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Estado de Minas

Cegos de BH aplaudem motorista de Pernambuco e pedem gentileza no transporte p�blico

Deficientes visuais elogiam condutor que obrigou passageiros a dar lugar a cego, mas alertam que o mais importante � receber orienta��o para se acomodar no �nibus


postado em 25/02/2016 06:00 / atualizado em 25/02/2016 08:55

Marilane Silva ressalta que seu problema é visual, e não de locomoção:
Marilane Silva ressalta que seu problema � visual, e n�o de locomo��o: "Tenho bra�os e pernas fortes" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
"N�o enxergo, mas fiquei vermelha de vergonha quando o motorista desligou o �nibus e amea�ou que n�o arrancaria enquanto outro passageiro n�o cedesse o lugar para eu sentar. Fiquei t�o constrangida, que minha vontade era descer 'correndo' pela porta da frente, pois senti que estava atrasando todo mundo dentro do �nibus", desabafou Marilane Alves Silva, de 39 anos, que j� nasceu com retinose pigmentar e v� apenas a claridade. Integrante da banda Forr� no Escuro, a massoterapeuta esbanja alto-astral ao contar suas aventuras di�rias de pegar duas condu��es para ir e voltar de Nova Lima, onde mora, at� chegar ao Instituto S�o Rafael, na Regi�o Central de Belo Horizonte. "Morro de vergonha. Tenho bra�os e pernas fortes e dou conta de me segurar perfeitamente. Meu problema � visual e n�o de locomo��o!" A rea��o de Marilene indica que nem sempre a gentileza est� na medida certa.

Ontem, gerou enorme repercuss�o nas redes sociais o caso de um motorista do Recife que fazia a linha Rio Doce/Cidade Universit�ria, que, ao perceber que um passageiro cego seguiria a viagem de p�, amea�ou tomar uma medida mais radical: "Se ningu�m der o lugar, ele vai sentar aqui e dirigir o �nibus". Epis�dios como esse, em que motoristas de transporte p�blico interrompem a viagem at� que deficientes visuais estejam bem acomodados e seguros nas cadeiras a eles reservadas por lei, s�o uma constante entre participantes das atividades do Instituto S�o Rafael, at� por exig�ncia das empresas de �nibus de evitar acidentes a todo custo nos ve�culos. Por outro lado, h� casos de passageiros que at� fingem estar dormindo para n�o ceder o lugar aos deficientes, conforme den�ncia da diretora do Instituto S�o Rafael, Juliany Sena, que recentemente foi alvo de reclama��es ao parar um �nibus para encaixar um colega professor, que � deficiente visual: "Alguns alegaram que eu deveria esperar passar outro carro, que estivesse vazio".

O gesto educado e solid�rio do condutor do Recife foi aplaudido e admirado por milhares de seguidores do Facebook, citado como exemplo de gentileza urbana, t�o em falta no mundo atual. Para muitos cegos desde o nascimento, entretanto, em vez de se levantar na hora, o melhor seria indicar ao deficiente visual a localiza��o dos lugares que ainda est�o vagos, como, por exemplo, a terceira cadeira � direita. "No que se refere � nossa capacidade de ficar de p�, somos iguais a todo mundo. Corta o cora��o quando uma senhora mais velha oferece a cadeira. Evito recusar, por�m, porque pode parecer pouco caso e passar a impress�o de que estou deixando de ser um ‘cego em p�’ para ser um ‘cego sem educa��o", compara o ge�grafo Ant�nio Jos� de Paula, de 68, p�s-graduado em educa��o inclusiva e que tem glaucoma cong�nito. "Muitas vezes, a pessoa se sente lisonjeada ajudando, n�o �?", completa.

Integrante da comiss�o de transportes da BHTrans que ajudou a criar um aplicativo voltado para deficientes no celular, lan�ado este ano, Ant�nio orienta, gentilmente, que h� formas bem mais eficazes de ajudar o cego que est� usufruindo do transporte p�blico, cuja passagem gratuita j� sai do bolso dos demais cidad�os. "A primeira dica � perguntar ao cego se ele quer se sentar. Tento fazer de tudo para mostrar que n�o h� necessidade, que estou bem, mas nem sempre d� certo", explica ele, lembrando que de pouco adianta tentar mostrar ao deficiente visual as cadeiras vagas dizendo “aquela ali” ou “mais pra l�”. O mais indicado seria, por meio de gestos, indicar onde efetivamente ele pode se segurar nos bala�stres ou nos encostos das cadeiras. “Nunca tente ajudar um cego carregando-o para dentro do �nibus. � s� colocar a m�o dele � direita no corrim�o do ve�culo, logo na entrada”, conclui.

J� a cantora Marilane, que j� viajou em turn�s art�sticas pela Europa e Estados Unidos, � mais enf�tica: “Se me perguntarem se eu quero me sentar, nunca vou aceitar. Tenho at� vergonha! Dependendo do caso, quando escuto o barulho de bengalas ou ou�o os outros passageiros protestando de que ningu�m se levantou para algu�m mais velho precisando se sentar, ofere�o meu lugar”. Foi o que, de fato, fez ontem Marilane, que gentilmente cedeu o assento a um colega do S�o Rafael que n�o � cego de nascen�a e ainda est� aprendendo a se guiar no mundo da escurid�o. “Ele ainda n�o est� acostumado � lida di�ria nos �nibus. Eu j� sou cega de carteirinha, tiro de letra!”, brinca.

SAIBA AJUDAR

Confira como auxiliar cegos dentro do �nibus

Para o condutor, em vez de exigir dos outros passageiros que cedam o primeiro lugar, melhor seria que ele orientasse o cego, dizendo que o assento vazio � o terceiro � direita, por exemplo.

Outra ajuda � orientar o cego at� o ponto de apoio mais perto, nos bancos ou no teto, mostrando onde ele pode se apoiar em seguran�a.

O maior desafio � a entrada e a sa�da do �nibus. Em vez de levar o cego pela m�o, empurrar o seu bra�o (tirando dele o equil�brio), o melhor � mostrar a ele que o batente da porta est� � direita dele, mais para cima.

Em vez de dizer “v� mais para l�”, � sempre melhor orientar para que a pessoa v� mais � direita ou � esquerda, lembrando que se trata da m�o do deficiente visual e n�o da sua.

Se vir um cego esperando o �nibus no ponto, diga a ele o n�mero do ve�culo que acabou de chegar. O cobrador tamb�m pode gritar o n�mero, se observar a presen�a de um deficiente no ponto.

O que pensam os cegos sobre prefer�ncia de assento no transporte p�blico?


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