
Na �ltima quarta-feira, Pablo Gabriel Galiza, de 19 anos, do 4º per�odo de licenciatura em qu�mica, tentou entrar no c�mpus usando a pe�a de roupa e foi questionado por dois vigilantes da seguran�a da universidade: "Voc� vai subir desse jeito?", perguntou um dos homens a Pablo. O jovem afirma que a saia faz parte do seu estilo e que nunca sofreu com esse tipo de abordagem na universidade.
Segundo Pablo, os seguran�as apresentaram um papel que dizia sobre a proibi��o de trote dentro da universidade, mas o estudante afirmou que n�o era calouro. A Pol�cia Militar foi chamada por um dos funcion�rios, o que tornou a situa��o ainda mais constrangedora, na avalia��o do universit�rio. "Eles me abordaram como se eu fosse um criminoso", disse.
O jovem conta que resolveu ir at� a reitoria, mas, como o reitor n�o estava, passou pela sala da psic�loga e decidiu entrar. "Um dos vigilantes estava me seguindo. Eu estava chorando e s� queria conversar com algu�m naquele momento, para me acalmar, mas ele entrou na sala e n�o permitiu que convers�ssemos." Foi ent�o que ele decidiu registrar o boletim de ocorr�ncia contra os funcion�rios. O registro n�o foi feito, porque os nomes dos vigilantes n�o foram revelados. "Eles esconderam os crach�s e n�o quiseram me falar os nomes", contou.
Pablo classifica a a��o dos seguran�as como homof�bica. "A roupa que eu estava usando poderia mostrar que sou homossexual. O meu jeito de ser, mais afeminado, tamb�m indica minha op��o sexual. Os calouros que se vestem de mulher possuem caracteristicas diferentes", acredita Pablo, que pede que provid�ncias sejam tomadas pela institui��o. "J� usei saia v�rias vezes na universidade, por que agora eles me barraram?", perguntou o jovem que afirma que outros homens adotam o estilo.
Protesto Felipe Fernandes, de 27 anos, professor e militante da Levante Popular da Juventude, foi um dos organizadores da manifesta��o e questiona o despreparo dos seguran�as. "Convocamos a comunidade acad�mica, os integrantes do levante popular da juventude, os representantes do Diret�rio Central dos Estudantes e todos alunos da universidade para fechar a entrada da faculdade para que o reitor nos recebesse." As portas da institui��o foram bloqueadas e, depois, como os pedidos dos alunos n�o foram atendidos, os estudantes marcharam at� a reitoria.
Com a press�o dos estudantes, o reitor Jos� Roberto Scolforo se reuniu com cinco participantes do protesto e um acordo foi fechado. "Inicialmente, eles propuseram que fosse feito um cadastro de quem se veste dessa forma, mas n�o aceitamos. O que acordamos com o reitor foi a abertura sindic�ncia para discutir sobre os excessos praticados pelos vigilantes, al�m da promessa que ser� feito uma assembleia sobre pol�tica de seguran�a" afirma. Outra quest�o discutida foi sobre a forma��o da Comiss�o de Direitos Humanos para tratar da proibi��o ao trote e de outros conflitos relacionados � diversidade sexual na universidade. "Os nosso pr�ximos passos ser�o reuni�es com varias organiza��o, como os coletivos de mulheres, para pressionarmos a reitoria para que as promessas sejam cumpridas" completa.
O Estado de Minas tentou entrar em contato com o reitor, mas ele estava viajando. A institui��o se pronunciou por meio de uma nota, informando que "a abordagem teve a inten��o de orientar o estudante sobre as normas da universidade relativas � proibi��o de a��es constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote." A Dire��o Executiva lamentou o ocorrido e determinou a abertura de processo de sindic�ncia investigativa.
Uma agenda para debater temas como respeito �s diversidades tamb�m foi aceita, assim como a sugest�o dos estudantes sobre o uso da carteirinha estudantil para distinguir veteranos de calouros, suscet�veis ao trote.
Segue a nota completa da UFLA:
"Na quarta-feira (4/5), por volta das 13 horas, um estudante da Universidade Federal de Lavras (UFLA) foi abordado por vigias da Institui��o, por estar trajando saia. A a��o teve como refer�ncia a Resolu��o do Conselho Universit�rio (Cuni) Nº 020, de 29 de abril de 2015, que trata da proibi��o de trote no c�mpus universit�rio.
A abordagem teve a inten��o de orientar o estudante sobre as normas da Universidade relativas � proibi��o de a��es constrangedoras contra estudantes ingressantes, caracterizadas como trote. Isso porque a Universidade vivencia neste momento a recep��o de novos calouros.
A Dire��o Executiva da Universidade refor�a que n�o corrobora com atitudes que evidenciem qualquer forma de opress�o, preconceito ou discrimina��o (racismo, machismo, homofobia, lesbofobia, transfobia entre outros). Tamb�m n�o � pr�tica na Universidade o impedimento ou cerceamento �s liberdades individuais, preceitos fundamentais ao Estado Democr�tico de Direito.
A Dire��o Executiva lamenta o fato ocorrido e, refor�ando sua postura de respeito � diversidade e as diferen�as, determinou a abertura de processo de sindic�ncia investigativa. Vale ressaltar que o processo destina-se a apurar a exist�ncia de irregularidade praticada no servi�o p�blico prevista pela Lei nº 8.112/1990. Aplicam-se � sindic�ncia as disposi��es relativas ao contradit�rio e ao direito � ampla defesa.
Adicionalmente, em reuni�o com o grupo de estudantes mobilizados em torno da causa de 'identidades e express�es de g�nero, sexualidades, diferen�as e diversidades', ficou definida uma agenda para debate aberto sobre temas de interesse da comunidade acad�mica, com a��es continuadas de educa��o e incentivo aos movimentos sociais de respeito �s diversidades. Essa agenda vai contemplar campanhas educativas, audi�ncias p�blicas, apresenta��es e treinamentos.
Quando questionado sobre a forma de aliar a proibi��o ao trote na Universidade e ao mesmo tempo respeitar as diferentes formas de express�o e identidades de g�nero, o reitor da UFLA, professor Jos� Roberto Scolforo, sugeriu que a op��o de vestimenta do estudante poderia ser registrada, como j� foi aprovado na Universidade o uso de nome social. Todavia, acatou prontamente a sugest�o dos estudantes para o uso da carteirinha estudantil para distinguir estudantes veteranos de calouros, esses suscet�veis ao trote. A solu��o proposta � simples e pr�tica, evitando-se interpreta��es enviesadas de preconceito. A equipe de seguran�a da Universidade j� foi orientada a adotar o procedimento, com especial aten��o � livre forma de express�o, incluindo os estudantes ingressantes. Vale ressaltar que a medida ser� complementada com a��es educativas em curto, m�dio e longo prazos.
Ressalta-se, ainda, que o trote continua sendo ato proibido na Universidade, com todas as implica��es contidas na Resolu��o que disp�e sobre o tema."