
Houve, por exemplo, pagamento de aluguel de ve�culos pesados fabricados com caracter�sticas para retirar lama e entulhos de vias p�blicas, mas cujas placas no Departamento Nacional de Tr�nsito (Denatran) s�o inexistentes ou registradas em autom�veis de passeio, que n�o t�m compatibilidade para esse tipo de empreitada.
T�cnicos da ex-Controladoria Geral da Uni�o (CGU), atual Minist�rio da Transpar�ncia, Fiscaliza��o e Controle (MTFC), encontraram ind�cios de fraude descrita no t�pico G3 do relat�rio da institui��o, que versa sobre di�rias que somam R$ 44,1 mil, referentes ao aluguel de caminh�es tipo toco.
“Ao analisar as placas constantes dos controles de ve�culos e equipamentos e confront�-las com a base de dados do Denatran, observou-se que cinco deles apresentaram incompatibilidade com as caracter�sticas exigidas na contrata��o. Destas, duas placas n�o possu�am ve�culos vinculados. Para as demais, constavam no cadastro ve�culos que n�o apresentavam caracter�sticas m�nimas para a execu��o dos servi�os que foram contratados, sendo dois de passeio”, informou o relat�rio da ex-CGU.
O relat�rio baseou investiga��es do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), Minist�rio P�blico Federal (MPF) e Pol�cia Federal. Os investigadores conclu�ram que uma das empresas contratadas era um empreendimento de fachada. “N�o tinha sequer sede pr�pria”, informou o promotor Evandro Ventura, que denunciou 36 pessoas, na quarta-feira, por corrup��o em Governador Valadares.
Trata-se da Fejoli Florestais Ltda, cuja investiga��o apurou pagamento indevido por servi�o j� prestado anteriormente. “A bem da verdade, a empresa Fejoli recebeu quase R$ 2 milh�es a mais por um servi�o j� contratado e prestado. N�o houve qualquer acr�scimo ou altera��o no objeto do contrato ou dila��o do per�odo de realiza��o dos trabalhos que pudessem justificar a nova contrata��o”, informou o relat�rio da CGU.
O delegado da PF Cristiano Campidelli, em seu relat�rio, considerou que a contrata��o de uma empresa do ramo florestal para o servi�o de limpeza urbana feriu “os princ�pios da legalidade, moralidade e efici�ncia”. “Uma empresa de fachada, sem funcion�rios ou m�o de obra pr�prios, cujas atividades, at� ent�o, eram absolutamente estranhas ao objeto da contrata��o”.
PADR�O MILION�RIO O desvio do er�rio aumentou o patrim�nio dos cabe�as da organiza��o criminosa. Em telefonemas gravados com autoriza��o da Justi�a, os investigadores descobriram que Omir Quintino, considerado o c�rebro do esquema, tinha sal�rio em torno de R$ 6 mil e levava uma vida com padr�o milion�rio.
“Vilmar Rios (ex-diretor do Saae e indiciado como o tesoureiro da organiza��o) disse que Omir ganha R$ 6 mil por m�s e gasta R$ 100 mil por m�s”, informou o delegado da PF. Em outra grava��o, Vilmar contou a um interlocutor que Jefferson Santos (ex-diretor do Saae e que captava empresas para o esquema) tinha “sal�rio de R$ 1,4 mil, muito embora tenha adquirido um ve�culo Outlander pelo pre�o de R$ 150 mil, com sistema de DVD que custou R$ 10 mil”.
Os tr�s diretores do Saae foram detidos pelos investigadores e exonerados pelo munic�pio. Jefferson estaria disposto a assinar uma dela��o premiada. A prefeitura abriu sindic�ncia para investigar todos os contratos com carimbo de suspeita. Os servi�os tamb�m passam por auditorias do munic�pio.
Na �rea urbana e na rural, sobrou para os moradores resolver os problemas gerados pelas chuvas, como a improvisa��o de ponte sobre o c�rrego Cassianinho para dar passagem � produ��o agropecu�ria.

O desvio da verba federal enviada a Valadares para reparar danos causados pela chuva � a ponta do iceberg da corrup��o na cidade, onde um dos envolvidos foi comparado em relat�rio da for�a-tarefa a um personagem do filme Tropa de Elite 2, de Jos� Padilha. Os investigadores descobriram que os agentes p�blicos que comandaram o esquema praticaram v�rias outras fraudes, algumas envolvendo contratos que, a longo prazo, somam mais de R$ 1 bilh�o.
Na quarta-feira, o Minist�rio P�blico Estadual denunciou 12 vereadores sob acusa��o de receberem um “mensalinho” da empresa de �nibus que det�m o monop�lio do transporte p�blico de passageiros na cidade. Os valores variaram de R$ 2,6 mil a R$ 20 mil, dependendo da influ�ncia do parlamentar.
No relat�rio da Pol�cia Federal, o jornalista e vereador Ricardo Assun��o, que apresentava um programa policial numa emissora local e est� detido sob acusa��o de receber R$ 20 mil em propina, foi comparado a Fortunato, personagem de Tropa de Elite 2. Na fic��o, Fortunato � um jornalista corrupto, que se elege deputado estadual. A Mar de Lama concluiu que a organiza��o criminosa usou a m�dia para promo��o pr�pria.
“Ricardo Assun��o (...) exibiu reportagem onde a prefeita, Elisa Costa (que n�o participa do esquema e n�o � investigada), e Omir Quintino (preso desde abril) beberam a �gua tratada do Saae, oportunidade em que Ricardo, a exemplo de um personagem do filme Tropa de Elite, usou do seu programa para promover politicamente o governo, chegando a dizer: ‘Da torneira, gente... Direto da torneira, �gua tratada. (...) Sa�de meu povo! E para os fofoqueiros de plant�o, os que querem o mal, os que ficam tirando proveito politiqueiro (...)”.
A prefeita e o ent�o diretor-geral do Saae beberam �gua durante o programa do jornalista vereador para mostrar � popula��o que podia confiar no l�quido tratado pela autarquia municipal. Vale lembrar que, quando o programa foi exido, a lama que vazou da Barragem do Fund�o, da Samarco, havia chegado h� poucos dias no trecho do Rio Doce que corta o munic�pio. A reportagem n�o conseguiu contato com o advogado de Ricardo Assun��o.
A HIST�RIA DO DINHEIRO DESVIADO
Data Ocorr�ncia
2013 Chuvas fortes causam alagamento e destrui��o em Valadares
27/12/2013 A presidente Dilma Rousseff, ent�o em exerc�cio, visita a cidade
14/02/2014 A Uni�o, por meio do Minist�rio da Integra��o Nacional, destina R$ 4,7 milh�es ao munic�pio
2014 Empresas s�o contratadas para reparar danos
13 a 15/10/2015 T�cnicos da CGU constatam fraudes no uso do recurso