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Estado de Minas

Mulheres adiam maternidade com medo da microcefalia

Temendo que os beb�s nas�am com a malforma��o, cuja rela��o com o zika v�rus est� sendo investigada, mulheres adiam planos � espera de uma explica��o da medicina


postado em 21/02/2016 06:00 / atualizado em 21/02/2016 09:14

Daniel Prados, Fiorença Lescano e André, de cinco meses, filho do casal, que por enquanto não pretende ter o segundo bebê(foto: Euler Júnior/E.M/D.A Press)
Daniel Prados, Fioren�a Lescano e Andr�, de cinco meses, filho do casal, que por enquanto n�o pretende ter o segundo beb� (foto: Euler J�nior/E.M/D.A Press)
O segundo filho ficar� para depois. A farmac�utica Fioren�a Lescano de Oliveira Prados, de 35 anos, e o funcion�rio p�blico Daniel Barbosa Prados, de 33, n�o querem aumentar as chances de gerar um beb� com malforma��o, j� que esse risco, que sempre existiu, tornou-se mais temido com o surto de microcefalia associada ao zika v�rus. Andr�, hoje com 5 meses, s� vai ganhar um irm�o, ou irm�, quando os perigos forem menores, depois que a rela��o entre o zika e a microcefalia for esclarecida. Por hora, � tudo um tiro no escuro.

O problema, que vem assustando o Brasil – j� s�o 508 casos confirmados de microcefalia e outras altera��es do sistema nervoso central associadas ao zika e 3.935 em investiga��o –, mudou os planos de muitas fam�lias, n�o s� no Nordeste, onde est� a maioria dos casos, mas tamb�m em Minas. O papa Francisco, em pronunciamento que contraria uma das principais diretrizes da Igreja Cat�lica, considerou aceit�vel que mulheres com risco de engravidar nesse cen�rio usem m�todos contraceptivos. Nos consult�rios ginecol�gicos, o temor � generalizado e nas cl�nicas de reprodu��o assistida a situa��o adversa ganha outra dimens�o, j� que s�o mulheres correndo contra o tempo.

F.R., mineira de 37 anos, h� 4 morando em Recife, cancelou um procedimento de fertiliza��o na �ltima hora. “Fa�o o tratamento em Belo Horizonte e no final do ano j� estava na cidade para fazer a transfer�ncia de embri�es. Tinha, inclusive, come�ado a tomar as inje��es. Foi quando meu marido me ligou, contando que em Pernambuco n�o se falava em outra coisa a n�o ser a poss�vel rela��o dos casos de microcefalia com o zika v�rus. Liguei para uma m�dica conhecida, em Recife, e ela disse que estavam cancelando os procedimentos, inclusive mulheres mais velhas do que eu”, lembra.

No foco do problema, F.R. n�o quer arriscar. Pelo menos n�o agora. Por l�, ela � s� mais uma de tantas mulheres que lutam pela maternidade e que, diante da microcefalia, est�o refazendo seu planejamento familiar. “Estava supersens�vel quando tomei a decis�o. Tinha acabado de tomar uma bomba de horm�nios. Mas foi o mais prudente. Quero ver como isso vai se desenrolar. N�o tenho a op��o de sair do Recife para gerar uma crian�a, apesar da dificuldade que tenho para engravidar e da idade. � onde eu trabalho e estudo. � onde est� meu marido. N�o quero uma gesta��o longe dele. N�o � uma op��o para mim voltar pra Minas”, desabafa.

Segundo o especialista em reprodu��o assistida Bruno Scheffer, diretor do Instituto Brasileiro de Reprodu��o Assistida (Ibrra), com sede em BH, hoje, a mulher que chega a uma cl�nica especializada j� est� enfrentando a dificuldade para engravidar h� algum tempo. � uma paciente j� angustiada, que sofre com o insucesso de suas tentativas. Para essas mulheres, a op��o de adiar ou desistir da maternidade em tal cen�rio � ainda mais sofrida, pois elas sabem que a cada ano as chances v�o diminuindo. “Depois dos 35 anos, a probabilidade de engravidar � cada vez menor. H� uma queda na quantidade e na qualidade dos �vulos”, diz.


