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Estado de Minas

Jovens com HIV desafiam estigma e cobram discuss�o para frear doen�a entre os mais novos

Vinte anos depois de a terapia antirretroviral ter domado os devastadores efeitos do HIV, soropositivos lutam abertamente contra o preconceito e o avan�o silencioso da epidemia


postado em 14/02/2016 11:00 / atualizado em 26/02/2016 20:53

"Quero ser respeitado (...). Jamais vou p�r algu�m em situa��o de risco" - Diego Callisto, de 26 anos, portador do HIV desde os 18 (foto: Euler J�nior/EM/DA Press)
"Carrego um v�rus no meu corpo, mas quero ser respeitado. N�o abri m�o de nenhum dos meus projetos de futuro, at� porque a Aids j� deixou de ser uma senten�a de morte. Hoje, sou muito mais saud�vel do que o garoto de 18 anos que eu era, quando peguei o HIV. Mas o diagn�stico me deu um ‘sacode’, sabe? Tive de melhorar meus h�bitos. Sa� da batata frita e do refrigerante e passei a me alimentar melhor. Todas as noites, no mesmo hor�rio, tomo o comprimido (tr�s em um) antes de me deitar. Outra coisa importante � ter uma boa jornada de sono. Posso chegar em casa de madrugada, mas me programo para dormir oito horas seguidas para facilitar a absor��o dos medicamentos. Nunca mais tive rela��o sexual sem camisinha. Jamais vou querer p�r algu�m em situa��o de risco, como aconteceu comigo.”


Com mais de 4 mil seguidores no Facebook, o jovem mineiro Diego Callisto, de 26 anos, � o �nico representante da Am�rica Latina a figurar na lista dos 16 ativistas mundiais contra o HIV em 2016, reconhecidos por uma publica��o especializada norte-americana no ano passado por sua influ�ncia. Natural da Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, Diego contraiu o v�rus HIV muito cedo, aos 18 anos, por meio de uma rela��o sexual sem camisinha, mas, passados oito anos, ainda n�o desenvolveu os sintomas da S�ndrome da Imunodefici�ncia Adquirida (Aids). Para adiar o momento em que a doen�a vai se instalar no organismo, Diego pratica uma alimenta��o saud�vel, oito horas de sono e uso regular da terapia antirretroviral. Seu tratamento se resume a ingerir um comprimido (tr�s em um) todas as noites, antes de dormir. Mas a p�lula n�o pode faltar. � quest�o de vida ou morte. Mesmo.

Na pr�tica, Diego faz parte da gera��o que nasceu ou se tornou adolescente e jovem p�s-1996, ou seja, exatos 20 anos depois da descoberta da terapia antirretroviral anti-HIV, uma combina��o de drogas capaz de derrotar o v�rus da Aids, retirando dele a certeza da letalidade, mas nem toda a carga de preconceito e avers�o aos soropositivos. “Os jovens nascidos depois dessa �poca n�o viram os seus �dolos, como Cazuza, Renato Russo ou Freddie Mercury, morrerem cedo e em poucos meses das doen�as oportunistas que atacam em fun��o do sistema imunol�gico deprimido pela Aids. Embora o HIV n�o provoque medo como antes, n�o podemos correr o risco da banaliza��o da epidemia entre essa nova gera��o”, compara o infectologista F�bio Mesquita, diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Minist�rio da Sa�de, em Bras�lia. Ele alerta que os n�meros que mais cresceram no Brasil est�o entre os jovens de 15 a 24 anos, que saltaram 50% entre 2006 e 2014.

Soropositivos falam sobre como � a vida com o v�rus HIV


Em Belo Horizonte, dados mais atualizados da Secretaria Municipal de Sa�de, de 2015, mostram que os adolescentes est�o descobrindo mais cedo as rela��es sexuais, t�m menos informa��es a respeito da epidemia mundial e, portanto, se contaminam em maior propor��o. Se em 2005, a incid�ncia de adolescentes entre 15 a 19 anos vivendo com Aids era de 1,7 na capital mineira, a taxa simplesmente passou para 3,1 casos nessa faixa et�ria por 100 mil habitantes, no ano passado. Entre jovens de idade menos tenra, entre 20 e 24 anos, a incid�ncia de novos casos de infec��o por aids tamb�m subiu, passando de 10,2% do total para 17% no mesmo per�odo. “Mais de 12 mil pessoas continuam morrendo por ano de aids no Brasil, s� que a epidemia perdeu a visibilidade. No imagin�rio popular, a Aids perdeu a import�ncia ou talvez algumas pessoas achem que a doen�a nem existe mais. S� me procuram para falar sobre HIV/Aids perto do carnaval ou em 1º de dezembro (dia mundial de combate ao HIV)”, protesta Dirceu Grecco, um dos fundadores do primeiro ambulat�rio de doen�as imunoinfecciosas de BH, em 1985, dentro do Hospital das Cl�nicas da UFMG.

Para o estudante do 6º per�odo de medicina da UFMG Gustavo Cardoso, de 23, que assume publicamente sua condi��o de soropositivo, oferecer informa��o clara e sem censura sobre a nova Aids � a melhor f�rmula para combater o HIV. Pela l�gica m�dica, enquanto houver receio de se perguntar sobre a exist�ncia de testes r�pidos de Aids em consult�rios e postos de sa�de, o v�rus continuar� se disseminando. “Tenho v�rios amigos positivos e at� j� formados em medicina que morrem de medo de revelar sua sorologia. Para mim, esconder � a pior solu��o. A hist�ria mostra que aqueles que mudaram a sociedade deram a cara a tapa. Foi assim com os negros, os homossexuais e est� sendo agora com os soropositivos”, explica.

Segundo o futuro cl�nico geral, o racioc�nio deveria ser de ordem l�gica e n�o apenas cultural. “O n�mero de pessoas que t�m HIV e n�o sabem disso porque nunca se submeteram ao teste � assustador. Como os sintomas do v�rus s�o inespec�ficos, muitos confundem a incuba��o do HIV com uma gripe forte, uma dengue ou uma simples virose”, diz. Calcula-se que, s� em BH, 10 mil pessoas estejam atualmente vivendo com HIV e, destas, pelo menos 1.220 estejam com o v�rus ainda indetectado no corpo. Os outros 88% j� est�o em tratamento.

MARCAS DO PASSADO

"N�o sofro preconceito, porque fiz do HIV minha vida, trabalhando como ativista. Estou protegido pelo meu projeto, mas sei de pessoas que n�o conseguem contar nem para a fam�lia"

Gabriel Estr�la, de 23 anos, ator, que descobriu no passado ter o v�rus HIV


Com porte f�sico “sarado” e boa apar�ncia, Gabriel Estrella bate na tecla da necessidade de se fazer o teste r�pido anti-HIV, que d� o resultado em meia hora e est� dispon�vel gratuitamente na rede p�blica. “Se todos os que j� tiveram uma rela��o de risco perdessem o medo de se testar e descobrissem logo ter o HIV, em seis meses de uso da medica��o deixariam de transmitir o v�rus e passariam a ter qualidade de vida. Falar sobre preven��o sexual gera um alicerce mais poderoso do que o medo incutido pela galera mais conservadora, que ainda est� presa na ideia noventista da Aids, quando os doentes ficavam em estado grave, sem tratatamento”, defende Gabriel, que exp�e suas ideias por meio da internet (www.facebook.com/projetoboasorte).


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