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Estado de Minas

A dor de viver nas sombras: portadores do HIV ainda vivem com fantasma do preconceito

Nas redes sociais, grupos de apoio a soropositivos, protegidos pelo anonimato e muitas vezes resguardados sob falsos perfis, se multiplicam, permitindo a troca de informa��es entre novos infectados, que muitas vezes se recusam a buscar tratamento


postado em 14/02/2016 11:00 / atualizado em 14/02/2016 09:59

A casa do Vhiver-BH, que já atendeu mais de 8 mil soropositivos por mês e oferecia até ginástica, hoje está em ruínas(foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
A casa do Vhiver-BH, que j� atendeu mais de 8 mil soropositivos por m�s e oferecia at� gin�stica, hoje est� em ru�nas (foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
Nem todos os soropositivos e soropositivas sobreviventes do HIV/Aids deram conta de sair do arm�rio em 35 anos de epidemia no mundo, assumindo publicamente sua sorologia. Ainda que a discrimina��o a portadores do HIV e doentes de Aids esteja proibida pela Lei Federal 12.984, assinada pela presidente Dilma Rousseff em junho de 2014, o fantasma do preconceito permanece � espreita. Portadores do v�rus como a evang�lica Maria* (nome fict�cio), de 60 anos, preferem se fazer invis�veis nos ambientes de trabalho, igrejas e universidades a ficar eternamente marcados por uma doen�a relacionada � promiscuidade sexual e uso de drogas. Ela pegou o v�rus h� 17 anos relacionando-se com o companheiro, com quem estava amigada e tinha uma filha, embora soubesse que o homem mantinha uma amante. Depois que o marido partiu com Aids, entrou em depress�o, at� conhecer a institui��o de apoio a soropositivos Vhiver-BH, onde encontrou com quem podia conversar. O grupo fechou as portas.


Nas redes sociais, grupos  de apoio a soropositivos, protegidos pelo anonimato e muitas vezes resguardados sob falsos perfis, se multiplicam, permitindo a troca de informa��es entre novos infectados, que muitas vezes se recusam a buscar tratamento. “Desde que descobri meu diagn�stico tenho andado ref�m do HIV. Contei a verdade para meu namorado, que n�o reagiu bem e me abandonou. Estou me sentindo sujo, prom�scuo. Parei de fazer faculdade e me tranquei no quarto, n�o tenho coragem de contar minha hist�ria a ningu�m. Depois de acompanhar esses links por mais ou menos um ano, tomei coragem de cutucar voc�s. Podem me dizer se estou morrendo?”

Outra hist�ria que chama a aten��o � a de um homem heterossexual do Sul do pa�s que, ao fazer um check-up pedido pelo empregador, descobriu ser portador do HIV por transmiss�o vertical, ou seja, de nascen�a. S� ent�o lhe foi revelado que havia sido adotado nos prim�rdios da epidemia. Sua maior d�vida era se poderia realizar o sonho de se casar e de ser pai. Outro, que atuava como um atendente  em hospital particular,  queria saber onde poderia refazer em sigilo, no sistema p�blico, os testes de sua carga viral, de modo que a sorologia nunca passasse a constar do prontu�rio do seu conv�nio de sa�de, vinculado diretamente � empresa.
Buzon:
Buzon: "soropositivo n�o � movido apenas a coquetel de medicamentos" (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

“Na verdade, o programa DST/Aids n�o est� �s mil maravilhas, como tenta nos convencer o governo federal. Querem que, em tempo recorde, as pessoas com HIV passem a viver em uma pretensa normalidade”, diz Valdecir Buzon, que na d�cada de 1990, fundou o Vhiver BH, onde calcula ter atendido at� 8 mil pessoas por m�s na antiga casa pintada de azul, no Bairro Funcion�rios, sede da primeira academia de gin�stica voltada para portadores de HIV no pa�s. Hoje, a casa est� em ru�nas. Desde a interrup��o dos atendimentos, quatro jovens que eram mantidos na faculdade por bolsas de estudo largaram os cursos e, segundo Buzon, outras cinco pessoas tentaram o suic�dio. Pelo menos duas desistiram da vida controlada por medicamentos.

Outras entidades, como o Grupo de Apoio �s Pessoas com Aids (Gapa) de BH, que tiveram papel central para pressionar as autoridades no auge da epidemia, tamb�m est�o desativadas. H� dois anos, o Vhiver-BH funciona precariamente na casa em ru�nas, atolado em d�vidas, aguardando transfer�ncia para outro im�vel prometido no Bairro da Floresta, mas ainda sem data confirmada. “O soropositivo n�o � movido apenas a coquetel de medicamentos. Ele continua precisando de um grupo de apoio e de aconselhamento para lidar com as suas novas quest�es”, defende Buzon, que penhorou o pr�prio carro e apartamento em prol da entidade, que passou a carregar nas costas, quase que literalmente.


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