explicado por eles de um jeito bem particular. “Voc� entra depois do t�-t�-t�-tum.” Com as m�os, eles fazem sinais que, mesmo depois de um m�s de ensaios, ainda n�o entendi. A dica � sempre esperar, identificar a m�sica e entrar tocando depois dos colegas.
Para fazer parte dessa bateria, n�o � preciso ser um percussionista profissional. Eu, por exemplo, n�o tenho nenhuma habilidade musical. Basta ter um instrumento, disposi��o para aprender e acompanhar os ensaios semanais, que come�am j� um m�s depois do carnaval. Meu primeiro contato com o tamborim foi t�mido e aconteceu “aos 45 minutos do segundo tempo”, um m�s antes da folia. Minha entrada no grupo foi viabilizada pelo incans�vel Gustavo. Fui recebida pelos veteranos, que me acolheram muito bem e logo me ensinaram alguns truques para lidar com a falta de jeito. No in�cio, n�o sabia nem segurar o instrumento.
No desfile, a rainha de bateria foi uma atra��o � parte. Teve at� casamento simb�lico de um integrante, com direito � Marcha Nupcial em ritmo de samba, claro! Quem abriu alas para o bloco passar foi Esmeralda, a Veraneio vermelha usada pelo Grupo Galp�o nas apresenta��es de rua da pe�a Romeu e Julieta. E, confesso, ter um dos principais �cones da cultura popular do pa�s entre n�s foi um privil�gio. Esmeralda, como o pr�prio Gustavo Caetano, fundador, gestor e produtor do Queixinho, sempre diz, representa a luta da rua, do teatro, a sobreviv�ncia e resist�ncia do setor cultural. Ator e diretor do Galp�o, Chico Pel�cio tamb�m fez parte da bateria. Al�m dele, gente de todas as idades e profiss�es tornam a bateria plural e bonita.
O repert�rio tem de tudo. S�o v�rias bossas: funk, rock, ijex� e m�sica cl�ssica. Boa parte coreografadas e que d�o um brilho especial � bateria. Mais que tocar e dan�ar para acompanhar a turma, � preciso ter preparo f�sico. No meu primeiro ensaio, que durou tr�s horas, sa� bem cansada. Senti dores nos bra�os, que n�o param um minuto, nas costas e nas pernas. Mas a sensa��o final foi de �xtase total. Aprender a tocar um instrumento � compensador, al�m de uma boa v�lvula de escape para as tens�es do dia a dia. Muita gente, inclusive, estava ali para isso.
Os bastidores do desfile envolvem a galera da bateria, amigos e a fam�lia dos integrantes, que fazem de tudo para empolgar os foli�es no dia do desfile. Tem quem decore o estandarte, distribua as camisas e organize a entrega de �gua para quem est� tocando. No fim, a recompensa � ter uma plateia que faz o corpo vibrar com todos os instrumentos da bateria. Fica a sensa��o de ter proporcionado algumas horas de alegria para pessoas que eu n�o conhe�o e que tamb�m n�o faziam ideia de quem eu era no meio da multid�o. Ser parte de uma bateria �, sem nenhuma d�vida, uma declara��o de amor � cidade.