(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Escolas que recebem estudantes do Haiti atuam para promover o di�logo entre culturas

Haitianas como Sheika e Archeline come�am a construir suas vidas em escolas p�blicas, que enfrentam desafio de apoiar os imigrantes


postado em 15/02/2016 06:00 / atualizado em 15/02/2016 07:29

Estudantes de escola municipal de Contagem, Sheika e Archeline, que vivem com uma irmã mais velha, se empenham nos estudos e sonham com carreiras profissionais no Brasil(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Estudantes de escola municipal de Contagem, Sheika e Archeline, que vivem com uma irm� mais velha, se empenham nos estudos e sonham com carreiras profissionais no Brasil (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
A irm�s Sheika e Archeline Louis, respectivamente de 14 e 13 anos, ficam com a mesma idade por alguns meses. Quem as v� percebe o quanto s�o parecidas, de modo que � f�cil pensar que s�o g�meas. Sorridentes, as duas t�m muitas expectativas em rela��o ao Brasil e j� trilham um caminho para que os sonhos se cumpram. Integradas � comunidade escolar, as meninas s�o uma das quatro estudantes haitianas da Escola Municipal Maria de Matos, no Bairro Jardim P�rola, em Contagem.

Sheika tem d�vidas se pretende seguir a carreira de cantora ou de engenheira civil. As meninas estavam nos primeiros grupos que chegaram ao estado h� quase quatro anos. Apenas 31% dos imigrantes haitianos em Minas s�o mulheres com idades entre 4 e 54 anos, como demonstrou a pesquisa Imigra��o Haitiana na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, realizada pelo grupo de pesquisa e extens�o Direitos Sociais e Migra��o da PUC Minas.

As duas deixaram para tr�s os pais para viver com a irm� mais velha, hoje com 21 anos, que estava no Bairro S�o Joaquim, em Contagem. “A gente sente saudade de nossos pais, mas eles v�m nos visitar”, diz Sheika. Tirando os pais, todos os cinco irm�os migraram para o Brasil. Se seguir a carreira na m�sica, o estilo adotado dever� ser o gospel, conta a menina, que tem simpatia pela religi�o evang�lica, o que n�o a impede de gostar tamb�m de samba, pagode e funk. “Quando vim para c� queria aprender a falar outra l�ngua e conhecer coisas diferentes. Come�o a falar portugu�s e me acostumar com a cultura”, diz Archeline com bastante desenvoltura com a l�ngua.

O diretor-geral do Departamento de Educa��o e Diversidade de Contagem, Jo�o Alves de Souza J�nior, defende a��es articuladas para garantir aos imigrantes o direito universal de acesso � escola. No munic�pio, o programa Escola sem Fronteiras segue quatro eixos: elabora��o de um mapeamento seguido de diagn�stico sobre a situa��o social dos estudantes e fam�lias; elabora��o de material pedag�gico que coloque em di�logo a cultura brasileira e a haitiana; trabalho de sensibiliza��o dos profissionais em educa��o para recepcionar os imigrantes e trabalhar pedagogicamente com eles. Um das a��es desse eixo s�o aulas de franc�s para os professores para ajudar na comunica��o.

“Na comunica��o entre professores e pais, orientamos que os bilhetes sejam escritos em crioulo para facilitar o entendimento”, diz. Haitiano, o professor Phanel Georges, de 30 anos, ajuda a comunidade haitiana em Contagem no processo de integra��o. Uma de suas fun��es � acompanhar os pais no momento em que procuram vagas para os filhos. Muitos rec�m-chegados ainda n�o sabem como funciona o sistema educacional brasileiro e, na maior parte das vezes, n�o dominam o portugu�s. Ele lembra que v�rios pais n�o sabem que os filhos t�m direito � educa��o, muitos ficam com medo e ainda h� a burocracia relacionada � documenta��o. “A quest�o migrat�ria existe no mundo todo. � uma quest�o muito atual. � o fluxo de pessoas em busca de uma vida melhor”, argumenta Phanel. Um passo fundamental para o processo de adapta��o � o acesso � educa��o. Mas, em sua avalia��o, faltam materiais did�ticos e pedag�gicos para atender os imigrantes haitianos.

Recentemente, a PUC Minas criou o Observat�rio de Migra��o Internacional do Estado de Minas Gerais (ObMinas). “Temos que atender essa popula��o e coibir a xenofobia e o racismo. Precisamos tamb�m garantir que os imigrantes fa�am rotas seguras e fujam do tr�fico”, afirmou o professor Duval Fernandes. O objetivo do observat�rio � ajudar na media��o da rela��o dos imigrantes com os �rg�os de governo. A universidade tamb�m tem papel fundamental nesse processo. “Queremos mostrar aos imigrantes que eles s�o bem-vindos e que desejamos contribuir com eles. A migra��o internacional n�o � problema de um �nico ator. Ela nos convoca � articula��o entre Estado, sociedade civil e organiza��es n�o governamentais para a cria��o de uma sociedade mais igualit�ria, por meio do di�logo e intera��o com os imigrantes”, destacou a pr�-reitora adjunta de extens�o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cl�udia Mayorga.

Li��es que vieram do Haiti


Em 1791, quando o Brasil ainda era col�nia, teve in�cio no Haiti um processo longo para independ�ncia, uma das primeiras revoltas nas Am�ricas com forte car�ter abolicionista. A coordenadora do projeto Rep�blica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do livro Brasil uma biografia, Helo�sa Starling, destaca que a revolu��o do Haiti est� no mesmo n�vel de import�ncia da revolu��o norte-americana, que trouxe a discuss�o sobre rep�blica, e a Revolu��o Francesa, que preconizou a igualdade.

A revolu��o haitiana p�s em foco a liberdade para todos em uma �poca em que o regime escravocrata imperava em muitos pa�ses. “No Brasil, os senhores de escravos tinham muito medo de ocorrer algo semelhante”, lembra Helo�sa. Diante do fantasma de uma insurrei��o liderada pelos escravos, a Coroa portuguesa enviou carta alertando o governo da Bahia. “O Brasil e o mundo devem muito ao Haiti”, refor�a a historiadora.

A dimens�o social da revolta do Haiti tempos depois inspirou Caetano Veloso a compor a can��o que recebe o nome do pa�s. H� 22 anos, ao dizer que o “Haiti � aqui”, o m�sico conclamou uma reflex�o acerca de quest�es sociais e raciais no Brasil. Embora queiram reconstruir a vida no Brasil, os haitianos se orgulham da nacionalidade. “A nossa nacionalidade nos custou muito caro. Vamos ser sempre haitianos”, pontua o professor Phanel Georges.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)