
Aos poucos, a Ferrovia Leopoldina vai sendo apagada da hist�ria por ferrugem e eros�o, em um retrato da situa��o de v�rios trechos que faziam parte dos pacotes de concess�es do governo federal, negociados a partir de 1996. Em 2013, com a Resolu��o 4.131 da Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), come�aram a ser devolvidos por serem “invi�veis economicamente”. Os trilhos passaram para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit); as esta��es e demais estruturas, para o Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), como vem mostrando o Estado de Minas desde a edi��o de ontem. Antiga administradora da Leopoldina, a Ferrovia Centro-Atl�ntica (FCA) � detentora de 7.080 quil�metros de linhas f�rreas e devolveu 742 quil�metros de “trechos antiecon�micos” e 3 mil considerados “economicamente vi�veis, coincidentes com segmentos priorizados pelo Programa de Investimentos em Log�stica”, segundo a resolu��o da ANTT. A ag�ncia cobrou indeniza��o de R$ 700 milh�es pelo abandono de parte do pacote.
Em S�o Geraldo, a esta��o de 1880 est� sendo reformada pela segunda vez, mas o restante dos trilhos de a�o e dos dormentes de madeira de lei foram repassados pela FCA ao Dnit, que n�o cuida de nada. O patrim�nio vem apodrecendo no alto da serra, a uma dist�ncia de quatro quil�metros do terminal. Para chegar at� l�, s� atravessando estradas rurais de terra, entre fazendas e mata fechada, onde os trilhos serpenteiam do alto ao p� da serra.

TRANSPORTE ONEROSO
Abandono que contrasta com os apelos do setor produtivo por mais investimentos em ferrovias, que s�o mais eficientes e seguras que as estradas de rodagem. No Brasil, o transporte ferrovi�rio � o segundo em escoamento de cargas, com 20,7% do volume, enquanto o rodovi�rio responde por 61,1%. Contudo, 57% das rodovias avaliadas em 2015 por pesquisa da Confedera��o Nacional do Transporte (CNT) s�o deficientes e aumentam em at� 25% os custos do transporte. Para deslocar 10 toneladas por 10 quil�metros, caminh�es gastam tr�s vezes mais combust�vel do que locomotivas. “As concession�rias investiram nos trechos que existiam e que eram vi�veis, mas quase n�o ampliaram nada, assim como o Estado tamb�m n�o o fez. Hoje, a estrutura e o investimento ferrovi�rio do Brasil s�o irris�rios”, considera o professor Ant�nio Prata, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes do Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica de Minas (Cefet-MG).
Para o integrante da organiza��o da sociedade civil de interesse p�blico (Oscip) Trem de Minas, Paulo Scheid, essas trocas de posse dos trilhos e a falta de pol�ticas de conserva��o facilitam a deteriora��o do patrim�nio ferrovi�rio. “O assunto se tornou complexo, passando pela administra��o de diversos entes do Estado e os pr�prios �rg�os gestores desconhecem a extens�o desses bens”, afirma. Para ele, a quest�o vai da perda do valor de mem�ria � impossibilidade de aproveitamento econ�mico. “Estamos perdendo um patrim�nio que conta a hist�ria da ocupa��o do nosso pa�s. Pior ainda � o desperd�cio. Se n�o usamos essas estruturas para reativar o transporte ferrovi�rio, pelo menos n�o dever�amos desperdi�ar recursos que j� foram gastos para construir, usando os espa�os como secretarias, unidades de sa�de, bibliotecas, centros culturais”, disse. “� uma covardia os �rg�os que deveriam primar pela prote��o do patrim�nio ferrovi�rio jogarem isso para prefeituras e inciativa privada. Principalmente aquilo que foi abandonado pelas concession�rias. Nunca cuidaram desses trechos e os deixaram deteriorar, para finalmente devolver”, denuncia Ant�nio Prata.