
Segundo o especialista, h� problemas em todas as fases e eles ocorrem tamb�m na rede particular, mas s�o mais expressivos no SUS. Os principais gargalos s�o no in�cio do processo. “N�o h� no Brasil um programa de rastreamento adequado. � uma quest�o de oportunidade. Quem tem mais consci�ncia procura o posto, insiste. Isso faz com que a quantidade de mulheres tratadas seja baixa em propor��o ao n�mero de casos previstos. Se houver um achado na mamografia, o gargalo seguinte � voltar ao m�dico e conseguir o pedido para a bi�psia”, relata.
Mas o problema ganha dimens�es ainda maiores, segundo Amorim, em rela��o ao c�ncer de mama metast�tico. “A� fica tudo mais dif�cil. O card�pio que o SUS tem para o tratamento desse tipo de c�ncer, seja em caso de recidiva ou quando j� se descobre a doen�a em fase avan�ada, � muito restrito. O SUS tem basicamente quimioterapia para o c�ncer de mama metast�tico. Com isso, a sobrevida dessas pacientes � um ter�o da sobrevida daquelas tratadas na rede privada, que t�m acesso �s medica��es usadas h� mais de 15 anos em todo o mundo, inclusive nos nossos vizinhos na Am�rica Latina”, atesta.
O caso mais emblem�tico � o do trastuzumabe. Segundo Gilberto Amorim, n�o se trata de um medicamento novo. Ele j� � inclusive oferecido no SUS para tratar um tipo espec�fico de c�ncer de mama, aquele com o receptor HER-2 positivo. “Mas o Conitec, �rg�o respons�vel pelo estudo de custo/efic�cia de medicamentos do governo federal, questiona a contribui��o dessa droga para o tratamento. No ano passado, o trastuzumabe entrou numa lista b�sica de medicamentos para oncologia, definida pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). At� os pa�ses mais pobres da �frica usam, menos o Brasil”, lamenta.
No pr�ximo m�s, um estudo do qual Gilberto fez parte, ser� publicado em uma revista cient�fica internacional mostrando que a cada ano 400 brasileiras morrem de c�ncer de mama metast�tico por falta de acesso ao medicamento que est� no mercado h� 15 anos. “O governo podia ter pedido at� transfer�ncia de tecnologia. Sua patente j� caiu, ou seja, a droga j� poderia estar sendo produzida aqui mesmo no Brasil, pelos laborat�rios do governo”, comenta.
A hora de fazer a mamografia
Cinquenta e sete por cento das mulheres ouvidas pela pesquisa suspeitaram do c�ncer de mama com o autoexame, o que acirra a discuss�o sobre a idade ideal para in�cio da mamografia de rotina, m�todo preconizado para rastreamento na aten��o integral � sa�de da mulher. De acordo com as Diretrizes para a Detec��o Precoce do C�ncer de Mama, revisada em 2015, a mamografia de rotina � recomendada para as mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Outro problema � que nem essa faixa et�ria � totalmente coberta.
Segundo M�nica Assis, da Divis�o de Detec��o Precoce e Apoio � Organiza��o da Rede do Instituto Nacional do C�ncer Jos� Alencar Gomes da Silva (Inca), a mamografia nessa faixa et�ria e nessa periodicidade � a mesma adotada na maioria dos pa�ses que implantaram o rastreamento organizado do c�ncer de mama. “A recomenda��o � baseada em evid�ncias cient�ficas do benef�cio dessa estrat�gia na redu��o da mortalidade, mas tamb�m leva em considera��o os riscos da realiza��o frequente e precoce do exame”, pondera.
Das pacientes entrevistadas, por exemplo, apenas 23% suspeitaram da doen�a a partir da mamografia. Dez por cento manifestaram sintomas e 10% tiveram o problema detectado pelo m�dico. Al�m disso, 79% delas j� tinham passado por mamografia antes dessa suspeita. A designer de interiores Rosa Am�lia Paix�o, de 53 anos, sempre teve o h�bito de fazer o autoexame e, assim, percebeu um n�dulo que a preocupou, em novembro de 2014.
“Fui direto ao mastologista. J� sentia que era c�ncer”, relembra. Rosa tinha plano de sa�de, mas esse n�o cobria a quimioterapia, motivo pelo qual fez o tratamento no SUS. Sede do Inca, o Rio de Janeiro hoje garante 73% do atendimento do c�ncer de mama na rede p�blica. Uma �nica unidade cobre quase 70% desses atendimentos. O problema � conseguir hor�rio para as consultas e exames. Rosa, por exemplo, que est� em fase de seguimento da doen�a, ap�s ter terminado a quimioterapia, s� conseguiu vaga para setembro para uma consulta que precisava fazer em junho.
Poucas tamb�m conseguem fazer a reconstru��o mam�ria imediata, como previsto em lei. Segundo o mastologista Ruffo de Freitas J�nior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, apenas 30% das pacientes se beneficiam da cirurgia no mesmo momento em que retiram os tumores. “Faltam mastologistas preparados, mas tamb�m infraestrutura para a cirurgia. Na rede p�blica, temos que optar em fazer duas cirurgias para retirada do tumor ou uma de reconstru��o”, lamenta.