�VULOS CONGELADOS Mas h� recursos para essas mulheres. O congelamento de �vulos � uma op��o, embora, segundo Rodrigo Ribeiro, especialista em reprodu��o humana do Cegonha Medicina Reprodutiva, isso aumente o custo do tratamento em cerca de 30%. “A op��o do congelamento � principalmente para evitar o momento cr�tico da doen�a e ter tempo de aguardar maiores defini��es sobre a mesma. At� os 50 anos, a mulher pode se utilizar das t�cnicas de reprodu��o assistida. Sendo assim, caso opte pelo congelamento, ter� bastante tempo para decidir quando quer transferir esses embri�es que congelou”, explica.


A ginecologista Rívia Lamaita recomenda que famílias esperem passar o período de maior incidência do Aedes aegypti para ter mais filhos(foto: Euler Júnior/E.M/D.A Press)
A ginecologista R�via Lamaita recomenda que fam�lias esperem passar o per�odo de maior incid�ncia do Aedes aegypti para ter mais filhos (foto: Euler J�nior/E.M/D.A Press)
A microcefalia n�o � incompat�vel com a vida. O Minist�rio da Sa�de e a Federa��o Brasileira de Ginecologia e Obstetr�cia (Febrasgo) n�o fizeram orienta��es formais para que as mulheres evitem engravidar neste momento, embora os cuidados para elas sejam especiais e refor�ados em v�rias situa��es. Segundo Adriana Scavuzzi, coordenadora do Centro de Aten��o � Mulher do Instituto Materno Infantil Fernando Figueira (Imip), hospital de refer�ncia em Pernambuco, os m�dicos tamb�m n�o podem dar uma orienta��o geral, o que nem faria muito efeito, j� que a grande maioria das gesta��es brasileiras n�o � planejada.

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“Cada caso � um caso. Uma mulher de 25 anos pode esperar. J� uma mulher de 42 anos, que j� est� em um processo de reprodu��o assistida, ter� mais dificuldade a cada ano”, explica. A gesta��o de um beb� com microcefalia tampouco � considerada uma gravidez de risco. Por outro lado, j� foi observado um maior risco de abortamento e de perda gestacional em gestantes que tiveram zika durante a gesta��o. Na semana passada, a Prefeitura de Sete Lagoas, Regi�o Central do estado, confirmou um caso de aborto decorrente de zika: o v�rus foi identificado na m�e e no feto.

Para Geraldo Duarte, professor titular de ginecologista e obstetr�cia da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto, da Universidade de S�o Paulo, tamb�m coordenador obst�trico do Comit� Assessor da Secretaria Estadual de Sa�de de S�o Paulo, as d�vidas sobre o tema s�o t�o grandes que n�o h� qualquer prud�ncia em se dizer sim ou n�o para m�es indecisas sobre a gesta��o neste momento. “O posicionamento da Febrasgo � orientar que o risco existe, mas n�o sabemos ainda dimensionar o tamanho. N�o sabemos qual a porcentagem de mulheres infectadas pelo v�rus que v�o gerar beb�s com malforma��es”, pondera.

PAUSA Fioren�a n�o teve qualquer dificuldade para engravidar de Andr�. Tem esse ponto a favor. Por outro lado, sonhava em ter dois filhos na sequ�ncia. “Tudo meu � muito planejado e foi um pouco frustrante ter que mudar o que t�nhamos em mente. A ideia era engravidar novamente entre setembro e dezembro deste ano. At� l�, h� um tempo para ver como a ci�ncia explica o fen�meno do zika. Mas a pausa j� est� decidida.” A ginecologista R�via Lamaita, coordenadora do Centro de Reprodu��o Humana da Rede Mater Dei de Sa�de, diz que seria prudente esperar, pelo menos, passar esse momento de alta prolifera��o do mosquito. “Nos anos 1980 conseguimos derrotar o Aedes aegypti. N�o podemos diminuir a vigil�ncia sobre ele.”

 

 

 


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