
Governador Valadares – A cor ainda ferruginosa da �gua ao longo do Rio Doce, com 853 quil�metros, fere o cora��o de moradores de Governador Valadares como se fosse a�o de navalha. Mas, ainda maior que a dor � o receio de fam�lias em usar a �gua tratada pelo Servi�o Aut�nomo de �gua e Esgoto (Saae), o que reduziu em 15% o consumo do l�quido fornecido pela autarquia municipal.
O percentual foi apurado pela prefeitura, que comparou per�odo anterior ao estouro da Barragem do Fund�o com outro logo ap�s o rompimento da represa da Samarco. De dezembro de 2015 a mar�o de 2016, a popula��o da maior cidade do Vale do Rio Doce usou 1.003.748 metros c�bicos de �gua tratada. De dezembro de 2014 a mar�o de 2015, a quantidade havia sido de 1.153.206 metros c�bicos.
Mateus se lembra, com peso no cora��o, do dia em que o fornecimento de �gua pela autarquia municipal foi suspenso, logo ap�s a chegada da lama ao trecho do Rio Doce que corta a cidade. Foi em 13 de novembro de 2015. Desde ent�o, a popula��o ficou � merc� da doa��o de �gua, pois o rio � o �nico manancial com capta��o para abastecimento humano.
Naquele m�s, um epis�dio repercutiu internacionalmente. A Vale, uma das controladoras da Samarco (ao lado da anglo-australiana BHP Billiton), enviou 340 mil litros de �gua em vag�es-tanque, de Ipatinga a Governador Valadares, pela ferrovia Vit�ria-Minas. Segundo a popula��o, contudo, os vag�es tinham resqu�cios de querosene, o que contaminou a �gua.
O epis�dio deixou a popula��o indignada. Muita gente foi obrigada a comprar gal�es de 20 litros de �gua mineral, o que fez, na �poca, os pre�os dispararem. Atualmente, uma dessas embalagens custa de R$ 5,99 a R$ 8. Na mercearia de �cio Silva, os gal�es acabam poucos dias depois de entregues pelo fornecedor. “�gua, em Governador Valadares, � como se fosse mina de ouro”, comparou ele, que s� bebe �gua mineral.
No com�rcio de Creuza Louren�o, de 47, os gal�es tamb�m se esgotam rapidamente. “Negocio mais ou menos 80 unidades por semana. � mais que o dobro do que eu vendia antes do desastre em Mariana”, comparou ela, outra moradora que s� consome �gua mineral engarrafada.
REAJUSTE O pecuarista Carlos Luz Marques, de 36, percorre cinco quil�metros para buscar �gua em um posto artesiano. Ele reclama do pre�o do servi�o de �gua e esgoto no munic�pio, que foi reajustado em 10,71% em janeiro, dois meses depois do desastre. “L� em casa s�o quatro pessoas. Usamos oito gal�es (de 20 litros cada), que duram quatro dias. Se fosse comprar, pagaria em torno de R$ 30”, calculou. O percentual reajustado pela prefeitura segue o IPCA-E de 2015, que � a pr�via do �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo, a infla��o oficial do pa�s.