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Estado de Minas

Estrutura ferrovi�ria sucumbe em trechos como o da Zona da Mata

Esqueletos de trilhos e dormentes testemunham o descaso de �rg�os de transporte e patrim�nio


postado em 21/03/2016 06:00 / atualizado em 21/03/2016 08:19

Abandonado por concessionárias e pelo Estado, acervo ferroviário é saqueado e sucateado em São Geraldo(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
Abandonado por concession�rias e pelo Estado, acervo ferrovi�rio � saqueado e sucateado em S�o Geraldo (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
S�o Geraldo – Para vencer os 350 metros de altura da subida desde a Esta��o S�o Geraldo at� a serra, a locomotiva a vapor precisava de uma parada de 40 minutos para ajustes mec�nicos, e outra no meio do caminho, para abastecer a caldeira com a �gua que minava dos morros. A subida pelos trilhos de a�o era lenta. Fazia a m�quina queimar muita lenha, enquanto cuspia fuma�a preta pelas passagens escavadas nos rochedos e nos t�neis em meio � mata atl�ntica. No alto, as recompensas da Esta��o Mirante: leite queimado no copo para as crian�as e uma vis�o vasta dos vales da Zona da Mata. Trens como esse, da Ferrovia Leopoldina, de 1883, tornaram vi�veis as viagens de longa dist�ncia e o transporte de cargas Brasil afora. “Os vag�es iam sempre cheios, com estudantes de Vi�osa, trabalhadores de Juiz de Fora e a gente indo passear no Rio de Janeiro ou em Ub�”, recorda-se a empres�ria Maria Helena do Carmo Lima, de 69 anos, uma das �ltimas a viajar na linha. Mas nem a import�ncia hist�rica para o pa�s, nem o valor cultural s�o suficientes para impedir que ferrovias como essa se deteriorem, por n�o interessarem a concession�rias ou aos �rg�os de defesa do patrim�nio, que assistem passivamente � deteriora��o do acervo, enquanto o pa�s continua a escoar sua produ��o por estradas de rodagem prec�rias e caras.

Aos poucos, a Ferrovia Leopoldina vai sendo apagada da hist�ria por ferrugem e eros�o, em um retrato da situa��o de v�rios trechos que faziam parte dos pacotes de concess�es do governo federal, negociados a partir de 1996. Em 2013, com a Resolu��o 4.131 da Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), come�aram a ser devolvidos por serem “invi�veis economicamente”. Os trilhos passaram para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit); as esta��es e demais estruturas, para o Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), como vem mostrando o Estado de Minas desde a edi��o de ontem. Antiga administradora da Leopoldina, a Ferrovia Centro-Atl�ntica (FCA) � detentora de 7.080 quil�metros de linhas f�rreas e devolveu 742 quil�metros de “trechos antiecon�micos” e 3 mil considerados “economicamente vi�veis, coincidentes com segmentos priorizados pelo Programa de Investimentos em Log�stica”, segundo a resolu��o da ANTT. A ag�ncia cobrou indeniza��o de R$ 700 milh�es pelo abandono de parte do pacote.

Em S�o Geraldo, a esta��o de 1880 est� sendo reformada pela segunda vez, mas o restante dos trilhos de a�o e dos dormentes de madeira de lei foram repassados pela FCA ao Dnit, que n�o cuida de nada. O patrim�nio vem apodrecendo no alto da serra, a uma dist�ncia de quatro quil�metros do terminal. Para chegar at� l�, s� atravessando estradas rurais de terra, entre fazendas e mata fechada, onde os trilhos serpenteiam do alto ao p� da serra.

(foto: arte)
(foto: arte)
Uma das mais impressionantes se��es abandonadas ainda tem estruturas dependuradas a uma altura de 20 metros, sobre uma garganta de 60 metros de comprimento. Esquecida desde 1990, quando o �ltimo trem oficialmente passou por l�, a estrada foi engolida em v�rios pontos por vo�orocas e eros�es que partiram os aterros e as conten��es que a sustentavam. Pelo menos nove trechos de trilhos resistem ao desmoronamento, dependurados no ar.

TRANSPORTE ONEROSO

Abandono que contrasta com os apelos do setor produtivo por mais investimentos em ferrovias, que s�o mais eficientes e seguras que as estradas de rodagem. No Brasil, o transporte ferrovi�rio � o segundo em escoamento de cargas, com 20,7% do volume, enquanto o rodovi�rio responde por 61,1%. Contudo, 57% das rodovias avaliadas em 2015 por pesquisa da Confedera��o Nacional do Transporte (CNT) s�o deficientes e aumentam em at� 25% os custos do transporte. Para deslocar 10 toneladas por 10 quil�metros, caminh�es gastam tr�s vezes mais combust�vel do que locomotivas. “As concession�rias investiram nos trechos que existiam e que eram vi�veis, mas quase n�o ampliaram nada, assim como o Estado tamb�m n�o o fez. Hoje, a estrutura e o investimento ferrovi�rio do Brasil s�o irris�rios”, considera o professor Ant�nio Prata, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes do Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica de Minas (Cefet-MG).

Para o integrante da organiza��o da sociedade civil de interesse p�blico (Oscip) Trem de Minas, Paulo Scheid, essas trocas de posse dos trilhos e a falta de pol�ticas de conserva��o facilitam a deteriora��o do patrim�nio ferrovi�rio. “O assunto se tornou complexo, passando pela administra��o de diversos entes do Estado e os pr�prios �rg�os gestores desconhecem a extens�o desses bens”, afirma. Para ele, a quest�o vai da perda do valor de mem�ria � impossibilidade de aproveitamento econ�mico. “Estamos perdendo um patrim�nio que conta a hist�ria da ocupa��o do nosso pa�s. Pior ainda � o desperd�cio. Se n�o usamos essas estruturas para reativar o transporte ferrovi�rio, pelo menos n�o dever�amos desperdi�ar recursos que j� foram gastos para construir, usando os espa�os como secretarias, unidades de sa�de, bibliotecas, centros culturais”, disse. “� uma covardia os �rg�os que deveriam primar pela prote��o do patrim�nio ferrovi�rio jogarem isso para prefeituras e inciativa privada. Principalmente aquilo que foi abandonado pelas concession�rias. Nunca cuidaram desses trechos e os deixaram deteriorar, para finalmente devolver”, denuncia Ant�nio Prata.


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